RESENHA | ‘O Diabo Loiro’ não aguça nossos sentidos e imaginação

Anna Cintra

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11 de maio de 2016

“O Diabo Loiro”, romance existencial escrito por Yolanda Jardim, até nos causa certa empatia. Mas está longe de ser uma leitura envolvente e empolgante, daquelas que nos deixam profundamente marcados, como uma boa obra de ficção se propõe a fazer.

Narrado em terceira pessoa, o livro possui 22 capítulos distribuídos por 286 páginas, muitas delas totalmente irrelevantes, e é a mescla de lembranças da infância e adolescência da autora – natural do Rio Grande do Sul – com a trajetória da jovem Rosa Maria: seus anos na Faculdade de Direito de Passo Fundo, seu romance conturbado com o casado Bruno Splendore, sua dependência a essa paixão e a posterior busca por liberdade e individualidade.

Yolanda Jardim até começa bem, descrevendo os predicados de Bruno e o comparando a Mefistófeles, personagem satânico da Idade Média que capturava almas puras e inocentes através da sedução. Mas, infelizmente, é uma das poucas passagens que esclarece ao leitor sobre o terreno psicológico em que a história acontece. Salvo os últimos capítulos, quando há a tomada de consciência final de Rosa Maria, não vemos ao longo do texto sinais do seu amadurecimento, a medida que vai experimentando novas vivências e suprimindo obstáculos e distrações. Acompanhamos a passagem do tempo, bem como o quanto a paixão cega por Bruno pode lhe ser tóxica, mas não somos íntimos de suas reflexões.

7867e360301f41066d4a4839ccd04119A exemplo de outros livros internacionais do gênero, como “Sob o Sol da Toscana” e “Comer Rezar Amar”, em “O Diabo Loiro”, a autora também condecora a história pela busca da personagem por autoconhecimento e recomeços com inúmeras paisagens e cenários: São Paulo, Montevideu, Punta del Leste, Porto Alegre, colônias italianas e alemães no interior do Rio Grande do Sul… Mas peca por não inseri-las de forma que aguce nossos sentidos e imaginação.Talvez tenha faltado metáforas; ou sinestesia. Assim como faz referências aos momentos históricos ocorridos nos anos sessenta (época da trama), que aparecem por vezes de forma didática e burocrática.

Acredito que Yolanda Jardim tenha tido uma vida riquíssima em aprendizados e momentos de alegria. Hoje ela é mãe de três, professora universitária com doutorado e possui outros livros publicados. E é notório que tenha emprestado algumas de suas características e vitórias à personagem Rosa Maria: ambas vieram do interior, cursaram direito e jornalismo, eram românticas ao ponto de reservarem o nome Larissa (mocinha do livro Dr. Jivago) para a primeira filha, foram desbravadoras e sonhadoras… E essa poderia ter sido sua carta na manga: falar de algo ou alguém que tão bem conhece. Mas, não foi.

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Anna Cintra

Estudante de Psicologia há dois semestres, metida à mochileira há alguns anos e interessada em Fotografia desde sempre! Tem mania de sair com o cabelo molhado, de tomar mate gelado e de Ricardo Darin. É de Niterói, mora em Maricá e diariamente atravessa a Guanabara para trabalhar. Tá sempre saudosa de Porto Alegre, do Guaíba e do Quintana. Adora lugares com farol, mar e Iemanjá. E jura que viu Deus no último grande show que assistiu: ele estava no palco,usava uma bata, óculos escuros,cantava e tocava piano como ninguém! Pera! Esse era o Stevie Wonder...!
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