Oceania lança o incrível álbum Dark Matter

Guilherme Farizeli

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11 de dezembro de 2020

Antes de tudo, quando a gente pensou que não dava mais para salvar 2020, fomos surpreendidos. A banda Oceania lança hoje (11) o seu mais novo trabalho intitulado Dark Matter. E ele está incrível! É, disparado, um dos melhores álbuns do ano.

As oito faixas revelam a banda mais pesada e mais madura do que no primeiro trabalho do trio mineiro, o também incrível Beneath the Surface, lançado em 2017. Nesse sentido, Dark Matter foi produzido pelo grupo junto com Marcelo Mercedo.

A saber, o Oceania é formado por Gustavo Drummond (guitarra e vocais), Daniel Debarry (baixo) e Tulio Braga (bateria). Gustavo tem uma longa história na música. Ele apareceu no cenário tocando no Rock in Rio 3, em 2001, com o Diesel. Eu estava nesse show e foi ali que me apaixonei por seu trabalho. O Diesel rapidamente assinou contrato com uma gravadora gringa e foi morar no Estados Unidos. Em seguida, mudaram o nome para Udora, fizeram turnê com Jerry Cantrell (guitarrista do Alice in Chains), lançaram o álbum Liberty Square e viveram por mais de cinco anos. Posteriormente, na volta ao Brasil, mais dois lançamentos em português antes do fim da banda.

Alguns anos depois, Gustavo reapareceu em grande estilo com o Oceania e o resto é história. Portanto, batemos um papo muito legal com ele sobre o novo trabalho de banda.

CONFIRA!

Fala, Gustavo! Obrigado por conversar com o ULTRAVERSO! Você já tocou no Rock in Rio, teve contrato assinado com grandes gravadoras, fez turnê pelos Estados Unidos, trabalhou com grandes produtores. Se você pudesse, o que diria para o Gustavo menino, na casa da vó lá em Itabira, aprendendo a tocar o violão?

Olá Guilherme, tudo bem? Obrigado pela oportunidade junto ao Ultraverso. Eu diria “faça o que der na sua telha, nunca deixando de acreditar no seu potencial”, nada mais do que isso.

Em todos os seus projetos até aqui você se notabiliza por compor arranjos sempre a serviço da canção. Em muitas delas, como “Far”, “Wake Up Dead Man”, “Someday” ou “Ammunition”, aquele arrepio já chega no pré-refrão. De onde surgiu esse seu estilo de composição?

Acredito que é um somatório de fatores, que vão desde as influências, internalização de experiências de vida e uma intuição interna que aponta para uma determinada direção no campo harmônico-melódico, visando à materialização da música da forma como eu desejo ouvi-la.

Durante o processo criativo, eu vou encadeando os acordes, colocando uma linha vocal por cima, pelo método de tentativa e erro mesmo e vou experimentando até soar bem aos meus ouvidos. Quando isso acontece, eu sinto que o esboço está pronto e já é hora de levar para o ensaio para a criação de arranjos ao redor dessa semente musical. Durante esse processo inicial, alguns padrões vão se estabelecendo. Creio que uma assinatura própria vai se desenhando. Não componho músicas para soar como a banda A ou B. É questão de obedecer e seguir o caminho que a intuição vai ditando.

Com o tempo (já faço isso há 30 anos), essa habilidade de perseguir o som que está dentro da cabeça e desenvolver as ideias com mais precisão na guitarra ou no violão vai se tornado mais fluida, embora as canções realmente especiais parecem vir de um lugar mental desconhecido, a ponto de parecerem psicografadas. Um pouco difícil explicar esse processo com exatidão, porque é muito intuitivo e imprevisível também.

O novo disco do Oceania, Dark Matter, chegou hoje nas plataformas digitais. Quais são as principais diferenças que você enxerga entre ele e seu antecessor, Beneath the Surface?

O Dark Matter reflete uma tendência de maior peso do Oceania, com canções com tonalidades mais obscuras e densas, daí inclusive o nome do álbum. As novas canções me parecem mais assertivas em seus conceitos líricos também, sob um conjunto mais coeso e incisivo. Ainda vejo o Beneath The Surface como um grande álbum, que reflete a estreia da banda, com uma proposta de assinatura musical própria.

O Dark Matter, no meu sentir, representa um passo adiante na jornada, com uma maturidade mais consolidada, além de trazer propostas mais desafiadoras, como é possível ver na canção “Into The Sun”, com proposta progressiva, jeitão épico, com duração que beira os oito minutos. No meu modo de ver, é o nosso melhor trabalho até agora.

Como funciona o processo de composição da Oceania?

Geralmente, eu trago para os ensaios as canções mais ou menos delineadas do ponto de vista harmônico e melódico e vamos trabalhando como banda em cima desse embrião, criando arranjos juntos, com sugestões e discussões havidas entre todos. A partir disso, as canções que realmente concretizam seu potencial de forma surpreendente, entram para o grupo das “titulares”. As demais, vão para o grupo das “reservas”.

Foi nesta linha de raciocínio que fizemos mais de 60 canções para o Dark Matter e as que entraram no álbum foram as melhores, que geravam concordância entre os três da banda, de forma unânime, sem apego, favoritismo ou necessidade de argumentação. Ou seja, as que geraram arrebatamento imediato entre nós, ficavam. As que eram mais ou menos, eram retiradas e eu voltava à “mesa de projetos” até conseguir trazer novas ideias que cumprissem esses requisitos.

O fato de vocês três estarem mais acostumados a tocar juntos fez alguma diferença significativa neste processo ou ele se manteve o mesmo em relação ao primeiro álbum?

Diferença enorme. O entrosamento atual fez com que os arranjos sugeridos fossem mais ousados, gerando maior autenticidade e sinergia. Tulio claramente estava mais à vontade na bateria, propondo linhas que fogem do tradicional. Da mesma forma, Debarry apresentou linhas de baixo bastante inspiradas e eu fui muito desafiado pelos demais a trazer composições que fossem realmente distintivas e impactantes.

Então, de fato, a régua de exigência subiu muito e isso foi determinante para o resultado do álbum.

A fase do Udora com canções em português foi muito interessante. Vocês tiveram música tocando na Malhação e contrato assinado com a Som Livre. Mas, depois dessa fase, você chegou a parar com a música e voltou seu olhar para a vida pessoal. Conta pra gente como se deu essa decisão.

Essa época do Udora em português foi a época de maior “sucesso” (na acepção tradicional da palavra) em minha carreira. Mas eu estava interessado em desenvolver também uma carreira acadêmica, até mesmo para diminuir minha dependência da música, do ponto de vista da sobrevivência. Então, acabei me afastando da música enquanto “business”, me formei em Direito, me casei, tive uma filha e comecei a atuar na área de construção e reforma de imóveis. Posteriormente, passei em um concurso na área jurídica e isso de certa forma me permitiu voltar para a música, neste novo contexto, de não mais depender dela para sobreviver.

Acredito que isso trouxe vários efeitos positivos, libertando minha criatividade, para compor exatamente da forma como desejo, sem qualquer preocupação ou planejamento artístico do ponto de vista do que “dá certo” ou do que “não dá certo” no mercado.

O Oceania foi montado sob esta perspectiva e acredito que meus esforços artísticos têm tido bem mais pureza dessa forma, atendendo à intuição artística em primeiro lugar. O verdadeiro sucesso, na minha visão, está aí, em produzir uma obra artisticamente relevante, de acordo com os princípios e desejos da banda. Hoje, nossas energias estão voltadas para compor, arranjar e gravar o som que nós gostaríamos de escutar e nada mais.

A música nunca morreu dentro de mim, mas entendo que não depender dela para sobreviver renovou a pureza da minha relação. Pretendo seguir em frente dessa forma, produzindo sempre conteúdos interessantes, com a máxima expressividade artística que sou capaz de gerar.

Você ainda tem algum grande objetivo com a música como, por exemplo, assinar novamente com uma grande gravadora ou voltar a excursionar pelo exterior?

Estou aberto para qualquer possibilidade, mas minha expectativa pessoal, incluindo planejamento e dedicação de tempo quanto a isso é zero. Em outras palavras, se uma situação dessas vier até mim, ótimo, vamos sentar e conversar, mas não faço das tripas coração por esse tipo de objetivo mais. Estou bem feliz com a configuração atual e isso me basta.

Como você enxerga o papel do Rock no mundo atualmente? Ainda é um elemento de transgressão ou, sociologicamente falando, isso nem é mais possível?

Entendo que hoje em dia, o Rock é apenas uma vertente musical e artística que traz satisfação para quem gosta de ouvir seus elementos clássicos: uma guitarra com um overdrive legal, baixo e bateria bem postados, com uma letra que chame a atenção, o carisma da banda e, sobretudo, uma boa canção. Não há nada de errado com isso.

Porém, sob uma perspectiva sociológica, entendo que outras formas de música passaram a cumprir esse papel de transgressão e expressão de rebeldia de forma mais efetiva (como o funk e o hip-hop), até porque tocar Rock é um hobby caro, que demanda instrumentos e “setups” minimamente razoáveis.

A meu ver, nos dias atuais, a pior forma de opressão é a desigualdade social. Pretender transgredir e se rebelar contra esse establishment fazendo Rock com Gibson, Fender, Marshall, Tama, Ampeg e outras marcas integrantes do próprio establishment é um contrassenso.

Debarry, Gustavo e Tulio (Oceania/Divulgação)

E no Brasil? Você acha ruim que bandas de rock mais pesado fiquem mais restritas ao underground ou esse é o caminho para que mantenham sua liberdade criativa?

Não faço juízo de valor quanto a isso. Na minha visão, as bandas devem se comportar e conduzir suas carreiras da forma como desejarem. O mercado tem lá sua lógica e suas preferências. Óbvio que “fazer sucesso” é bom por um lado, mas também gera uma série de amarras e expectativas. Não há caminho certo ou errado. Há tão somente as decisões que cada banda toma e as consequências advindas dessas decisões.

Eu, particularmente, estou interessado em ouvir artistas mais ousados do ponto de vista criativo. Isso nem sempre (ou quase nunca) é bem recebido pelo mercado. Se a banda faz “sucesso” (novamente, na conceituação tradicional da palavra) ou não, importa pouco para mim como apreciador de arte. Quero somente curtir as canções, os conceitos criados e as propostas sonoras, independentemente do status mercadológico.

Houve um tempo em que o mercado recebia melhor os artistas mais arrojados, que pensam “fora da caixinha”, vide Black Sabbath e Led Zeppelin nos anos 70, U2 e The Police nos anos 80, Soundgarden e Alice in Chains nos anos 90 etc, mas, ainda que hoje não seja exatamente assim, eu entendo que há uma infinidade de artistas que continuam produzindo músicas singulares, ainda que não mais sob o holofote da grande mídia, vide Jason Falkner, King Buffalo, Ryan Adams, Tim Bernardes, dentre outros. É nesse tipo de artista que estarei sempre interessado.

Conheça o trabalho do Oceania

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Então você é artista e acha que não tem muito espaço? Fique à vontade para divulgar seu trabalho na coluna Contra Corrente do ULTRAVERSO! Não fazemos qualquer distinção de gênero, apenas que a música seja boa e feita com paixão!

Além disso, claro, o (a) cantor(a) ou a banda precisa ter algo gravado com uma qualidade razoável. Afinal, só assim conseguiremos divulgar o seu trabalho.

Enfim, sem mais delongas, entre em contato pelo e-mail guilherme@ultraverso.com.br! Aquele abraço!

Guilherme Farizeli

Músico há mais de mil vidas. Profissional de Marketing apaixonado por cinema, séries, quadrinhos e futebol. Bijú lover. Um amante incondicional da arte, que acredita que ela deve ser sempre inclusiva, democrática e representativa. Remember, kids: vida sem arte, não é NADA!
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