Crítica de Filme | O Regresso [#2]

Cadu Barros

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3 de fevereiro de 2016

O Regresso, que estreia nesta quinta-feira (14/01) é uma aula de direção do mexicano Alejandro G. Iñárritu, que desta vez conta com um dos maiores astros do cinema e um roteiro repleto de tensão. A história baseada em fatos reais mostra a trajetória do explorador Hugh Glass (Leonardo DiCaprio), que ao liderar uma equipe de caçadores e comerciantes de pele no velho oeste americano, é atacado por um urso e deixado para trás pelo traiçoeiro John Fitzgerald (Tom Hardy). Extremamente ferido e fragilizado, Glass parte em busca de vingança em meio ao rigoroso inverno e entrenta os perigos do território selvagem.

Se em “Birdman” Alejandro G. Iñárritu conseguiu a proeza de construir sua narrativa através de somente um plano-sequência (graças a truques de montagem), aqui os cortes são evidentes, mas mesmo assim o diretor explora longos e complexos planos, que impressionam pela engenhosidade e realismo. O mexicano nos coloca o tempo todo próximos do protagonista, seja em uma perseguição a cavalo ou uma fuga por uma correnteza. Em certos momentos somos surpreendidos por gotas de sangue e até mesmo plea transpiração de DiCaprio na lente da câmera.

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A fotografia do gênio Emmanuel Lubezki não utiliza de quaisquer instrumentos de iluminação, aproveitando somente a luz natural dos ambientes, já que o filme se passa totalmente em externas. Isso confere à obra uma textura crua e poética ao mesmo tempo, o que casa completamente com a proposta temática de se confrontar selvageria com espiritualidade.

O elenco é fantastico, a começar pelo excelente DiCaprio, que apresenta uma interpretação visceral e extremamente convincente. Com poucos diálogos o ator consegue exprimir medo, fúria, vulnerabilidade e tristeza. Seu antagonista é vivido também de maneira magistral por Tom Hardy, um grande felizardo por estar em duas das melhores produções de 2015 (se você não se lembra, ele é o Mad Max). Seu Fitzgerald é um sujeito fascinante muito por causa do talento do astro, que faz com que realmente odiemos o personagem. Outro que se destaca é o carismático Domhnall Gleeson, que despontou em “Questão de Tempo” e chamou atenção em “Star Wars – O Despertar da Força” como o general Hux. Aqui ele vive o capitão da tropa, e o único que parece se importar com o destino de Hugh Glass.

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A trilha sonora é repleta de tensão e fúria, e a montagem flui suavemente. O excelente desenho de som nos coloca totalmente imersos ao caos presenciado na tela. Enfim, tudo é orquestrado perfeitamente por Inarritu, que a partir de um roteiro simples mas repleto de simbologias, concebe momentos lindíssimos de delírio do protagonista, enquanto as sequências de ação possuem uma energia incrível, e por muitas vezes nos surpreendemos com tomadas impressionantes. São várias a as cenas memoráveis, e uma delas, envolvendo um animal morto, remete inclusive ao super clássico “O Império Contra-Ataca”.

Portanto, O Regresso é uma obra-prima, e coloca seu diretor de vez no panteão dos grandes nomes do cinema atual. Já DiCaprio esfrega na cara de seus detratores uma interpretação magnífica, e já pode comemorar seu mais que merecido Oscar.

FICHA TÉCNICA:

Título original: The Revenant
Gênero: Aventura
Direção: Alejandro González Iñárritu
Roteiro: Alejandro González Iñárritu, Mark L. Smith
Elenco: Brad Carter, Brendan Fletcher, Dave Burchill, Domhnall Gleeson, Javier Botet, Joshua Burge, Kory Grim, Kristoffer Joner, Leonardo DiCaprio, Lukas Haas, Paul Anderson, Robert Moloney, Tom Hardy, Will Poulter
Produção: Alejandro González Iñárritu, Arnon Milchan, David Kanter, James W. Skotchdopole, Keith Redmon, Mary Parent, Steve Golin
Fotografia: Emmanuel Lubezki
Montador: Stephen Mirrione
Trilha Sonora: Bryce Dessner, Carsten Nicolai, Ryûichi Sakamoto
Duração: 151 min.
Ano: 2015
País: Estados Unidos
Cor: Colorido
Estreia: 04/02/2016 (Brasil)
Distribuidora: Fox Film
Estúdio: Anonymous Content / New Regency Pictures / RatPac Entertainment

Cadu Barros

Cineasta e jornalista, já dirigiu curtas premiados e trabalha há 10 anos em televisão. Cinéfilo desde criança, é fanático por Star Wars, e inclusive já realizou um fan film da saga. Apesar de ter clara preferência por filmes de ficção científica, fantasia e adaptações de quadrinhos, Cadu curte tudo quanto é tipo de filme, desde este seja bem-sucedido em sua proposta narrativa.
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