CRÍTICA | ‘A Mulher Que Se Foi’ provoca o espectador por sua imersão contextual histórica

Bruno M. Castro

|

1 de maio de 2017

Após permanecer presa por 30 anos, Horacia (Charo Santos-Concio) anseia por vingança. Cruelmente prejudicada por uma falsa acusação feita por seu ex-namorado, Rodrigo Trinidad (Michael De Mesa), a mulher ainda tem de lidar com morte do marido e o desaparecimento do filho.

Em meio a um preto e branco de quadros estáticos, compostos por um sublime contraste de luz, A Mulher Que Se Foi (Ang babaeng humayo), drama de Lav Diaz vencedor do Leão de Ouro do Festival de Veneza de 2016 -, provoca o espectador por sua imersão contextual histórica, sua espontaneidade no trato aos personagens e sua gradual, sensível e legítima forma de lidar com o cotidiano de uma sociedade de vida, ao mesmo tempo, precária e soberba, arraigada por desigualdade e miséria. Muito dessa espontaneidade está dispersa sobre o roteiro, mas o elenco também responde à altura. Com grande potencial dramático, aos poucos a Hollanda de John Lloyd Cruz conquista seu espaço. O cômico Magbabalout de Nonie Buencamino também merece menção por seus congênitos quase monólogos.

O diretor é conhecido por habitualmente abordar diversas situações da sociedade filipina em suas obras e por viver o cinema sem limite de tempo, sendo este um mero acompanhante do enredo, e não sua restrição.

Em A Mulher Que Se Foi, tudo parece rotineiro, mas, ao mesmo tempo, incrivelmente dinâmico. Tudo isso graças aos personagens periféricos, que, aos poucos, vão sendo introduzidos à vida de Horacia e mudando sua perspectiva de mundo. São personagens icônicos, que trazem à tela cenas memoráveis, cenas onde a felicidade momentânea transborda sinceridade e onde solidão e morbidez psicológica se transformam em empatia e companheirismo.

Seus 228 minutos de duração se justificam a cada cena, até que, de repente, linhas do fim se entrelaçam com as do início em uma linguagem poeticamente tangível, sendo este o momento em que a verdadeira mensagem é repassada ao espectador e o mesmo compreende a forma de agir da personagem, a sua natureza e o peso da esperança, da lealdade e da benevolência sobre aqueles que foram profundamente marcados por terríveis acontecimentos.

TRAILER:

FOTOS:


FICHA TÉCNICA:
Título original: Ang babaeng humayo
Direção: Lav Diaz
Elenco: Charo Santos-Concio, John Lloyd Cruz
Distribuição: Zeta Filmes
Data de estreia: qui, 04/05/17
País: Filipinas
Gênero: drama
Ano de produção: 2016
Duração: 228 minutos
Classificação: 12 anos

Bruno M. Castro

O que sabemos sobre Wicked Boa noite Punpun Ao Seu Lado Minha Culpa Lift: Roubo nas Alturas Patos Onde Assistir o filme Lamborghini Morgan Freeman