CRÍTICA #2 | ‘Homem-Aranha: De Volta ao Lar’: o amigão da vizinhança está de volta e em grande estilo!

Bruno Giacobbo

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6 de julho de 2017

Depois de cinco filmes (2002, 2004, 2007, 2012 e 2014) e dois protagonistas diferentes (Toby Maguire e Andrew Garfield), os produtores, enfim, parecem ter acertado e finalmente conseguirão agradar gregos e troianos, ou melhor, aranhas e abutres. O sexto capítulo da franquia, que na verdade é um reboot, arrancou elogios entusiasmados da crítica norte-americana, encantou a imprensa brasileira nas exibições prévias feitas em São Paulo e no Rio de Janeiro; e tem potencial para conquistar o grande público. Entre algumas das explicações para este feito, que parecia ser uma missão digna dos Vingadores, está a acertadíssima escolha de Tom Holland para viver o novo Peter Parker. O jovem ator britânico, de apenas 21 anos, conseguiu compor um personagem bem mais parecido com o dos quadrinhos do que os seus antecessores. A patetice abobalhada de Maguire, um verdadeiro looser, e a falta de carisma de Garfield deram lugar a um herói autêntico que, durante quase duas horas, enfrenta uma árdua jornada de amadurecimento e termina este Homem-Aranha: De Volta ao Lar (Spider-Man: Homecoming), do cineasta Jon Watts, pronto para alçar novos voos, como veremos nos próximos longas do Universo Marvel.

CRÍTICA #1 | ‘Homem-Aranha: De Volta ao Lar’ traz a essência do bom e jovem Peter Parker que gostaríamos de ver

CRÍTICA #3 | Homem-Aranha: De Volta ao Lar é divertido e levemente nostálgico
CRÍTICA #4 | ‘Homem-Aranha: De Volta ao Lar’ é um um grande recomeço do herói e traz grandes expectativas

O filme começa um pouco depois dos eventos de “Capitão América: Guerra Civil” (2016). Levado de volta para casa por seu mentor, Tony Stark (Robert Downey Jr.), o Homem-Aranha é orientado a aguardar um novo chamado quando, digamos, as coisas esquentarem. Seu contato é o motorista e segurança Happy Hogan (Jon Favreau). Acontece que os dias vão passando e ele fica completamente entediado. Prender ladrões de bicicletas, ou ajudar velhinhas dominicanas que estão perdidas, não é tão charmoso quanto enfrentar o Capitão América (Chris Evans). Paralelamente, sua vida como estudante não é muito diferente de qualquer outro adolescente. Junto com o seu melhor amigo, Ned Leeds (Jacob Batalon), Peter frequenta a escola e sofre bullying nas mãos de Flash Thompson (Tony Revolori), aqui, inusitadamente retratado como um garoto de tez morena e origem latina (nos quadrinhos, ele é loiro, forte e um esportista nato). Há, ainda, a relação, nem sempre simples, com a tia May (Marisa Tomei). Contudo, o nosso herói terá a chance de provar o seu valor ao se apaixonar por Liz Allan (Laura Harrier), a menina mais popular do colégio, e ao se deparar com um bandidão.

O bandidão em questão, brilhantemente interpretado por Michael Keaton, é Adrian Toomes, um empreiteiro contratado pela prefeitura de Nova Iorque para limpar a bagunça da batalha com Loki (Tom Hiddleston) e os aliens da raça Chiatauri, mostrada em “Os Vingadores” (2012). Posto para fora da jogada com a entrada em cena da Stark Entreprises, o vilão decide que não sairá de mãos abanando e rouba destroços que possuem resquícios de tecnologia alienígena. Usando de engenharia reversa, ele constrói o par de asas que o transformará no Abutre, um dos grandes inimigos do Homem-Aranha, e armas de alto poder de destruição para serem vendidas no mercado negro. Assim, entre uma negociação e outra, os caminhos de Toomes e Parker se cruzarão. Lembram o que escrevi lá em cima sobre a árdua jornada de amadurecimento do protagonista? Então, mais até do que Stark em seu papel de mentor e espécie de pai postiço, o Abutre será fundamental para esta transformação. E a química entre os personagens, na verdade, entre Holland e Keaton, é, de longe, a melhor coisa do longa-metragem.

Se o jovem intérprete britânico incorporou o Homem-Aranha mais semelhante ao dos quadrinhos, o veteraníssimo ator norte-americano deu forma a um antagonista à altura, crível e com a envergadura moral dos grandes mafiosos (ainda que esta seja incapaz de validar seus crimes). Claro que existe o rancor em relação a Tony Stark e aos grandões, como ele se refere aos demais super-heróis, mas a justificativa de Adrian Toomes é que de ele faz tudo o que faz pela família. A família é a sua motivação principal. Este sentimento fica absolutamente claro em uma conversa dentro de um carro, cara a cara, entre o vilão e o herói. Mais do que qualquer outro instante, este é momento emblemático da história. O ápice do embate envolvendo dois homens completamente diferentes. Vendo o filme, outra coisa também me chamou a atenção: o Abutre tem um quê de Darth Vader, ainda que este seja sutil e se configure através da música que pontua a tensão crescente de todas as lutas. É a sua marcha imperial.

Se não há uma tomada espetacular, daquelas de tirar o fôlego, tal qual acontece em “Mulher Maravilha” (2017), da concorrente DC, ou efeitos especiais inebriantes como os de “Doutor Estranho” (2016) e “Guardiões da Galáxia: Volume 2” (2017), Homem-Aranha: De Volta ao Lar é extremamente hábil no seu intento de rebootar a franquia do personagem mais popular do Universo Marvel. Este sucesso se deve ao investimento maciço em um roteiro bem amarrado, ótimos personagens e uma história bastante humana. Esqueçam a ideia de que blockbusters precisam ser grandiloquentes, pois temos aqui mais uma prova de que eles podem ser filmes de atuações. Neste aspecto, a comparação é óbvia: o longa de Watts segue o caminho trilhado, anteriormente, por “Batman: O Cavaleiro das Trevas” (2008) e “Logan” (2017). No entanto, se vocês esperavam algo grandioso, por favor, não encuquem. Eu garanto que, no mínimo, irão se divertir. São muitas as cenas engraçadas, inclusive uma onde é feita uma referência explícita ao clássico máximo de John Hughes: “Curtindo a Vida Adoidado” (1986).

Desliguem os celulares e ótima diversão.

TRAILER:

FOTOS:


FICHA TÉCNICA:
Título original: Spider-man: Homecoming
Direção: Jon Watts
Elenco: Tom Holland, Michael Keaton, Robert Downey Jr., Marisa Tomei, Jon Favreau, Gwyneth Paltrow, Zendaya, Donald Glover, Jacob Batalon, Laura Harrier, Tony Revolori
Steve Carell, Kristen Wiig, Jenny Slate, Miranda Cosgrove, Russell Brand, Steve Coogan, Trey Parker, Dana Gaier
Distribuição: Sony
Data de estreia: qui, 06/07/17
País: Estados Unidos
Gênero: Ação, Aventura
Duração: 133 min.
Ano de produção: 2016
Classificação: 12 anos

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
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