Jogos de Tabuleiro

Jogos de Tabuleiro que fazem sucesso com aposentados no Japão

Leandro Stenlånd

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24 de novembro de 2020

Quando o assunto é Jogos de Tabuleiro, a cena não é rara: aposentados reunidos ao redor de uma mesa, dois deles mais concentrados, atentos a um tabuleiro que os faz adversários; outros, de pé, mais descontraídos, dando palpite, apostando no vencedor. Apesar disso ser comum no Brasil em mesas de carteado, no Japão a coisa é diferente.
Alguns fumam freneticamente, falam alto, discutem, contestam o resultado do jogo, enquanto os mais tranquilos se calam e refletem sobre a próxima jogada. Grupos assim ocupam praças e casas de todo o Brasil e as transformam em verdadeiros salões de jogos, onde o que mais se vê são partidas de tranca, dominó, truco e xadrez. Japoneses aqui no Brasil também participam de encontros deste tipo, mas os jogos são outros: o shogui e o gô.
“Passamos as tardes jogando, do meio-dia até depois das sete da noite. Somos aposentados, e essa é uma forma de passar o tempo e se distrair”, explica Massaharu Inoue, que joga shogui desde os 15 anos. Ele frequenta diariamente a Associação Brasileira de Shogui, no bairro da Liberdade, em São Paulo. Decerto, lá, fez amigos e “companheiros de jogo”, senhores que, apesar da aparência austera, mostram-se sempre dispostos a ensinar aos novatos as regras e macetes do jogo. “A gente ensina, disputa, toma uma bebidinha, come um amendoim…é divertido”, brinca.

Ausência de mulheres

A associação, segundo seu presidente, Hiroshi Utsumi, foi fundada por japoneses, em 1948, e conta com cerca de 120 sócios, em geral com mais de 60 anos, poucos jovens, somente seis ocidentais e nenhuma mulher. Não que haja machismo contra elas. “A associação está aberta para qualquer pessoa, de qualquer idade, sexo ou raça”, garante o presidente. Para frequentá-la basta pagar uma anuidade de R$ 140.

Kazuo Abe, jogador associado, interrompe seu jogo para justificar a ausência de senhoras. “As mulheres também podem jogar, mas isso é raro. O shogui é muito difícil de aprender, elas ficam cuidando da casa e não prestam atenção no jogo. Pela dificuldade, as mulheres acabam não se interessando muito”, explica, quase sem preconceitos. A saber, Abe relembra sua infância no Japão para falar dos primeiros contatos com o jogo. “Lá, quando chove, não dá para trabalhar na roça e não há nada para fazer. Assim sendo, os homens se distraem jogando. Decerto, aprendi o shogui observando meu pai, num desses dias chuvosos”, conta.

GÔ: Aprendizado em duas horas

Ohara, o grande mestre de gô, segundo seus parceiros: “Com atenção, é possível aprender em até duas horas”
Assim, além do shogui, a associação abre seu espaço para a prática de xadrez e gô. Ademais, este último, entretanto, tem um lugar reservado na Fundação Japonesa de Gô (Nihon Ki-In), que promove campeonatos regionais, nacionais e até internacionais.

Katsushigue Ohara, 68 anos, é apontado pelos parceiros como um importante mestre do gô em São Paulo. Segundo ele, com bastante atenção, é possível aprender a jogar em até duas horas. “Eu aprendi aos 5 anos de idade, sem querer, só observando os outros”, conta. Ele explica que no Brasil não há jogadores profissionais de gô e shogui. No Japão, há cerca de mil profissionais, e na China, berço desses jogos, aproximadamente 3 mil.
Para estas pessoas, os esportes representam muito mais que lazer. Jogando, eles celebram a cultura japonesa, confraternizam com amigos, e fazem do tempo vago um momento para exercitar a mente.
Hissao Uyama, praticante de ambos os jogos, explica que a atividade “é boa para deixar a cabeça funcionando bem”, pois exige muito raciocínio. “Shogui e gô não são jogos de azar, como o hanafuda (veja quadro à direita) ou o pôquer, mas de estratégia. Tem que pensar muito antes de cada jogada”, finaliza.

O shogui

A saber, praticado por mais de 20 milhões de pessoas no Japão (de forma amadora), é um dos Jogos de Tabuleiro que requer muita estratégia, que tem como objetivo capturar o rei do adversário, numa espécie de variação japonesa do xadrez. Acredita-se que tenha sua origem no chaturanga, praticado na Índia por volta de 3 mil a.C., depois modificado e levado para o Japão pela China por volta do século 8. Assim, somente 600 anos depois, ele adquiriu a forma atual. A principal diferença entre o shogui e o xadrez é que os jogadores podem reutilizar as peças capturadas dos oponentes.

É muito difícil de aprender”, afirma Kazuo Abe

O gô

A partir de elementos simples como conchas e pedras, o jogo se desenvolveu com crescente popularidade por mais de 40 séculos. Originou-se na China há 4 mil anos e foi levado para o Japão há 1.300 anos, sendo praticado inicialmente só pela aristocracia.
Aliás, neste jogo sempre há duas pessoas e tem como objetivo a conquista de territórios representados pelas 361 interseções das linhas. Assim, o jogo termina quando se esgotam as possibilidades de variações. Vence quem conquista mais territórios.

Hanafuda, o jogo que deu nome à máfia, e majan

Quando se fala de Jogos de Tabuleiro, o majan faz lembrar o dominó. Assim, quatro pessoas com 136 peças jogam, com símbolos e ideogramas que as identificam. Ademais, cada um tem 13 peças, as outras ficam no centro do tabuleiro, viradas para baixo. Decerto, os jogadores se revezam retirando e descartando peças, tentando formar combinações nas suas mãos. Ganha quem conseguir combinar seu jogo primeiro. No Japão na década de 20, introduziram aos japoneses que retornaram da China ou dos Estados Unidos, sendo, portanto, pouco praticado no Brasil.

O hanafuda é um jogo de azar, um dos Jogos de Tabuleiro, com apostas em dinheiro. Algumas pistas levaram a reportagem até alguns jogadores – inclusive mulheres –, mas eles se recusaram a dar entrevistas ou vincular seu nome ao jogo.
Assim, neste jogo de cartas, perde quem terminar com uma combinação equivalente a 20 pontos – uma sequência de oito, nove e três. Este seria um lance tão ruim, que se costuma chama-lo de “porco”. Em japonês, a pronúncia destes números é Ya – Ku – Za, expressão que usaram como gíria pelas primeiras quadrilhas de mafiosos para designar algo inútil. Igualmente p termo se popularizou, passando a significar o que é imprestável, como a máfia japonesa Yakuza.

Leandro Stenlånd

Leandro não é jornalista, não é formado em nada disso, aliás em nada! Seu conhecimento é breve e de forma autodidata. Sim, é complicado entender essa forma abismal e nada formal de se viver. Talvez seja esse estilo BYRON de ser, sem ter medo de ser feliz da forma mais romântica possível! Ser libriano com ascendente em peixes não é nada fácil meus amigos! Nunca foi...nunca será!
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