BBBLAH! NO AR! #12 – BIG BROTHER BRASIL 2019

Lohan Lage Pignone

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12 de abril de 2019

BBBlah no ar!

Eis a nossa penúltima coluna sobre a décima nona edição do BBB, no último dia do programa. Enquanto preparo esse texto, um paredão acirrado entre Paula e Carolina agita a web. Quem vai descolar a última vaga para a final? Além disso, Hariany foi desclassificada ontem, após cometer uma agressão contra a sua “amiguinha” Paula. O mais curioso é que Paula aprontou muito mais ao longo do jogo, com agressões verbais, preconceituosas, e lá está ela… rumo à final.

BBB 2019 / Globo / Reprodução

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Nos primeiros textos dessa coluna, falei bastante sobre as definições de herói, vilão, arquétipos. Disse que todos no BBB eram heróis, partindo da premissa de que estavam em busca de algo, perseguindo um objetivo. Só que, no meio do caminho, alguns heróis desvirtuam seus princípios em nome dessa culminância. Nesta edição, especialmente, foi difícil assistirmos a degenerações de imagem. Todos se preservaram muito bem, com a exceção da Paula, que nunca mediu palavra, inclusive na hora de destilar seu preconceito.

Paula não manchou seu nome com o público. Apesar de tudo, ela ganhou mais popularidade. Seus fãs começaram a surgir de todo canto. E no jogo, para o bem e para o mal, Paula foi a protagonista – muito pela falta de alguém que brigasse por este posto. Sem ameaça aparente, a dona da porca Pippa foi conduzindo seu barco. Mas um jogo não necessariamente deve premiar o que mais se destaca. Na vida, não se devia valorizar somente quem está “por cima da carne seca”. Há muita gente por aí que adora soltar o verbo e dar pitaco em tudo, mas isso não significa que esteja com a razão, ou que seu haterismo possa ser justificado pelas mazelas da vida. Não tem essa não. O Brasil é um país de anônimos. O Brasil é um país de figurantes. E quem melhor representa essa ala brasileira é o Alan. E agora vou dizer o porquê que o Alan deveria vencer o BBB.

BBB 2019 / Globo / Divulgação

Planta? Figurante? Língua enrolada? Apêndice? Good vibes? Quem é Alan e qual é a sua importância representativa? Alan é o cara que, sem discussão, foi o que mais figurou no elenco. O cara que foi esquecido por justamente buscar ser esquecido. Sua tática de distanciamento controlado foi perfeita. Como de fato um figurante é dirigido: olha só, cara, entre em cena nesse momento, seja natural, não vá ofuscar o protagonista, não fique rindo que nem um abobado, também não vá chorar de emoção só porque está perto do seu ídolo. Take It easy, simplesmente passe, olhando para o nada.

“De tanto olhar para o abismo, o abismo olha para você”. Alan mergulhou no nada e se materializou em nada. Foi um apêndice que sequer supurou. Mas vejam bem: isso tudo pode soar como uma crítica negativa ao Alan. E aquela história dele merecer ser o campeão? Como assim?

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Os figurantes que operam essa máquina continental que é o Brasil. São os desconhecidos que limpam nossas calçadas, que recolhem nossos lixos, que se desdobram em salas de aulas lotadas, que ficam horas a fio diante de uma máquina de costura tecendo que você veste; são eles, os invisíveis sociais, que lavam a sua privada, capinam os canteiros, que vigiam os prédios, que matam os bois cuja carne te empanturra; os que te servem nos bares e restaurantes. São os invisíveis que administram ONG’s, que recolhem animais das ruas, que fazem os mutirões da sopa para alimentar mendigos, que doam brinquedos, sangue, esperança ao próximo; são os anônimos que grafitam cores no cinza dos dias, que picham os muros com palavras que inspiram a liberdade, a gentileza, a revolução. São os figurantes que fazem, de fato, a vida acontecer. A vida como ela é. Sem figuração não há verdade. Não há estofo para protagonistas. Não há mão-de-obra para o explorador. Não há civilização. Alan é um cara que passa despercebido, lá dentro e aqui fora. Um cara que resgata animais de rua, que apoia ONGs, que prega uma vida pacífica, conectada com a natureza. Um cara que surfa sua bondade sob as ondas, sem estrelismos, sem arrogância, sem a necessidade de se exibir. Controverso, não? Não querer se exibir em um jogo de exibicionismo. Ora, eis o grande jogador. O cara que desafiou o sistema do game, e que chegou à final respeitando esse princípio. Em seu anti-jogo, Alan se tornou o melhor jogador dessa edição. E como bom e velho figurante desse Brasil, como tantos outros milhares, merece o prêmio na final de amanhã.

Salve os figurantes do Brasil. Obrigado e boa sorte, Alan.

Lohan Lage Pignone

Lohan Lage Pignone, 31, é nascido no Rio de Janeiro (RJ) e atualmente reside em Nova Friburgo (RJ). Graduado em Letras (Port./Lit.) pela Universidade Estácio de Sá e pós-graduado em Roteiro para Cinema e TV, pela UVA. Publicou, em 2011, o livro “Poesia é Isso” (Ed. Multifoco). Assinou o roteiro e dirigiu o documentário em curta-metragem “Terra Nova, Friburgo”. Formou-se em Direção (Cinema) pela AIC.
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