CRÍTICA | ‘Depois Daquela Montanha’ foge da pieguice, mas peca no desfecho

Bruno Giacobbo

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12 de outubro de 2017

Qual é a receita de sucesso de um longa-metragem? Assim, de bate pronto, eu diria que não há uma apenas. São muitos tipos de obras e espectadores com preferências bastante variadas. No entanto, existe uma fórmula relativamente segura. Ela não agradará palestinos e holandeses, mas, com certeza, conquistará muitos corações. Anotem aí: juntem dois atores de sucesso (Kate Winslet e Idris Elba), um diretor com duas indicações ao Oscar de melhor filme estrangeiro (Hany Abu-Assad) e um best-seller que conta uma história de amor, superação e fez muita gente chorar mundo afora. Pronto. Estes são os elementos que formam Depois Daquela Montanha (The Mountain Between Us), a segunda incursão deste cineasta palestino de nacionalidade holandesa no cinemão norte-americano.

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Alex Martin (Kate Winslet) é uma jornalista que está atrasada para o próprio casamento. Já o médico Ben Bass (Idris Elba) é um neurocirurgião que tem uma operação marcada para a próxima tarde. Os dois eventos acontecerão na mesma cidade e ambos se encontram no aeroporto, à espera do voo que os levará para os seus destinos. O problema é que o mau tempo de última hora fez todos as decolagens serem canceladas. Não há teto para voar e eles só poderão viajar no dia seguinte. Ao descobrir que estão indo para o mesmo lugar, Alex sugere a Ben que aluguem um monomotor e viajem de qualquer jeito. Pelo dinheiro certo, Walter (Beau Bridges), aceita levá-los. Entretanto, contrariar o destino (eu já usei esta palavra uma vez, né?) não é algo aconselhável. Um problema durante o percurso fará o avião cair no meio de uma cordilheira nevada e os protagonistas terão que lutar pela própria vida acompanhados de um simpático labrador que pertencia ao piloto.

Depois Daquela Montanha corria o risco de ser mais uma história carregada de uma pieguice que descamba para o melodrama, porém, não é isto o que ocorre. Não li o livro e, consequentemente, desconheço o tom literário do autor Charles Martin. Todavia, o roteiro adaptado, escrito por Chris Weltz e J. Mills Goodloe, conseguiu equilibrar bem o romance e a luta pela sobrevivência. São dois estranhos, sendo ela, em tese, apaixonada, pois iria se casar em menos de 24 horas. Não dava para acontecer nada rapidamente. Assim, à medida que são obrigados a passarem cada vez mais tempo juntos, eles vão se conhecendo e aí, sim, tornando crível qualquer tipo de envolvimento. O que surge é um relacionamento maduro, entre dois adultos bem diferentes, mas com personalidades fortes e delineadas.

Kate Winslet e Idris Elba, por si só, possuem potência dramatúrgica suficiente para carregar qualquer filme nas costas. Contudo, neste novo e belo trabalho de Abu-Assad não é necessário este esforço hercúleo. Todos os outros elementos corroboram para um resultado redondo e sem nenhuma grande aresta a ser aparada. O roteiro, como já relatado, funciona, a fotografia, em tons variados de azul e de um branco luminescente, por causa das muitas camadas de neve, emoldura os personagens e passa a sensação de que deve ser terrível a possibilidade de morrer em um lugar tão bonito, enquanto a direção orquestra todas as peças em perfeita sintonia. O único senão da película é o seu desfecho. Não pela previsibilidade lógica e aceitável, neste caso, mas pela enrolação dispensável. Poderiam ter ido direto ao ponto.

Desliguem os celulares e ótima diversão.

*Filme visto no 19º Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro

::: TRAILER

::: FOTOS

::: FICHA TÉCNICA

Título original: The mountain between us
Direção: Hany Abu-Assad
Roteiro: Scott Frank, J. Mills Goodloe
Elenco: Kate Winslet, Idris Elba, Dermot Mulroney
Distribuição: Fox
Data de estreia: qui, 02/11/17
País: Estados Unidos
Gênero: drama
Ano de produção: 2017
Duração: 103 minutos
Classificação: a definir

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
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