Democracia em Preto e Branco | Filme sobre movimento futebolístico tem locução de Rita Lee e música do Ira!

Wilson Spiler

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23 de outubro de 2014

A música de abertura, “Núcleo Base”, clássico do grupo paulista Ira!, e a locução de Rita Lee dão indícios do que está por vir: Democracia em Preto e Branco, uma coprodução TV Zero, Miração Filmes e ESPN dirigida por Pedro Asbeg, retrata um momento único da história do País: como a Democracia Corinthiana – movimento revolucionário futebolístico do início da década de 80, capitaneado pelos jogadores Sócrates, Casagrande e Wladimir -, o nascimento das bandas de rock brasileiras e a campanha das “Diretas Já” estiveram diretamente ligados entre si na busca por um Brasil mais livre e democrático. Seu lançamento coincide com os 50 anos do golpe militar e 30 anos das “Diretas Já” e as eleições de 2014.

Desde seu início fundamentado em uma ação coletiva, é o primeiro longa-metragem brasileiro a ser parcialmente financiado com crowdfunding. Na tela, entrevistas exclusivas com os protagonistas do movimento, entre elas uma das últimas feitas por Sócrates antes de seu falecimento, além de um luxuoso time de personalidades, como os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luís Inácio Lula da Silva, e Marcelo Rubens Paiva, Marcelo Tas, Edgar Scandurra, Frejat, Serginho Groisman e Paulo Miklos. Serginho Groisman dá o tom da época – “Para mim estavam colocadas as três principais questões na minha vida: política, futebol e rock’n roll, não necessariamente nessa ordem.”

O filme conta ainda com emocionantes imagens de arquivo, como as manifestações que levaram multidões espalhadas pelo Brasil em busca do voto direto para presidente da República. Realizado ao longo de quatro anos, Democracia em Preto e Branco leva o espectador a uma viagem pelas principais histórias e personagens que ilustram um singular período de sonhos, conquistas, utopias e desilusões na história do Brasil.

Veja o trailer:

Sobre a Democracia Corinthiana

No início da década de 80, enquanto estudantes, artistas e intelectuais participavam das campanhas pelo fim da ditadura militar, os jogadores do time paulista contestavam a estrutura autoritária que viviam no clube. Entre eles estavam Sócrates, com seu futebol intelectual, cerebral e inovador – “afinal, não é toda hora que um médico resolve ser jogador de futebol”, declara Lula -, Casagrande, centroavante que carregava a rebeldia do rock brasileiro que estava em franca ebulição, e Wladimir, que conhecia de perto a realidade da classe operária do País.

O trio viu a possibilidade de ver os paradigmas mudados com a entrada do diretor Adilson Monteiro Alves, sociólogo, que chegou ao clube oferecendo aos jogadores um modelo de gestão democrática. De início, vieram as escolhas conjuntas sobre os horários de treinos, concentração, contratação de novos jogadores e até uma nova divisão dos ganhos do time, agora também entre seus roupeiros, motoristas e outros funcionários. “Onde há crise, há possibilidade de revolução”, como lembra Sócrates. O “renascimento” transformou completamente a atuação dos jogadores. “Era algo de entrega total. O prazer de estar em campo suplantava qualquer coisa”, conta ele.

Em meio a um País violento e censurado, retratado em músicas como “Estado Violência”, dos Titãs e “Selvagem”, dos Paralamas do Sucesso, que cada vez mais borbulhava pedindo mudanças, o time vivia novas relações de liberdade de trabalho que não eram vistas em nenhuma outra grande esfera da sociedade, oficializadas quando entraram em campo com as palavras “Democracia Corinthiana” gravadas nas costas, ideia do publicitário Washington Olivetto.

Gradativamente, o movimento foi ganhando contornos maiores, mais ambiciosos e políticos, assim como o que era ouvido na música ao redor. “Era a primeira vez, desde 68, que um jovem de 18 anos cantava para outro jovem de 18 anos”, lembra Frejat. Mas a Democracia Corinthiana tinha muito mais do o público dos shows. Tinha uma torcida inteira nas mãos. Com a aproximação das primeiras eleições para governador desde o golpe, o clube subverteu de vez o status de “pão e circo” do entretenimento de massa ao entrar em campo, dessa vez com “dia 15 vote” estampado nas camisas e sendo voz ativa nos palanques dos comícios pelas Diretas Já!.

FICHA TÉCNICA:

Direção: Pedro Asbeg
Produção executiva: Gustavo Gama Rodrigues e Rodrigo Letier
Locução: Rita Lee
Texto e redação: Arthur Muhlenberg
Edição: Renato Martins
Direção de fotografia: Rodrigo Graciosa
Som direto: Rene Brasil
Pesquisa: Marcio Selem
Videografismo: Renato Vilarouca e Rico Vilarouca
Identidade visual: Tiago Peregrino
Trilha sonora original: Lucas Marcier e Fabiano Krieger
Edição de som e mixagem: Damião Lopes
Correção de cor: Daniel Canela
Pós-produção: Anna Julia Werneck
Duração: 90 min.
Co-produção: TV Zero, Miração Filmes e ESPN

Wilson Spiler

Will, para os íntimos, é jornalista, fotógrafo (ou ao menos pensa que é) e brinca na seara do marketing. Diz que toca guitarra, mas sabe mesmo é levar um Legião Urbana no violão. Gosta de filmes “cult”, mas não dispensa um bom blockbuster de super-heróis. Finge que não é nerd.. só finge… Resumindo: um charlatão.
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