‘A menina da montanha’ relata o potencial revolucionário da educação

Aline Khouri

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17 de novembro de 2018

A norte-americana Tara Westover pisou em uma sala de aula pela primeira vez apenas aos 17 anos. Atualmente com 32 anos, ela foi pesquisadora na Universidade de Harvard e conquistou o doutorado em História, em Cambridge. O conjunto destes fatos já torna a história de vida de Tara impressionante, mas, mais incríveis ainda são os caminhos que ela percorreu para chegar até onde está hoje.  São esses detalhes que ela conta em sua autobiografia chamada A menina da montanha, publicada pela Rocco.
Tara cresceu em uma montanha em Idaho e é a caçula de sete irmãos.  Seu pai era um mórmon fanático e isso gera consequências sérias para toda a família que influenciam desde uma série de ações cotidianas até ocorrências muito mais graves que requerem tratamentos médicos que nunca são realizados. Apesar de o livro não ser sobre a religião, a vida dos Westover não pode ser dissociada deste aspecto.  A família vivia estocando conservas de comida com o objetivo de se preparar para o fim do mundo e, para o pai, as reservas nunca eram suficientes. Eles viviam isolados, os filhos não eram levados ao médico porque naquele ambiente não se acreditava na medicina convencional.  Percebem-se melhor os desdobramentos disso quando ocorrem acidentes graves relatados por Tara.
Se essa descrição caracteriza um universo inimaginável para a maioria dos leitores, existe também outra questão extremamente problemática que é a constante violência doméstica que atinge graus cada vez mais profundos. A autora era constantemente abusada emocionalmente e fisicamente pelo irmão Shawn, que a acusava de não se portar da maneira que ele julgava ser adequada. Os motivos eram mínimos e podiam variar desde peças de roupa que ele acreditava serem vulgares até encontros amorosos que a irmã tinha. Desde a adolescência, Tara observava que ela não era a única vítima e, posteriormente, descobre detalhes sobre as agressões praticadas por Shawn contra suas parceiras.
Ao recordar destes episódios de abuso, a autora tece reflexões sobre o papel de seus pais nesse cenário. Conforme escreve, nota que Shawn se aproveitava da ausência dos homens da casa para atacá-la e que sua mãe resignava-se a uma postura silenciosa e a favor do próprio filho, minimizando a ameaça que ele representava. Não deixa de ser desolador perceber como aquele ambiente propiciava as ferramentas necessárias para a perpetuação da violência. Neste ciclo do abuso, Tara chega até mesmo a ser ameaçada de morte pelo irmão quando ousa efetivamente denunciá-los aos pais. Infelizmente, os pais vivem em um grau tão alto de negação que se voltam contra a própria filha e a conivência deles com a situação gera um preço alto para a família.
É inspirador ler a história de uma jovem que cresceu nesse ambiente e teve a vida completamente alterada pela educação. Ela recebeu apoio de professores que enxergaram seu potencial e sempre buscou seguir as trilhas do conhecimento que lhe fora negado no mundo obscuro em que vivia. Ao entrar em contato com a educação formal, Tara não aprendeu apenas meros fatos ou álgebra, mas novas perspectivas de enxergar o mundo e viver nele. Sua vida isolada na montanha abriu-se para uma vasta gama de espectros que a transformaram completamente graças à busca pelo aprendizado.
Ficha técnica
Título: A menina da montanha
Autora: Tara Westover
Editora: Rocco
Ano: 2018

Aline Khouri

Jornalista, com especialização em Cultura. Adora ler e escrever sobre pessoas e assuntos culturais, especialmente Literatura, Cinema e Teatro.
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