Black Circle

Black Circle lança álbum de estreia sob a benção de Eddie Vedder

Guilherme Farizeli

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7 de outubro de 2020

A saber, a Black Circle surgiu em 2016, como uma banda tributo ao Pearl Jam. Entretanto, se tornou muito mais do que isso. O grupo é composto por Sergio Filho (guitarra), Nyck Magnani (bateria), Gabriel Z (baixo), Lenny Prado (vocal) e Luiz Caetano (guitarra).

A banda se tornou uma das mais ativas da cena no Rio de Janeiro, atraindo sempre uma legião de fãs por onde passa. No decorrer dos últimos anos, as primeiras composições autorais começaram a surgir e foram sendo apresentadas ao público em meio ao repertório do PJ. A recepcção positiva dos amigos e fãs deu aos caras mais certeza ainda do caminho a ser percorrido.

Finalmente, aa última segunda-feira, 5 de outubro, o quinteto carioca lançou ‘Mercury‘, seu álbum de estreia, com 9 músicas autorais e uma versão de “Love, Reign O’er Me”, do The Who. Confira agora o nosso bate-papo com a Black Circle!

Fala galera! Obrigado por conversarem com o ULTRAVERSO. Como surgiu a Black Circle? Quais são as bandas/artistas que vocês apontariam como suas maiores influências?

Luiz: Fala, rapaziada do Ultraverso. Obrigado pela oportunidade. Minhas influências mudam com o tempo, vou apontar três dos que tenho ouvido mais: J. Cole, Lianne La Havas e Tom Bukovac.

Lenny: A Black Circle surgiu como uma banda tributo ao Pearl Jam no segundo semestre de 2016. Além da influência óbvia, diria que as outras bandas grunge. Como vocalista, minhas influências mais fortes são Vedder, Cornell e o irlandês Glen Hansard.

Nyck: Meu gosto pela bateria veio quando vi um percussionista chamado Ray Cooper, que era performático e super carismático. Depois de entrar no mundo do rock, as bandas dos anos 90 como o Pearl Jam, Alice in Chains e Red Hot Chili Peppers foram o amor à primeira vista. Elas me fizeram buscar entrar de vez no mundo dos instrumentos musicais.

Sergio: Eu, Nyck e Z já vínhamos de outra banda tributo ao Pearl Jam e, junto com o ex-guitarrista, encontramos o Lenny através de um vídeo no YouTube. Alguns meses depois o Luiz entrou e fechamos o time.

Minhas influências são clássicos como Pink Floyd, Beatles, Led Zeppelin, Black Sabbath e as bandas do movimento de Seattle dos anos 90, especialmente o Alice In Chains, Soundgarden e, obviamente, o Pearl Jam. Mas meu gosto é muito amplo e naturalmente tudo que eu ouço acaba me influenciando. Aí entra desde blues até música pop.

Gabriel: Tenho muita influência do metal melódico e progressivo, do grunge, das vertentes do hardcore e da MPB. Pain of Salvation, Coheed and Cambria, The Mars Volta, Alexisonfire, Faith No More.

Quero focar no trabalho autoral de vocês, mas não posso deixar de perguntar: como foi essa aproximação com a família Vedder? Como é ter o reconhecimento dos seus ídolos, suas maiores referências?

Lenny: Sempre nos perguntamos se o Pearl Jam saberia da nossa existência, mas jamais teríamos como ter certeza sem que um deles se pronunciasse a respeito. Em janeiro de 2020, o guitarrista do Pearl Jam compartilhou nossa versão de “(Dance of the) Clairvoyants”, música nova do na época, e mandei o link pra esposa do Vedder via Instagram.

Por sorte, ela respondeu e disse que já sabia da nossa existência. Após isso, diria que viraram fãs (risos).

Nyck: A proximidade com a família Vedder foi uma avalanche emocional. Ninguém espera ter uma aproximação assim tão rápida com seu maior ídolo, e para falar a verdade, até hoje não caiu a ficha totalmente (risos).

Sergio: Isso aconteceu mesmo? Achei que tinha sido um sonho! É tão absurdo quanto estarmos vivendo uma pandemia!

Os perfis oficiais da banda e o Twitter do Mike compartilharam nosso vídeo e a esposa do Eddie viu e comentou. Ali foi nosso primeiro contato. No dia da nossa primeira live, em março, tivemos a sorte e o prazer de tê-los nos assistindo. Assim que tudo começou.

Luiz: Foi completamente inesperado e acima de tudo genuíno. Foi interessante ter o ponto de vista do Eddie e da Jill sobre o nosso trabalho. Foi uma troca humana, mais do que uma sessão de conselhos, entende?

Black Circle (foto por Ale Grand)

Enxergo vocês como um grande case de sucesso sobre a utilização das redes sociais para potencializar o alcance do trabalho. O quanto essa estratégia foi decisiva para vocês?

Nyck: As redes sociais são uma das razões para a nossa trajetória chegar aonde chegou. No entanto, acho que antes de mais nada, é importante lembrar que nossa estratégia vem de como enxergamos a banda: como uma empresa, um negócio.

Dessa forma, o marketing acaba se tornando mais um processo dentro da administração. Por isso, a gente pensa em todas as ações de forma bastante cuidadosa, para aproveitarmos da melhor forma possível. Com o tempo e uma estratégia pensada e repensada várias vezes, a gente vem conseguindo consolidar nosso nome no mercado.

Luiz: A rede social é um braço essencial na carreira de um artista hoje. Entretanto, vejo como uma extensão do trabalho que a gente vem realizando “na vida real”. Bem ou mal, são pouco mais de três anos fazendo de 7 a 12 shows por mês, todo mês, praticamente sem tirar férias. O investimento online só faz sentido uma vez que o offline tá sendo realizado.

A semelhança da voz do Lenny com a do Eddie Vedder é incrível e o próprio vocalista do Pearl Jam já comentou sobre essa sensação curiosa de “se ouvir através do outro”. Como encaram eventuais comparações do material autoral de vocês com o PJ?

Lenny: É um elogio.

Sergio: Falando como produtor do álbum, eu tentei olhar de maneira distanciada o tempo todo a fim de entender em que momentos era legal ter referências ao Pearl Jam. A gente conhece a linguagem deles tão bem que isso nos ajuda a entender quando estamos indo por esse caminho ou não.

Por outro lado, todo mundo na banda tem influências em comum aos caras do PJ e o fato de bebermos das mesmas fontes nos permite ir a lugares que eles não foram, entende?

Nós temos a nossa própria voz e as coisas que queremos dizer e o Lenny me impressionou durante o processo da gravação das músicas, trazendo caminhos vocais muito diferentes do Eddie. Por fim, apesar de eu ter feito essa análise e essa gestão, foi tudo muito natural e espontâneo.

Luiz: Depende do feedback que a gente recebe. Algumas pessoas dizem que o Lenny canta como o Eddie cantava nos anos 90, e eu acho isso incrível. Pro trabalho autoral, tivemos um certo cuidado em não soar demais como o Pearl Jam. Encontrar o equilíbrio entre aceitar a influência mas não beber demais de uma só fonte, porque isso limitaria as possibilidades de criação.

Como foi o processo de composição e posteriormente de gravação do Mercury?

Sergio: Começou despretensiosamente em 2017 quando escrevemos as três primeiras músicas: “Disarray”, “Divide” e “Dad” (que veio a se tornar “Never Though I Would”). No final daquele ano gravamos as duas primeiras e em Abril de 2018 lançamos “Disarray”.

Nesse sentido, sempre tocamos ela nos shows e aos poucos ela se tornou a nossa música mais conhecida. Em outubro daquele mesmo ano, lançamos “Divide” com um clipe produzido em parceria com o Canal Riff e dirigido pelo Gustavo Chagas (Porta dos Fundos).

Foi um processo, portanto, que demandou muita dedicação, né?

Gabriel: Foi com muita luta e garra, eu diria. Fazíamos sempre na medida que dava, em meio a tantas demandas, muitas vezes aproveitando um pouco de tempo que sobrou de outro compromisso, como passagem de som, por exemplo. Acabou sendo um trabalho em boa parte remoto. Com a chegada da pandemia ainda por cima tivemos de nos reinventar para continuar trabalhando.

Luiz: Foi uma alquimia esquizofrênica. De início, percebemos a necessidade de criar nossas músicas em meio a shows e deveres do dia a dia da banda. Era difícil se dedicar ao processo de criação, uma vez que nós cuidamos de toda a cadeia de produção da banda. Gravamos a maior parte das músicas nessa pegada e quando veio a pandemia, tudo mudou.

Aumentou a urgência e a demanda pra um lançamento autoral, então fizemos e gravamos as músicas cada um da sua casa, trocando ideia pelo Telegram. O único que saiu de casa pra gravar foi o Nyck, baterista. Depois disso, gravamos e mandamos tudo pro Sérgio mixar em casa.

“Penguins & Butterflies” tem uma vibe diferente, vai por um caminho diferente das outras, tanto nos arranjos de guitarra, na linha de baixo, nos timbres. Contem um pouco pra gente sobre a inspiração por trás dessa canção.

Lenny: Como compositor das letras e da ideia inicial, posso dizer que música fala sobre medos e redenção, mas com cuidado com qualquer rótulo. É um pouco sobre o campo minado que pode ser o início de uma relação amorosa.

Nyck: Sobre a parte que me cabe (risos), um dos momentos instrumentais que eu destaco, inclui algumas partes que foram uma mistura do estilo de dois grandes bateristas que me influenciaram bastante, mas que não são muito conhecidos aqui no Brasil: Gavin Harrison (Porcupine Tree / King Crimson / Pineapple Thief) e Brann Dailor (Mastodon).

Sergio: Essa música o Lenny trouxe no violão com dois acordes e uma pegada meio Dave Matthews. Eu peguei a referência da introdução de “4th of July” do Soundgarden, com uma guitarra suja e muito dark no início, e sugeri que ele cantasse a melodia em cima daquilo, pra música explodir no refrão depois.

Mudamos os acordes originais que ele fez. E, aos poucos, a música foi tomando uma cara meio Soundgarden, meio Alice in Chains, meio Led Zeppelin (risos). Como já tínhamos outras boas baladas, transformar essa numa música torta foi pura diversão!

Luiz: Minha primeira memória dessa música foi o Lenny mostrando o esqueleto dela em um ensaio. Eu quis adicionar uma distorção mais áspera (na língua dos guitarristas, crocante) pra contrapor a linha melódica de voz dele.

A música foi tomando forma ali mesmo, com cada um trazendo suas ideias em tempo real. No fim do ensaio, tínhamos uma base pronta, o resto foi sendo adicionado conforme ouvíamos e debatíamos sobre ela. Mas o que mudou mesmo foram as texturas, o esqueleto foi “levantado” em um ensaio.

“Drive Home in The Rain” é uma linda canção, com um belíssimo arranjo de piano. Como surgiu essa composição?

Sergio: Essa foi mais uma da leva do Lenny e foi meio o oposto do que aconteceu com ‘Penguins’. Para não dizer que não mexemos em nada na composição original, substituímos um acorde em um dos refrões. O resto foi só embelezar o que já nasceu lindo.

O arranjo grandioso foi culpa de uma certa megalomania minha que já tinha aparecido com “Disarray”. Em ambas as músicas, tivemos uma participação seminal do Wagner Monaco, que assina a coprodução do disco comigo.

Todos os teclados e pianos do disco foram tocados por ele, assim como todos os arranjos de orquestra foram escritos por nós dois. A voz dele está no coro dessa música.

Gosto de perguntar isso para todas as bandas que passam por aqui. Vocês começaram como um tributo ao Pearl Jam. Eles e outras bandas que vocês apontaram como influências, sugiram há mais ou menos 30 anos atrás. Como vocês enxergam o rock atual e qual o espaço que o estilo ocupa aqui no Brasil, especificamente?

Lenny: Vejo que o rock mudou, tentou se adaptar aos outros ritmos mais mainstream. Isso já vem acontecendo há algumas décadas. Entretanto, a força que já teve um dia ainda é relevante para carregar os grandes até novas gerações e para se manter novo, mesmo pra quem acompanha a mesma banda por décadas.

Quanto ao cenário atual no Brasil, posso apenas em relação ao RJ. Aqui no estado temos poucas opções para tocar e para ouvir rock, e isso acaba destruindo o sonho de muitos garotos. Infelizmente, mas com todo o respeito a outros ritmos, o rock está longe de ser unanimidade dentro dos cariocas.

Nyck: Acho que o rock se consolidou nos últimos anos como um estilo de nicho. Há cerca de 15 anos que o estilo não figura mais entre os grandes gêneros que mais vendem ou são ouvidos, por mais que ainda encha estádios e festivais ao redor do mundo.

Mas sendo um estilo de nicho, os públicos de diferentes lugares estão mais próximos de você e entre si. Ainda que ele precise ser estimulado a ouvir e se interessar por novos artistas, “convencer” as pessoas a se interessarem no que você tem a mostrar é um pouco menos complicado se você o fizer através de um trabalho que eles estão mais abertos a ouvir, como tributos, ainda que estas bandas sofram muito preconceito.

Só que no momento em que você mostra seu trabalho, aguçando a curiosidade, e tem um feedback positivo de uma lenda do estilo, as coisas ficam mais acessíveis.

É uma questão nicho, então?

Sergio: Eu tenho consciência de que estamos numa bolha, num nicho. Em dados o rock representa o gosto principal de uma parcela muito pequena da população, pra não dizer ínfima. Tem um recorte de classe bem definido. No entanto, o rock na grande mídia segue os ciclos da mídia internacional.

Hoje em dia a música pop está voltando a utilizar guitarras e violões. Aqui no Brasil o sertanejo e o gospel usam muito. Ou seja, eu imagino que é questão de tempo até o rock voltar a fazer parte da música midiática, o que não significa que exista espaço para uma banda grunge carioca (risos).

Por isso a gente sempre teve o desejo de alcançar o público americano e europeu e também o sul-americano. A gente só não imaginava que isso tudo ia acontecer, para o nosso bem e para o nosso mal, uma vez que, enquanto a pandemia não acabar, estamos restritos às ações online. Quanto à questão geracional, eu acho que enquanto houver bandas tocando rock, sempre vai ter gente pra escutar e vice-versa.

Gabriel: O estilo rock aqui no Brasil me parece não possuir tanto vigor pois somos uma nação composta de muitas culturas, logo com muitos estilos musicais. Ele me parece ocupar o lugar que geralmente sempre ocupou, entre os que se sentem desajustados, inconformados, revoltados e ávidos.

Luiz: O rock deixou de ser um som comercial pra virar nicho. Se você buscar o top 10 músicas mais ouvidas no Spotify, provavelmente não tem nenhum rock, ou sequer músicas feitas com instrumentos orgânicos. Por um lado, a probabilidade de você ouvir sua música numa rádio, filme ou novela é muito menor. Por outro, é possível se conectar ao público do seu nicho de uma forma tão específica como nunca.

Ao mesmo tempo que a oferta no cenário macro diminuiu drasticamente, as oportunidades nos cenários micros se multiplicaram. No fim das contas, a gente precisa entender os movimentos culturais e saber aproveitar da melhor forma possível. Reclamar só trava os processos criativos e dá câncer no futuro.

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Além disso, claro, o (a) cantor(a) ou a banda precisa ter algo gravado com uma qualidade razoável. Afinal, só assim conseguiremos divulgar o seu trabalho. Enfim, sem mais delongas, entre em contato pelo e-mail guilherme@ultraverso.com.br! Aquele abraço!

Guilherme Farizeli

Músico há mais de mil vidas. Profissional de Marketing apaixonado por cinema, séries, quadrinhos e futebol. Bijú lover. Um amante incondicional da arte, que acredita que ela deve ser sempre inclusiva, democrática e representativa. Remember, kids: vida sem arte, não é NADA!
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