Enquanto ela não vem

Ana Carolina Garcia

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15 de novembro de 2015

Esperar por ela sempre foi o que fiz e a esperaria cem vidas se pudesse. Nunca me senti tão em paz e inteiro como quando estava em seus braços. E agora ela estava voltando pra mim de novo. Talvez não como eu quisesse, mas estava voltando. E tudo ficava melhor quando ela estava na minha vida. Não havia nada de errado no mundo e parecia que eu podia respirar novamente sem sentir a dor que trazia comigo.
A verdade é que ela sempre me quis, mas não sabia disso. E eu sabia disso também. Mas isso não mudava o fato que as nossas vidas estavam léguas de distância. Sabia que precisava de mais tempo com ela, precisava de mais momentos para fazê-la ver o que ela já sentia, mas não entendia ainda.
E agora, estava eu novamente aguardando para tê-la em meus braços e ao alcance dos meus olhos. Estava cansado de conversar por mensagens, e-mails e webcams. Queria tê-la comigo no mesmo fuso horário, mesmo continente, no mesmo país. Queria mostrar pra ela as coisas que eu amo, meus lugares preferidos, minha cidade, minha casa. Mas agora não sabia o que faríamos, afinal. Recomeçaríamos de onde paramos? Não, isso não era possível.
Seis meses tinham se passado desde que a toquei pela última vez e deixá-la foi à coisa mais difícil que já tive que fazer. Agora penso que fui um idiota, que deveria ter jogado tudo pro alto e ter ficado ao seu lado, por mais improvável que isso parecesse na ocasião. Ela me disse no aeroporto que não tinha o direito de me pedir pra ficar e não podia me prometer nada. Mas queria mais do que tudo, que eu escolhesse ficar.
Eu me mantive firme na minha decisão, falei que a amava e que nos veríamos de novo antes do que ela esperava. Encostei meus lábios nos seus uma última vez e senti o cheiro de lavanda que vinha do seu cabelo. Abracei-a e respirei fundo tentando sorver cada fração daquele momento. Quando olhei seus olhos azuis novamente, um tsunami tomou conta deles e eu falei pra ela: – não chora, senão não consigo entrar no avião. Largo tudo e nunca mais te deixo.
Ela tentou um sorriso por entre as lágrimas que teimavam em cair e me disse: – eu sei, por isso que dói. Nunca tivemos uma chance real de dar certo, mas se tivéssemos você seria o homem certo pra mim.
Eu perdi meu ar por um momento e me senti atingido por um raio. O que eu faço com uma afirmação dessas? Sem saber o que dizer, trouxe-a pra mais perto e a abracei não querendo nunca mais soltá-la. Disse em seu ouvido aquilo que já estava transbordando dentro de mim e que não poderia mais conter. Disse o que sempre quis dizer a ela, mas tinha medo de assustá-la, medo que ela não tivesse pronta ainda ou simplesmente não se sentisse da mesma forma. Mas nesse momento, todas as minhas preocupações não importavam mais e disse que a amava desde a primeira vez que a vi há quase dois anos atrás. E que se daqui a seis meses ela ainda se sentisse assim, eu prometia que mudaria minha vida do avesso para ela poder entrar.
Selamos nossa promessa com um beijo. Segurei seu rosto entre minhas mãos e disse que a amava novamente e dessa vez ela disse que me amava também. Sorri pra ela, abaixei, peguei minha mala e caminhei de encontro ao portão de embarque. Foi à caminhada mais longa da minha vida e por um momento pensei que não ia conseguir manter minha decisão. Seu olhar suplicante perfurando minhas costas, também não ajudou. Mas dei o cartão de embarque e mostrei meu passaporte à comissária e entrei no avião. Ela acenou e não olhei mais pra trás.
Seis meses depois me encontro aqui mais ansioso e inseguro que o habitual esperando desembarcar a mulher que eu amo mais do que tudo. Sim, se ela ainda me quiser. Se tudo continuar como antes. Se conseguirmos retomar de onde paramos. Talvez isso seja possível. A verdade é que todas as minhas dúvidas irão se desfazer quando eu olhar pra ela, quando ela sorrir pra mim. Quer saber, eu ainda não sei como faremos isso. O que realmente importa é que em menos de vinte minutos a terei em meus braços de novo e dessa vez, será pra sempre.

Ana Carolina Garcia

Penso melhor com a caneta em punhos cintilando no papel ou com meus dedos tocando nos teclados a espera da escrita que desabrocha. Adoro os livros da Martha Medeiros acompanhados de um bom café e uma boa música para começar os domingos. Cinéfila por opção tenho Almodóvar, Tarantino e Woody Allen no meu altar particular. Escrevo no blog A Razão de Toda a Pressa e o site Engramas.

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