CRÍTICA | ‘Happy Hour: Verdades e Consequências’

Larissa Bello

Sabe quando alguém fala sobre vários assuntos ao mesmo tempo, de uma maneira superficial e confusa? É essa a sensação que dá quando se assiste à Happy Hour: Verdades e Consequências, essa coprodução Brasil-Argentina, dirigida por Eduardo Albergaria.

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Esta é a primeira ficção do diretor, que apresenta uma sucessão de contextos de uma história completamente sem pé nem cabeça. A história se passa no Rio de Janeiro e apresenta o personagem Horácio, vivido pelo ator argentino Pablo Echarri. É dele o ponto de vista e a narração em off quem permeia todo o filme. Digamos que o prólogo da história é sobre um assaltante que a mídia chama de bandido-aranha, pelo fato dele subir pelas paredes para entrar nos apartamentos e ainda, prender suas vítimas em teias de croché. Talvez a ideia de Albergaria tivesse sido de usar isso como uma metáfora para transcorrer os enlaces e costuras que o roteiro apresenta. Porém, tudo que acontece são diversos nós cegos ao invés de uma teia narrativa coerente.

O tal bandido cai de um dos prédios em cima do carro de Horácio e isso o transforma em um herói perante a mídia e a população. Ele é professor universitário e é casado com Vera, interpretada por Letícia Sabatella, que, infelizmente, não vem fazendo boas escolhas no cinema ultimamente. A personagem dela é deputada estadual, e aí há uma tentativa de inserir um contexto político no filme, que acaba sendo infantil e caricato. É até possível compreender a intenção do roteiro, principalmente quando Vera decide ser candidata à prefeita. O homem do marketing, Chico Diaz, pega emprestado os óculos de grau de uma fotógrafa para colocar no rosto de Vera. Ela diz que não consegue enxergar nada e ele responde que ela não precisa ver nada mesmo, e que o importante é como os outros a veem. Porém, o roteiro não dá conta de suprir todos os elementos que apresenta. A cena da coletiva de imprensa é sofrível e embaraçante de se assistir.

Foto: Imovision / Divulgação

O núcleo central da história, pelo menos o que parece ser, é a proposta de Horácio de ter um casamento aberto com a esposa. Isso porque uma de suas alunas (Aline Jones) flerta descaradamente com ele. Se Happy Hour: Verdades e Consequências se aprofundasse somente nessa questão, talvez pudesse se salvar. E ainda aparecem alguns outros personagens que só servem para aumentar a confusão do roteiro. Outro ator argentino, Luciano Cáceres, fica circulando pela narrativa como se fosse um coringa para preencher os buracos do roteiro. Há ainda a irmã de Vera (Letícia Persiles) que está prestes a se casar com Paulo (Rocco Pitanga), e que parece ser também professor, ou aluno, não fica muito claro, da mesma faculdade onde Horácio trabalha.

Enfim, Happy Hour: Verdades e Consequências termina (ufa!) do mesmo jeito que terminou: com o tal bandido-aranha, escalando as paredes dos prédios. Na narração em off, Horácio reflete sobre tudo que passou e aí o roteiro dá uma sugestão como se o tal bandido não existisse (??). Realmente é muito difícil alcançar o objetivo dessa coprodução, onde nem mesmo o título faz o menor sentido, já que não tem nada que faça alusão ao “happy hour”.

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Título original: Happy Hour
Direção: Eduardo Albergaria
Roteiro: Eduardo Albergaria, Fernando Velasco, Carlos Artur Thiré
Elenco: Letícia Sabatella, Pablo Echarri, Luciano Cáceres, Chico Diaz, Letícia Persiles
Distribuição: Imovision
Data de estreia: qui, 28/03/19
País: Brasil, Argentina
Gênero: comédia dramática
Ano de produção: 2017
Duração: 115 minutos
Classificação: 14 anos

Larissa Bello

Graduada em Rádio & TV. Pós-graduada em Leitura e Produção Textual. Capixaba, residiu por 8 anos no Rio de Janeiro, onde atuou em diversas áreas do audiovisual. Atualmente reside em Fortaleza/CE, onde é afiliada da ACECCINE (Associação Cearense de Críticos de Cinema) e é autora do blog Cine em Foco (https://cineemfoco.blogspot.com/).
NAN