‘A Garota na Fita’ tem grande sensibilidade para abordar os difíceis temas da série

Com coragem para abordar temas fortes e pesados, A Garota na Fita (La chica de nieve), série recente da Netflix, é um suspense policial baseado na ótima obra literária de Javier Castillo, lotado de escolhas certas que vão desde Milena Smit entregando toda sua dor à personagem principal, Miren, até o ninho de rato envolvendo pedofilia e redes de estupro na cidade de Málaga.

Na trama, durante uma Festa de Reis Magos, no dia 5 de janeiro de 2010, uma garotinha de cinco anos é raptada. A pequena Amaya se solta de seu pai quando ele está debatendo sobre o preço de um balão e todo o primeiro episódio, bem como a série inteira, gira em torno de seu sequestro. Do outro lado da cidade, conhecemos Miren, uma estagiária do jornal Sur que sofreu recentemente um trauma e ainda está lidando com ele, mas que, corajosamente, decide começar a investigar o desaparecimento da criança, se envolvendo cada vez mais com o caso.

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Série pesada

Ao dizer que A Garota da Fita é uma série pesada, não estamos falando apenas sobre como são angustiantes as primeiras cenas, quando já antevemos que Amaya vai se separar de seus pais; ou ainda os flashbacks que Miren tem do momento devastador em que, drogada, foi estuprada em uma praia de Málaga. O seriado é pesado porque aborda como o sexo feminino é fetichizado desde sempre e a polícia tem mãos atadas contra os poderosos que bancam esse tipo de crime.

Durante o decorrer da série, inclusive, determinado personagem que se torna suspeito afirma isso: “O crime existe, o pecado existe, e vão continuar existindo porque as pessoas são assim”. Lutar contra esse tipo de pensamento se torna o projeto pessoal da vida de Miren e, seis anos depois, quando um vídeo de Amaya já pré-adolescente chega às suas mãos de modo misterioso, o caso pode ganhar novamente os holofotes.

Além do sequestro

Muito bem dirigida por David Ulloa e Laura Alvea, A Garota na Fita conta em seis episódios o desdobramento do sequestro, mas não se prende a isso. A série envolve subtramas no enredo principal: além do estupro de Miren nunca solucionado, um dos suspeitos acaba desencadeando a descoberta de uma rede de pedofilia financiada por homens poderosos que envolve, inclusive, outro menor de idade.

O trabalho de construção dos personagens também merece um elogio. Por trás de Miren sentimos toda a sua dificuldade em voltar a confiar nas pessoas, seu desespero interno em cada situação em que precisa lidar em um ambiente fechado com um homem, sua dor jamais curada. Aixa Villagrán também está ótima como a inspetora do caso que, mesmo depois de 12 anos, quando uma nova fita de Amaya, já uma adolescente, é enviada, ainda não tem respostas aos pais da menina e não tem sequer um suspeito em mente.

Série A Garota na Fita terá segunda temporada?

Construir uma trama com assuntos assim poderia gerar uma série difícil de ser assistida. Todavia, A Garota na Fita é o oposto. Apesar dos gatilhos que estão ali de estupro, pedofilia e até suicídio, o seriado consegue ter sensibilidade para abordar cada um deles e ainda dar força à narrativa, fazendo com que cada episódio de 45 minutos passe sem que você se dê conta.

Ao chegarmos ao desfecho, a história de Amaya se completa e ainda deixa um excelente gancho aberto para que a gente fique na expectativa de uma possível segunda temporada, trazendo mais da jornalista investigativa que aprendemos a admirar.