Crítica de Filme | Cemitério do Esplendor

Bruno Giacobbo

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17 de março de 2016

Apichatpong Weerasethakul é um velho conhecido do Festival de Cannes. Com apenas oito filmes em uma carreira que já tem 16 anos corridos, o cineasta tailandês participou cinco vezes da principal festa do cinema de arte do mundo. Em três destas oportunidades saiu vitorioso. Em 2002, 2004 e 2010, respectivamente, ele conquistou a mostra “Um Certo Olhar”, o Prêmio do Júri e a Palma de Ouro. Aplaudido pelo público local e pela crítica especializada, é um convidado ilustre, aguardado, sempre, com bastante ansiedade. No ano passado não foi diferente. Seu novo trabalho, Cemitério do Esplendor, chegou cercado de grande expectativa, foi elogiado, contudo, desta vez, não levou láurea alguma. Resultado justo, quando constatamos que estava concorrendo contra pequenas grandes pérolas como o islandês “Ovelha Negra” e o etíope “O Carneiro”; e tendo em vista a sua trama, que se comunica com bastante dificuldade com o público de fora da Tailândia.

A história é centrada na rotina diária de um hospital militar montado, quase que de improviso, na estrutura de uma velha escola abandonada. Lá, duas dezenas de pacientes parecem dormir o sono dos justos. Não dá para saber, em momento algum, se eles estão em coma ou qual é o motivo daquela permanente sesta coletiva. Fora os médicos e as enfermeiras; duas voluntárias se revezam no cuidado daquelas pessoas. Um aposentada, esposa de oficial norte-americano, e uma jovem médium que tem o dom de saber o que os enfermos estão sentindo. Com o passar dos dias e o compartilhar de experiências, elas ficam amigas e se aproximam de Itt, um paciente que não recebe nenhuma visita há um longo tempo. De uma hora para outra, ele acorda e o dia a dia delas passa a ser preenchido, também, por passeios ao ar livre e divagações sobre a vida e outros assuntos completamente aleatórios.

Ainda que conte com uma bela fotografia e direção de arte esmerada, Cemitério do Esplendor tem uma enorme dificuldade em se comunicar com o grande público. Em diversas entrevistas, o diretor revelou que seu filme funciona com uma metáfora para questões sociais da Tailândia. Que questões? Esta é uma pergunta que permanece ao término da sessão. Os aspectos técnicos, já elogiados, levam os espectadores, contemplativamente, a mergulhar naquele mundo. Há uma beleza peculiar e conhecer novas culturas, normalmente, é uma experiência interessante. No entanto, quando esta se revela de difícil compreensão, corre-se o risco de perder a audiência. É mais ou menos como querer juntar fantasmas e batalhas mitológicas a uma realidade ordinária esperando que faça sentido para todo mundo. O cinema é universal, mas as pessoas não falam todas as mesmas línguas. É necessário um meio termo se você não quiser ficar falando sozinho. Desliguem os celulares.

FICHA TÉCNICA

Título original: Rak ti Khon Kaen
Distribuição: Zeta Filmes
Data de estreia: qui, 17/03/16
País: Tailândia, Reino Unido, Alemanha, França, Malásia
Gênero: drama
Ano de produção: 2015
Duração: 122 minutos
Direção: Apichatpong Weerasethakul
Elenco: Jenjira Pongpas Widner, Banlop Lomnoi

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
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