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BBB 23: ‘Senta que lá vem história’
Lohan Lage Pignone
|30 de janeiro de 2023
Há três anos eu tive o prazer de escrever para o site ULTRAVERSO uma coluna especialmente dedicada ao “BBB 20”. Me lembro de ter recebido alguns comentários controversos, de pessoas que acompanham meus textos (geralmente dedicados ao cinema, música e/ou literatura).
Virou tradição, tal como colocar uva passa na maionese em festa de Natal, ou postar aquela fala do Morgan Freeman no dia da Consciência Negra, dizer que “é melhor ler um livro a ter que assistir ao BBB”. Que é perda de tempo. Que BBB é programa pra gente burra. Entre outros rótulos mais batidos do que piada de tiozão do pavê.
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Quem nunca deu aquela espiadinha?
Eu, obviamente, não me importo com esse tipo de preconceito, até porque, no fundo, eu sei que é enrustido. Quem nunca deu aquela espiadinha? Nem que fosse pra admirar os típicos corpos sarados do “BBB” (ou os dentes “lenteados” dessa edição). Nem que fosse pra dar hate em alguém ou um pitaco aleatório sobre uma discussão sobre bolo de chocolate. Quem nunca cedeu ao doce escapismo que é um reality show?
No mais, não curto qualquer tipo de restrição, sobretudo no campo audiovisual. “BBB” é um produto audiovisual e roteirizado, diga-se de passagem. Puro entretenimento e que, vez ou outra, suscita debates relevantes na esfera social.
Não abri mão do meu livro que, aliás, no momento, é o ótimo “A Última Madrugada”, do J.P Cuenca, que aqui reúne crônicas que publicou de 2003 a 2010 em jornais cariocas. Não abri mão dos meus filmes e séries.
E quando digo meus me refiro à minha watchlist que pouco a pouco vai sendo reduzida. O mais recente que assisti foi “The Fabelmans”, um dos mais bonitos filmes do Spielberg. E muito menos deixei de escanteio as minhas músicas e podcasts! A propósito, super recomendo o álbum da novela “Todas as Flores” (Globoplay). Tem no Spotify. Ah, e a novela, claro. Ela deu um stop temporário e só volta depois do… “BBB”! Quem ainda não começou a assistir, aproveita esse hiato e coloque-se em dia com a trama cabulosa do João Emanuel Carneiro.
Boas novidades
Tudo se alinha, se intercala, se amalgama. Cada edição do “BBB” é uma Caixa de Pandora. Desse objeto, espera-se que saiam todas as desgraças mundanas. Mas sempre há aquele 1% vagabundo de magnetismo que nos prende e nos torna seres insaciáveis pelo show comandado pelo icônico Little Boni. Nesta primeira semana, Boninho trouxe, para o BBB 23, um punhado de novidades. Boas novidades, vale frisar.
Como, por exemplo, o “poder coringa” (adquirido pelos lances das estalecas), a “mensagem do eliminado” (que já representou uma interferência no jogo) e talvez o acréscimo mais polêmico: os cards especiais para o líder. Cards que permitem, dentre outras coisas, observar a casa e ouvir nitidamente as falas dos concorrentes.
Poder ao líder
Entre as novidades do BBB 23, esse “poder” dado ao líder foi muito criticado nas redes por pessoas que, naturalmente, julgaram que o jogo seria prejudicado. A justificativa seria o fato de os participantes se conterem mais nas combinações, uma vez que teriam medo de serem “espionados” pelo líder. A princípio, essa colocação faria sentido; no entanto, eu, particularmente, achei desde o começo que essa novidade era bem-vinda ao game.
Isso exigirá mais criatividade e artimanha dos participantes para colocar suas estratégias em jogo sem que sejam observados. Basta analisar o timing do líder. Ou quem sabe coloca-lo no Monstro e assim bagunçar todos os planos dele? Há uma série de meios a serem usados para se livrar dessa grande arma do líder.
Destaques e novidades da primeira semana de BBB 23
Nessa primeira semana e meia de BBB 23, na minha visão, há dois grandes destaques entre as novidades:
1) O “toque” dado pelo apresentador Tadeu Schmidt ao participante Gabriel Fop sobre sua conduta, digamos, agressiva com a até então ficante-camarote Bruna Griphao (não se lê Griphão, tá, gente. É “ao” mesmo).
2) O quarto secreto, a eliminação de Marília sangue de Maria Bonita e o retorno do Dr. Fred Nicácio. Esses dois acontecimentos se complementam em força. Foi certo o Tadeu ter “hablado” ao vivo com o Gabriel e interferindo diretamente no jogo? De cara eu achei inadequado sob a ótica do jogo.
Mas pensando bem, há coisas que não devemos deixar passar. Há erros que não devem ser cometidos novamente. A omissão poderia render mais desgastes à Globo. Gabriel foi exposto com justiça, OK. E quanto ao seu jogo agora? Será mesmo que ele sairá chamuscado disso tudo? Tenho lá minhas dúvidas. Acredito que possa haver um efeito reverso e ele ainda se sair como a vítima da narrativa. Eis a minha preocupação.
Dr Fred Nicácio
Ainda bem que temos, como contrapartida a essa hipótese, a figura mais controversa de toda a história do Big Brother Brasil: Dr. Fred! O cara já feriu trocentos direitos humanos com sua língua de chicote. E ao mesmo tempo consegue ser sensato em vários momentos. Soberbo, humilde, sensato, paranoico, verdadeiro, mentiroso. Os extremos se conjugam naquele olhar esbugalhado que quase engole seu interlocutor e são verbalizados em suas falas que de tão genéricas parecem tratados filosóficos dignos de uma premiação.
Fred contrapõe diretamente a figura de Gabriel, pois é o que por mais vezes o encara, o expõe. Fred tenta desmantelar toda e qualquer tentativa de redenção de Gabriel. Ele sabe que esse ex-ficante da Anitta e aspirante a Felipe Prior pode reverter o quadro a seu favor. Se depender do Dr., as enfermeiras, ops, o Gabriel que se cuide.
Potenciais jogadores do BBB 23
Correndo por fora, percebo nomes como os da esperta e braba Tina (miss angolana), o malandro ex da Boca Rosa, Fred (do canal Desimpedidos); e a ex-vendedora de bíblias Larissa (hoje professora de Ed. Física). Eles têm, até agora, o ponto certo de quem joga sem se queimar. Sem extrapolar. Sabem se impor. E estão longe de ser plantas. Percebo potencial na trajetória desses três.
Mas ainda há muita água pra correr sob essa ponte. Novas vítimas e algozes ainda hão de surgir. Novas tretas e debates. Na primeira semana já rolou o trending topic “relacionamento abusivo”. É um elenco promissor… portanto, sente, caro leitor. Senta que lá vem história! Até a próxima! E não deixe de acompanhar as novidades do BBB 23 aqui no ULTRAVERSO.
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Por fim, não deixe de acompanhar o UltraCast, o podcast do Ultraverso:
Lohan Lage Pignone
Lohan Lage Pignone, 31, é nascido no Rio de Janeiro (RJ) e atualmente reside em Nova Friburgo (RJ). Graduado em Letras (Port./Lit.) pela Universidade Estácio de Sá e pós-graduado em Roteiro para Cinema e TV, pela UVA. Publicou, em 2011, o livro “Poesia é Isso” (Ed. Multifoco). Assinou o roteiro e dirigiu o documentário em curta-metragem “Terra Nova, Friburgo”. Formou-se em Direção (Cinema) pela AIC.
