CRÍTICA | ‘Rifle’ traz mais enigmas do que respostas

Bianca Moreira

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2 de agosto de 2017

Rifle, o mais recente longa-metragem de Davi Pretto, explora o Brasil rural e a problemática entre o pequeno produtor e o agronegócio por um ângulo inesperado. Pretto se propõe a discutir a questão da terra, a desigualdade social e o aspecto místico do sertanejo através de um olhar microscópico sobre uma região remota do Rio Grande do Sul.

Dione é o personagem principal da história, trata-se de um jovem pacato que vive com uma família em uma zona rural. A rotina desses personagens é um tanto monótona, fato que o diretor explora de forma exemplar ao fazer sequências narrativas inteiras contadas sem uma única fala. A tranquilidade de Dione é abalada quando um grande fazendeiro tenta comprar a pequena propriedade em que vive. Vendê-la significa para ele perder o emprego e talvez ter que tentar a vida na cidade, circunstância que rejeita a todo custo.  Diante dessa “ameaça”, Dione passa a carregar um rifle por onde quer que vá e tenta fazer justiça da forma única forma que conhece, com as próprias mãos.

Nesse ponto, Pretto traz uma perspectiva nova sobre a questão da migração. Se na geração passada havia um grande desejo da população rural de partir, hoje, já não é bem assim. O “mito” da vida de oportunidades na cidade não é mais tão convincente. Dione quer permanecer no campo, e desenvolve uma capacidade crítica diante da posição desprivilegiada que ocupa que se reverbera em violência e revolta.

Um aspecto interessante do filme é que todo o seu elenco foi composto por moradores locais da região de onde foi gravado, o que a principio não trouxe grandes prejuízos ao longa no quesito atuação. No entanto, alguns personagens possuem problemas de dicção e fala carregada pelo sotaque regional o que, em alguns momentos, prejudica a compreensão dos já escassos diálogos.

A trilha sonora é majoritariamente composta pelo som ambiente do local, quase não há música. Essa escolha traz uma noção mais sensorial ao expectador, fica ao nosso cargo a sensação que iremos sentir, desperta e explora a subjetividade que há em cada um de nós. Diferentemente da música, que, muitas vezes, acaba guiando nossas emoções.

Rifle fala de uma “vila” para se comunicar com o mundo, apesar de explorar diversos aspectos regionais e de temas que são mais caros ao Brasil, também trata assuntos universais como a solidão, o desamparo e a justiça social.

É um filme que traz mais enigmas do que respostas. Expõe fatos e acontecimentos, mas nem sempre nos mostra o porquê daquilo ter acontecido. Pretto opta por uma forma narrativa um tanto provocativa. A história não é contada de forma linear, temos acesso a ela junto com o personagem e assim como nossa memória, ela é fragmentada e cheia de elipses. O atraso narrativo que às vezes traz um aspecto maçante ao filme também abre espaço para uma reflexão crítica. Mais do que contar uma história, o diretor explora a temática e não a resolve para nós. Enfatiza a qualidade poética da película em vez de veicular informação ou convencer-nos de um determinado ponto de vista.

TRAILER:

FOTOS:


FICHA TÉCNICA:
Direção: Davi Pretto
Elenco: Dione Avila de Oliveira, Evaristo Pimentel Goularte, Andressa Nogueira Goularte
Distribuição: Vitrine Filmes – Sessão Vitrine Petrobras
Data de estreia: qui, 03/08/17
País: Brasil
Gênero: drama
Ano de produção: 2017
Classificação: 12 anos
Observação: Este filme faz parte da Sessão Vitrine Petrobras

Bianca Moreira

Estudante de jornalismo. Apaixonada por literatura,teatro, fotografia e especialmente pela sétima arte.
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