Apenas continue

Ana Carolina Garcia

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18 de maio de 2016

O tempo passa, as coisas mudam, as dores de antes já não doem com a mesma intensidade de ontem. Porém, quando que o peso de tudo que a gente perde, das coisas que deixamos pelo caminho, dos amores inacabados, das paixões não correspondidas, das pessoas que amamos que se vão para sempre pesam demais na balança ao ponto de nos abater?
Viver dói pra caramba, é pular de bungee jump sem corda, é escrever sem borracha, é muitas vezes cair de cara, se arrebentar todo, levantar, sacudir a poeira, fazer um inventário das perdas, dos ganhos e continuar.
Sim, continuar. A vida pede isso da gente o tempo todo, por mais que a gente se sinta derrotado, sem esperança, temos que seguir. Nem que seja em passos vacilantes, de bebê mesmo, mas temos que arrumar um jeito de continuar caminhando, continuar respirando até que um dia aquela dor que nos incomoda, que nos come vivos, não machuque tanto aqui dentro.
E sim, esse dia chega. Chega um momento que respirar não incomoda tanto, que nós voltamos a rir e ver graça nas coisas, a gargalhar até ficar sem ar. Mas, enquanto isso, a gente tem que seguir acreditando, estar no controle da situação, mesmo que tudo pareça de pernas pro ar, aleatório e não pareça fazer nenhum sentido. Se tivermos um colete salva-vidas, conseguimos ir seguindo devagarinho.
E o que é esse colete salva vidas? Pra cada um é diferente, pode ser a família, os amigos, a pessoa que a gente ama ou o trabalho que não conseguimos viver sem. Tudo o que é minimamente significativo pra gente, nossa motivação, nossa bússola, nosso norte.
Tudo o que a gente ama, nos fortalece e nos dá o combustível necessário, o equilíbrio entre esperança e medo pra poder seguir. Mas, por incrível que pareça, também é o nosso calcanhar de Aquiles, porque simplesmente não suportamos a ideia de viver sem, são nossas kriptonitas, o que mais amamos.
E quando alguém que amamos se vai para sempre, uma parte nossa morre também, tudo aquilo que fomos com aquela pessoa, se vai também, uma fração muito fundamental do que somos. A perda de um ente querido é a perda de nós mesmos, daquilo que um dia fomos, da vida que tocamos e de tudo aquilo que ela representava pra gente.
Quando um amor chega ao fim, apesar de termos investido cada fibra, cada parte nossa pra dar certo, mas não deu, sofremos, às vezes, nos desesperamos. Pensamos que não conseguiremos aguentar, lidar com essa dor, seguir adiante.  Mas inevitavelmente, seguimos também.
Mas não sem marcas, morremos um pouco também quando um amor morre, quando somos deixados no auge do nosso afeto ou quando deixamos também. Porque nada é fácil ou não deixa marcas quando falamos de amor, de corações partidos, planos, sonhos, vidas em comum que são de uma hora pra outra, separadas.
Quando nos apaixonamos e entregamos todo o nosso coração, quando desejamos alguém tão intensamente e finalmente nos declaramos para de repente, não sermos correspondidos, é algo completamente devastador. Quando sentimos, no fundo da nossa alma que aquela pessoa é a certa, que é quem estamos destinados a ficar e ela não se sente da mesma forma. É algo que nos derruba, pois não conseguimos lidar bem com a rejeição ou ideia de perda.
A verdade é que a vida nos confronta, nos desafia o tempo todo. Não existe receita ou manual de como viver, de como fazer as coisas da melhor maneira possível ou como não cometer erros. Só temos que contar e acreditar na nossa intuição, no nosso senso crítico e simplesmente seguirmos adiante, um passo de cada vez.
 

Ana Carolina Garcia

Penso melhor com a caneta em punhos cintilando no papel ou com meus dedos tocando nos teclados a espera da escrita que desabrocha. Adoro os livros da Martha Medeiros acompanhados de um bom café e uma boa música para começar os domingos. Cinéfila por opção tenho Almodóvar, Tarantino e Woody Allen no meu altar particular. Escrevo no blog A Razão de Toda a Pressa e o site Engramas.

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