Crítica de Filme | Frank

Giselle Costa Rosa

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16 de abril de 2015

Frank vem sendo definido pela crítica como um longa “esquisito e maravilhoso”.  A excentricidade de como a história é contada, captura antes mesmo que o personagem de Frank e sua cabeça falsa gigante, inspirado na persona cômica de Chris Sievey, cantor da banda The Freshies e comediante, apareça em cena. É interessante ver John Burroughs (Domhnall Gleeson) , um rapaz deslocado, que sonha em ser um tecladista e compositor de sucesso, em sua jornada. Ele possui recursos, meios, mas falta-lhe um tantinho de talento, ou seria sorte de encontrar as pessoas certas para fazer acontecer? Então, andado por aí, um belo dia, Jonh praticamente tropeça com o produtor de uma banda, a The Soronprfbs.

O filme,  dirigido por Lenny Abrahamson e escrito por Peter Straughan, tem personagens peculiares. Músicos, em geral, já carregam uma certa estranheza, e isso se potencializa quando o tipo de música a ser produzida foge totalmente ao contexto de aceitação do grande público.

O personagem de Gleeson, sim o ruivo de “Harry Potter”, terá que aprender a conviver com Frank, um músico e compositor –  vivido por Michael Fassbender  (X-Men: Dias de um Futuro Esquecido,2014) – que utiliza todo o tempo uma cabeça falsa gigante, sujeito digamos excêntrico em seu modo de ser e agir com o mundo em torno. Aliás, todos na banda tem seu grau de esquisitice. John fica fascinado com Frank, pessoa generosa e estranha ao mesmo, e toda a atmosfera que cerca o grupo. O fato da gigantesca cabeça artificial nunca ser retirada (nem mesmo para comer, tomar banho ou dormir), gera uma enorme curiosidade e a única coisa que se sabe é que aquilo parece ser absolutamente necessário para o conforto psicológico de Frank.

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Essa cabeça coloca o personagem de Fassbender em uma posição quase infantil, com um contraste entre corpo de homem e rosto de um boneco, com aquela expressão de olhos arregalados e boca semi aberta. Isso gera um sentimento de desconforto, mas que não é ruim no todo.  Quando o produtor da banda (Scoot McNairy ) leva John, Frank e os outros membros do The Soronprfbs para uma cabana isolada no intuito de experimentar novos sons, intensificar a convivência e produzir o melhor álbum musical possível, vemos o quanto pode ser tornar difícil a convivência entre pessoas.

A aceitação do novo membro do grupo não é tranquila. John sofre com um certo isolamento e está sempre tentando se entrosar por meio de sua música No entanto, tudo o que consegue é ser deixado de lado justamente por ela e seu desejo de fazer sucesso, enquanto os demais apenas desejam tocar, independente do público gostar ou não. O maior obstáculo entre ele e o sucesso será Clara, vivida pela atriz Maggie Gyllenhaal, de “O Cavaleiro da Trevas”, que além de não compartilhar de seu ideal, ainda o humilhará sempre que possível em termos musicais e pessoais. Todo o seu esforço para ser aceito como um membro efetivo da banda se esvairá ao forçar a mudança de rumo da mesma.

Inegavelmente John é um cara de iniciativa, mas de pouco talento e nada inspirador. Ao se ver em uma posição de mais poder junto ao Frank, retorna ao seu isolamento inicial. Ele mexe naquilo que não deveria ser alterado. E tudo pode desandar e muito, pois nem todos estão destinados ao sucesso, à glória de ser ovacionado por um grande público. De qualquer forma, não é muito difícil se tornar uma celebridade vazia de toda e qualquer habilidade, sendo reconhecido por milhares de pessoas, sem que para isso produza algo de valor em nossos dias atuais.

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Lenny Abrahamson conseguiu fazer uma produção interessante, cativante e divertida, dosando bem o peso dramático dos personagens na trama. Gleeson demonstra muito talento no papel do tecladista. Soube conduzi-lo de forma eficiente pela narrativa em sua crescente ambição pelo sucesso, na busca de seu personagem pelo pertencimento de algo maior e finalmente no entendimento que nem sempre aquilo que almejamos é de fato o lugar onde deveríamos estar. Já Fassbender consegue nos ganhar paulatinamente e oferece-nos uma atuação na parte final esplendorosa, sem ser apelativa, no tom devido e condizente com a história apresentada ao longo dos 95 minutos de filme por meio de um roteiro insanamente criativo e sem preocupação com explicações verossímeis e que poderia ter ido mais fundo no personagem Frank.

BEM NA FITA: belas atuações, direção e a forma natural como é tratada a complexidade psicológica de Frank.

QUEIMOU O FILME: pontas soltas e o não aprofundamento do roteiro.

TRAILER

FICHA TÉCNICA:

Título Original: Frank
Direção: Lenny Abrahamson
Roteiro: Peter Straughan
Elenco: Michael Fassbender, Domhnall Gleeson, Maggie Gyllenhaal
Gênero: Comédia, Drama
Duração: 95 min
País: Reino Unido , Irlanda
Ano: 2014

Giselle Costa Rosa

Integrante da comunidade queer e adepta da prática da tolerância e respeito a todos. Adoro ler livros e textos sobre psicologia. Aventuro-me, vez em quando, a codar. Mas meu trampo é ser analista de mídias. Filmes e séries fazem parte do meu cotidiano que fica mais bacana quando toco violão.
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