Neville D'Almeida - Cronista da Beleza e do Caos

CRÍTICA | ‘Neville D’Almeida: Cronista da Beleza e do Caos’

Beatriz Trindade

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2 de julho de 2019

Amantes da brasilidade e cultura nacional sabem a importância e a força do cinema no período da ditadura. O mineiro Neville de Almeida foi uma das vozes que se levantaram em favor da liberdade e da ousadia que só a arte pode proporcionar nesses momentos. O documentário Neville D’Almeida: Cronista da Beleza e do Caos, do diretor Mario Abbade, trata de narrar fatos e curiosidades dos bastidores dos filmes de Neville. São peculiaridades do cineasta, relatos de atores e atrizes que trabalharam em seus filmes, bem como críticos, artistas e especialistas no assunto.

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Obra histórica

A saber, o filme não é apenas um simples documentário em homenagem ao cineasta. É quase uma obra histórica. Através dos registros raros e, ao nos contextualizar sobre o período em que foram lançados, a transgressão de seus filmes teve como resposta as bilheterias. Dividido por meio de blocos, o longa aborda o processo de planejamento e criação; do roteiro à filmagem; assim como a reação à censura; e a escolha dos atores. Os depoimentos são narrados de forma irreverente e descontraída. Estão no elenco Lima Duarte, Regina Casé, Cacá Diegues, Denise Dumont, Maria Gladys, Bruna Linzmeyer, Flavio Bauraqui, entre ouros. Intercalando trechos dos filmes, entrevistas, há também a presença de colagens de fotos de acordo com o assunto abordado, dando a pitada de descontração típica do cineasta.

O documentário fala sobre a proximidade de Hélio Oiticica e os trabalhos em parceria, como Mangue Bangue, em meados dos anos 70; bem como da criação do Cosmococa, o objetivo da provocação com as peças de arte e toda a recepção do projeto. Além disso, “Os 7 Gatinhos” também é citado. De maneira bem-humorada, Lima Duarte conta sobre como foi atuar, suas expectativas e a relação com o cineasta. A vontade de se mostrar a vida como ela é, sem pudores, chocava a sociedade conservadora da época. Já sobre “Rio Babilônia”, fala-se da cena de sexo a três protagonizada por Denise Dumont, que esclarece que não houve, de fato, penetração, mas sim uma simulação. E ainda conta sobre como foi lidar com as críticas dirigidas a ela na época. A película continuou sendo assunto quando comentaram a respeito do esquema de produção e da dificuldade de controlar o elenco gigantesco.

Neville D'Almeida - Cronista da Beleza e do Caos (1)

Conexão de Neville D’Almeida com Nelson Rodrigues

Uma pérola desse filme é a conexão de Neville D’Almeida com Nelson Rodrigues. O próprio cineasta conta de onde surgiu a ideia de filmar “A Dama da lotação”. A maneira inusitada, bem ao estilo de Neville – que propôs ao jornalista a autorização para produzir a versão do folhetim para o cinema, a escolha da atriz Sonia Braga para o papel de Solange, e parceria que se formou entre Nelson e Neville em outros filmes. Tudo isso é abordado durante o longa.

Além disso, o cineasta e os convidados tratam bastante do assunto censura durante o documentário. Seu ponto de vista a partir do olhar de uma sociedade conservadora sobre a arte fazendo uma espécie de censura. Os mestres do cinema nacional Glauber Rocha e Neville nunca foram melhores amigos. E o que se sabe é da tensão que havia entre eles e o cineasta rejeita os rótulos de “Cinema Novo” (linha representada por Glauber) e “Cinema Marginal” (categoria à qual os filmes de Neville eram ligados). Isso também é bem explicado no filme.

Neville D'Almeida - Cronista da Beleza e do Caos (2)

Resgate da história do cinema brasileiro

Por outro lado, o filme possui algumas detalhes que poderiam ter sido aprimorados e facilitariam a compreensão dos assuntos e de quem os aborda. Por exemplo: a forma com que o filme é dividido, algumas vezes, parece um pouco confusa. Um outro incômodo também é a pobre identificação do elenco durante os relatos, que acabava se perdendo no meio de tantos outros rostos e falas. Mas isso são apenas detalhes.

Em suma, Neville D’Almeida: Cronista da Beleza e do Caos se trata de um resgate da história do cinema brasileiro. Além disso, é uma exaltação da arte, principalmente com a forma como ela floresce em tempos de repressão. Rico em depoimentos, falas e considerações, a obra dirigida por Mario Abbade torna possível vários olhares e conclusões sobre Neville d’Almeida e seus trabalhos. Um documentário necessário para quem gosta de cinema nacional. Mas também é válido para quem não é fã, entretanto, quer aprender sobre o tema.

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Título original: Neville D’Almeida: Cronista da Beleza e do Caos
Direção: Mario Abbade
Elenco: Lima Duarte, Regina Casé, Cacá Diegues, Denise Dumont, Maria Gladys, Bruna Linzmeyer, Flavio Bauraqui
Distribuição: Fênix Filmes
Data de estreia: qui, 04/07/19
País: Brasil
Gênero: documentário
Ano de produção: 2019
Duração: 106 minutos
Classificação: 18 anos

Beatriz Trindade

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