Oscar 2023: relembre como foi a edição de 2022 - tapa Will Smith

Foto: Reprodução

Oscar 2023: relembre como foi a edição de 2022

Vanderlei Tenório

|

29 de dezembro de 2022

*Escrito com Tiago Resende e Maria Inês Gomes

Já ansioso pela 95ª edição do Oscar, que vai ao ar em 12 de março de 2023, em parceria com o cineasta português Tiago Resende e a filósofa portuguesa Maria Inês Gomes, resolvi relembrar a edição do Oscar 2022.

“No Ritmo do Coração”, de Siân Heder foi o grande vencedor da 94ª edição do Oscar, ao conquistar as categorias de Melhor Filme, Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Roteiro Adaptado, numa noite que ficou marcada por várias surpresas.

Mas foi “Duna”, de Denis Villeneuve o filme mais premiado, com 6 estatuetas, seguido de “No Ritmo do Coração”, de Siân Heder (3 prêmios) e “Os Olhos de Tammy Faye”, de Michael Showalter (2 prêmios). 

Já “Ataque dos Cães”, de Jane Campion que liderava com 12 nomeações, foi o grande derrotado, tendo vencido apenas uma categoria, a de Melhor Direção. Igualmente com apenas uma estatueta dourada ficaram “Encanto”, de Byron Howard e Jared Bush, “Belfast”, de Kenneth Branagh, “King Richard”, de Reinaldo Marcus Green e “Amor, Sublime Amor”, de Steven Spielberg.

Leia também:

Relembre todos os vencedores do Oscar 2022

As maiores injustiças do Oscar 2022 – UltraCast

Oscar 2023: Academia anuncia ‘novo velho’ apresentador da cerimônia

A cerimônia

A cerimônia do Oscar 2022 voltou ao emblemático Dolby Theatre, um ano depois de ter ocupado a Union Station (a grande estação de trens no centro de Los Angeles), e voltou a ter apresentadores (Wanda Sykes, Amy Schumer e Regina Hall), algo que não acontecia desde 2018.

A cerimônia teve, pela primeira vez nas suas edições, tradução para língua de sinais, e dois dos filmes nomeados para Melhor Filme incluem no elenco atuações em língua de sinais, é o caso de “No Ritmo do Coração”, de Sian Heder, e “Drive my Car”, de Ryusuke Hamaguchi. 

Uma cerimônia que prestou homenagem aos 60 anos do filme da saga “007 James Bond”, aos 50 anos de “O Poderoso Chefão” e a outros filmes de culto como “Pulp Fiction”, a 94.ª edição do Oscar fez-se em ritmo muito acelerado.

Nos últimos anos, a Academia tem vindo a encurtar a duração da cerimônia, de forma a torná-la mais atrativa para os espectadores, pelo que este ano parece ter levado o formato curto ao extremo, quase “fast food” do entretenimento de espetáculo televisivo.

Discursos, homenagem a Ucrânia e Jane Campion

Os discursos das categorias de Melhor Edição, Design de Produção, Banda Sonora, Som, Caracterização, Curta-metragem em live-action, curta documental e curta de animação foram gravados posteriormente e exibidos ao longo da noite. Entre os muitos cortes entre entrega de prêmios e publicidade, não sobrou tempo para apreciar a sala despida de máscaras, ou sequer para assimilar os discursos (que tantas vezes marcam simbolicamente o espetáculo), que eram sucessivamente interrompidos cedo demais.

Houve um momento de silêncio com uma mensagem alusiva à invasão russa à Ucrânia, num apelo à união e à ação de todos e todas em apoio à Ucrânia, pelo que o momento de guerra que pauta a atualidade não deixou de ser assinalado pela Academia. De recordar que o boicote cultural à Rússia tem marcado também o panorama cinematográfico, com diversos Festivais, plataformas e Academias de Cinema a cancelarem a presença russa.

Jane Campion fez história, com “Ataque dos Cães”, ao ser a terceira mulher a vencer o Oscar de Melhor Direção. A cineasta neozelandesa segue assim a Kathryn Bigelow, por “Guerra ao Terror” (2008), e a Chloe Zhao, por “Nomadland” (2020).

Ariana DeBose

Como esperado, Ariana DeBose venceu o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante por seu papel de Anita em “Amor, Sublime Amor”, de Steven Spielberg, remake do musical que também esteve no grande ecrã em 1961 sob a direção de Robert Wise e Jerome Robbins.

A vitória de DeBose é histórica, pois é a primeira vez que duas atrizes vencem na categoria por um mesmo personagem, já que Rita Moreno também venceu o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante em 1961 pelo papel de Anita.

Com intérpretes masculinos, isso já aconteceu duas vezes (Marlon Brando e Robert De Niro como Vito Corleone e Heath Ledger e Joaquin Phoenix como o Coringa). O prêmio também a torna a segunda latina a ganhar o Oscar de interpretação e a primeira mulher negra assumidamente lésbica a ser vencedora na Academia.

Ao longo da temporada de prêmios, ela ganhou um Globo de Ouro, um SAG, um BAFTA e um Critics Choice Award. No Oscar, a estreante concorria com: Jessie Buckley de “A Filha Perdida”, Judi Dench de “Belfast”, Kirsten Dunst de “Ataque dos Cães” e Aunjanue Ellis de “King Richard”.

Troy Kotsur

Troy Kotsur fez história ao se tornar o primeiro ator surdo a ganhar o Oscar de atuação. O ator venceu o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante por “No Ritmo do Coração”. Historicamente falando, também foi a primeira vez que um ator surdo foi nomeado nas categorias de atuação. Em “No Ritmo do Coração”, Kotsur atua ao lado de Marlee Matlin, a primeira pessoa surda a levar o prêmio nas categorias de atuação – Matlin venceu o Oscar de Melhor Atriz por “Filhos do Silêncio”, estrelado ao lado de William Hurt.

Analisando tecnicamente, Kodi Smit-McPhee perdeu espaço para Kotsur, ele vinha como o favorito da temporada de prêmios concedidos pelas associações, sindicatos e organizações internacionais de cinema. Entretanto, nos principais prêmios utilizados como termômetros para o Oscar, Kotsur acabou ganhando protagonismo. Antes do Oscar, Kotsur já havia levado o SAG, o BAFTA e o Critics Choice Award – salientamos que, ambas as atuações são brilhantes e merecem reconhecimento.

Kotsur concorria ao lado de Ciarán Hinds de “Belfast”, J.K. Simmons de “Apresentando os Ricardos”, e a dupla Jesse Plemons e Kodi Smit-McPhee de “Ataque dos Cães”.

“É incrível estar aqui nesta jornada e que o nosso filme tenha chegado até à Casa Branca. Quero falar a todos os teatros para surdos onde tive a oportunidade de desenvolver a minha atuação. Siân Hender você é a melhor comunicadora que conheço”, disse o ator no seu discurso ao falar sobre a realizadora de “CODA”.

“Meu pai era o que melhor se comunicava na nossa família e sofreu um acidente de carro que o deixou paralisado da cintura para baixo. Você será sempre o meu amor. Este prémio é dedicado aos surdos, aos filhos de surdos e às pessoas com deficiência. Eu consegui”, completou.

O tapa infame

Um dos momentos mais insólitos desta noite, e que ficará certamente na história da cerimônia do Oscar, foi quando Will Smith subiu ao palco e deu um estalo na cara do comediante Chris Rock, que estava apresentando a categoria de Melhor Documentário. Chris Rock fez uma piada sobre o cabelo rapado da mulher de Will Smith, que não o agradou, tendo agredido mesmo o comediante e gritado duas vezes: “Mantenha o nome da minha mulher longe da p… da tua boca”.

O ator, que recebeu o Oscar de Melhor Ator pela interpretação do pai das irmãs Venus e Serena Williams em “King Richard”, pediu desculpas à Academia, mas não a Chris Rock, no seu discurso de agradecimento pelo Oscar.

“Quero pedir desculpa à Academia. Quero pedir desculpa a todos os meus colegas nomeados. (…) “A arte imita a vida. Eu pareço o pai maluco, assim como Richard Williams. Mas o amor vai levar-te a fazer coisas malucas.”, Will Smith no seu discurso de vitória.

Chastain e Drive my Car

Jessica Chastain venceu a categoria de Melhor Atriz pela sua interpretação no filme “Os Olhos de Tammy Faye“, Michael Showalter e escrito por Abe Sylvia, e foi, provavelmente, o discurso mais político e humanista da cerimônia, pouco destacada por mensagens ou gestos positivamente memoráveis. O filme recebeu também o Oscar de Melhor Maquiagem e penteados, e, portanto, venceu todas as duas nomeações que tinha.

O Melhor Filme Internacional, sem qualquer surpresa, coube a “Drive My Car” de Ryusuke Hamaguchi, completando assim uma série de premiações à longa-metragem que adapta um conto do escritor Murakami.

Apesar de um algum favoritismo por parte do documentário dinamarquês “Flee”, e que irá estrear brevemente nos cinemas nacionais, o vencedor da categoria de Melhor Documentário foi “Summer of Soul (…Ou, Quando A Revolução Não Pôde Ser Televisionada)”, dirigido por Questlove.

Duna e Encanto

“Duna”, dirigido por Denis Villeneuve, conquistou as categorias mais técnicas e já esperadas de Melhor Edição, Melhor Som, Melhor Design de Produção, e também, a categoria de Melhor Fotografia que disputava ao lado de “Ataque dos Cães”, “O Beco do Pesadelo”, “A Tragédia de Macbeth” e “Amor, Sublime Amor”.

Na categoria animação, a Disney estava em vantagem numérica com: “Luca” e “Encanto”, da subsidiária Pixar e com sua produção própria “Raya e o Último Dragão”, competindo contra o dinamarquês “Flee” e o representante da Netflix, “Os Mitchell e a Revolta das Maquinas”. Sem surpresa, o vencedor foi o êxito infantil “Encanto”, da Pixar.

Belfast

“Belfast”, dirigido e roteirizado por Kenneth Branagh, ganhou o Oscar de Melhor Roteiro Original. Em seu argumento, o propósito da história é traduzir experiências individuais em experiências universais, tanto que os pensamentos e sentimentos dele são usados para envolver o público.

Os dramas pessoais se tornam ponto-chaves, não a guerra. Diferente dos filmes que frisam em detalhar o conflito civil, o argumento de Branagh mostra com mais detalhes o lado das famílias que ficaram para trás. Falar de guerra é um assunto pesado, porém todo o clima é amenizado pela figura do menino Buddy. Nessa perspectiva, o filme trata de maneira belíssima e extremamente delicada, não de uma guerra, mas sim do relacionamento de uma família e do amor imenso que esse menino sente por seus pais.

No Ritmo do Coração

Siân Heder conquistou a estatueta de Melhor Roteiro Adaptado por seu remake “No Ritmo do Coração”. Curiosamente, o longa virou o favorito da temporada. Entretanto, ressalvamos que, o trabalho envolvido na reformulação de uma comédia dramática francesa para um cenário estadunidense simplesmente não pode se comparar com a inteligência e vitalidade da dissecação de Rebecca Hall de um romance de 1929 em  “Identidade” (que nem sequer foi indicado); com a compreensão incisiva e a ambiguidade de personagem de Jane Campion em Ataque dos Cães”, extraindo perspectivas extremamente modernas sobre masculinidade e repressão sexual de um livro publicado em 1967, ou com o diretor Ryûsuke Hamaguchi e o habilidoso entrelaçamento de temas do coroteirista Takamasa Oe ao investigar os mistérios da arte e da conexão humana como catarses emocionais.

Contudo, Heder tornou-se a primeira roteirista a vencer a estatueta de Melhor Roteiro Adaptado em 16 anos. A última roteirista a conquistar o prêmio havia sido Diana Ossana por “O Segredo de Brokeback Mountain”, em 2006 – coescrito com Larry McMurtry. A cineasta, atriz e roteirista superou nomes como Jane Campion, Ryûsuke Hamaguchi, Jon Spaihts e Maggie Gyllenhaal – essa foi a primeira vez desde 1992 em que três mulheres foram indicadas para a categoria.

Aliás, está de olho em algo na Amazon? Então apoie o ULTRAVERSO comprando pelo nosso link: https://amzn.to/3mj4gJa.

Não deixe de acompanhar o UltraCast, o podcast do ULTRAVERSO:

https://app.orelo.cc/uA26

https://spoti.fi/3t8giu7

Relembre os vencedores do Oscar 2022

Filme

No Ritmo do Coração

Direção

Jane Campion, por Ataque dos Cães

Ator

Will Smith, em King Richard

Atriz

Jessica Chastain, em Os Olhos de Tammy Faye

Ator Coadjuvante

Troy Kotsur, em No Ritmo do Coração

Atriz Coadjuvante

Ariana DeBose, em Amor, Sublime Amor

Roteiro Original

Belfast, por Kenneth Branagh

Roteiro Adaptado

No Ritmo do Coração, por Siân Heder

Animação

Encanto

Filme Internacional

Drive My Car (Japão)

Documentário

Summer of Soul (…Or, When The Revolution Could Not Be Televised)

Fotografia

Duna, por Greig Fraser

Figurino

Cruella, por Jenny Beavan

Edição

Duna, por Joe Walker

Maquiagem e Penteados

Os Olhos de Tammy Faye, por Linda Dowds, Stephanie Ingram e Justin Raleigh

Trilha Sonora Original

Duna, por Hans Zimmer

Canção Original

“No Time to Die” (“No Time to Die”), Billie Eilish, Finneas O’Connell

Design de Produção

Duna, por Patrice Vermette e Zsuzsanna Sipos

Som

Duna, por Mac Ruth, Mark Mangini, Theo Green, Doug Hemphill e Ron Bartlett

Efeitos Visuais

Duna, por Paul Lambert, Tristan Myles, Brian Connor e Gerd Nefzer

Animação em curta-metragem

The Windshield Wiper 

Curta Live-Action

The Long Goodbye

Curta Documental

The Queen of Basketball

Vanderlei Tenório

Vanderlei Tenório é colunista dos jornais Tribuna do Sertão e Gazeta Regional de Jaguariúna, dos portais 082 Notícias e JB Notícias, do Web Jornal O Estado RJ – OERJ, colaborador do portal Repórter Nordeste, da Revista Alagoana, do jornal Tribuna de Itapira e do site português Cinema7Arte, além de editor da página Cinema e Geografia. Siga o jornalista no perfil pessoal, como colunista e em Cinema e Geografia.
O que sabemos sobre Wicked Boa noite Punpun Ao Seu Lado Minha Culpa Lift: Roubo nas Alturas Patos Onde Assistir o filme Lamborghini Morgan Freeman