Crítica de Filme | Homens, Mulheres & Filhos

Bruno Giacobbo

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4 de dezembro de 2014

Quem nunca ouviu sua avó falar que na época dela o jantar era uma hora sagrada, um dos raros momentos em que toda a família podia conversar sobre os fatos do dia, no trabalho ou na escola? Mas aí veio a televisão. As bocas passaram a se abrir com o único intuito de mastigar, ouvidos e olhos passaram a prestar atenção somente na novela das oito ou futebol das quartas. Só que com o mundo em constante evolução tecnológica, era lógico que esta situação podia ficar pior. Vieram os computadores, os celulares de última geração e todos estes aparatos que deveriam unir pessoas de cantos diversos do planeta passaram a afastar quem vive debaixo do mesmo teto.

Jovem cineasta de apenas 37 anos, ligado nas questões que despertam o interesse e a preocupação tanto dos adolescentes, como de seus pais, vide o caso de “Juno” (2007), que fala sobre gravidez precoce e é a pedra angular de uma prolífica filmografia composta por 16 filmes em 16 anos, seja como diretor, roteirista ou produtor, Jason Reitman enxergou no livro Homens, Mulheres & Filhos, do polêmico romancista Chad Kultgen, a chance de levar para os cinemas um longa-metragem homônimo que, entre outras coisas, mostra o resultado e discute os efeitos das mudanças narradas acima.

A história gira em torno de um grupo de pais e filhos. Tim Mooney (Ansel Elgort) é o craque do time de futebol da escola. Abandonado pela mãe, que o deixou com o pai, Kent (Dean Norris), ele não vê graça no esporte e só pensa em disputar partidas onlines do seu jogo favorito. Brandy Beltmeyer (Kaitlyn Dever) é uma garota comum que sofre com a mãe superprotetora, Patricia (Jennifer Garner), que, para protegê-la de estranhos, lê todas as suas mensagens no Facebook e em outras redes sociais. Já a atitude de Joan Clint (Judy Greer) com a filha, Hannah (Olivia Crocicchia), é o oposto. Ela fotografa e publica fotos da menina em um site. O objetivo é torná-la uma celebridade. Há ainda o casal Don (Adam Sandler) e Helen (Rosemarie DeWitt). Entediados com a vida matrimonial, eles buscam através da internet o prazer que não encontram em casa.

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Em comum, no roteiro escrito por Reitman e Erin Cressida Wilson, o fato de todos os personagens se conhecerem e a extrema dependência que sofrem de celulares, tablets e afins. Até mesmo a mãe superprotetora se revela uma profunda conhecedora e dependente de tudo o que a tecnologia moderna nos oferece, claro, com o objetivo de defender a filha dos males provenientes do mundo virtual. As historias são tão envolventes, seus protagonistas e dramas tão críveis, que, ao longo de duas horas, é impossível não se emocionar. As interpretações de Elgort, Dever, Greer e, surpresa, da dupla Sandler-Garner contribuem decisivamente para o ótimo resultado final.

Um dos grandes baratos do filme é remeter o público à sensação de estar olhando diretamente para um computador ou um smartphone. Toda vez que um dos personagens acessa algum site ou rede social, é como se nós estivéssemos navegando na internet. A novela “Geração Brasil” usou este mesmo artifício, mas como houve uma grande rejeição por parte dos telespectadores, seus realizadores abandonaram a ideia no meio do caminho. Em Homens, Mulheres & Filhos, barras de buscas, janelas de conversas e emoticons pipocam na tela durante boa parte do tempo, lá pelas tantas somem e voltam perto do fim. O sumiço é inexplicável e acaba tirando um pouco do charme e prejudicando a dinâmica da obra.

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Apesar de mostrar exclusivamente as relações destes homens e mulheres, todos pertencentes à classe média americana, Homens, Mulheres & Filhos tem alcance universal, pelo menos para sociedades como a nossa, onde o acesso a internet está cada vez mais democratizado. Pode ser visto por toda a família como entretenimento de qualidade, mas também serve como ponto de partida para uma saudável discussão sobre o relacionamento em casa. Claro, sem as neuras da personagem de Garner!

Desliguem os celulares e boa diversão.

BEM NA FITA: A discussão proposta pelo filme. O roteiro, a direção de Reitman. O elenco coeso. As barras de buscas, janelas de conversas e emoticons que pipocam na tela durante boa parte do tempo.

QUEIMOU O FILME: Justamente o fato das barras de buscas, janelas de conversas e emoticons que pipocam na tela sumirem de repente e só reaparecerem no fim do filme.

FICHA TÉCNICA:
Direção, roteiro e produção: Jason Reitman
Corroteirista: Erin Cressida Wilson
Coprodução: Helen Estabrook, Jason Blumenfeld e Michael Beugg
Elenco: Ansel Elgort, Kaitlyn Dever, Jennifer Garner, Judy Greer, Olivia Crocicchia, Dean Norris, Adam Sandler, Rosemarie DeWitt, Dennis Haysbert, J. K. Simmons, David Denman, Jason Douglas, Shane Lynch, Elena Kampouris, Travis Tope, Tina Parker, Will Peltz e Emma Thompson
Montagem: Dana E. Glauberman
Direção de Fotografia: Eric Steelberg
País: Estados Unidos
Ano: 2014
Duração: 119 minutos

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
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