Maria do Caritó (3)

‘Maria do Caritó’ | CRÍTICA

Alvaro Tallarico

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1 de novembro de 2019

Maria do Caritó fala sobre feminismo, política, subestimação da cultura, religiosidade, espiritualidade, manipulação, poder e dinheiro. Maria (Lília Cabral ) começa o filme narrando e explicando o que é “caritó”: uma pequena prateleira no alto de uma parede, onde as mulheres escondem objetos para as crianças não pegarem. Assim está a personagem principal: guardada.

A saber, o longa é baseado em uma peça homônima. A comédia ficou cinco anos em cartaz até chegar aos cinemas. O espetáculo foi indicado a seis categorias no Prêmio Shell 2010; teve ainda a vitória de Lília Cabral na categoria de Melhor Atriz no Prêmio Contigo 2011.

A trama

O pai de Maria fez uma promessa durante seu nascimento para que ela se mantivesse virgem até o fim da vida, diretamente para São Djalminha. Por isso, o povo da cidade de Úrsula a considera uma santa e seu pai vende elixir do suor dela. O diretor João Paulo Jabur e a direção de arte focam na cor azul, representando o céu e Nossa Senhora. Muitas vezes, a câmera fica atrás de véus, dando uma aura de pureza. Prestes a completar 50 anos, Maria está para ser canonizada, mas ainda tem esperanças de perder a virgindade e seguir outro caminho.

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Maria do Caritó (2)

Além disso, outra cor que surge para contrastar com o azul é o vermelho, presente principalmente no circo, trazendo uma aura de intensidade, vida, calor. O roteiro ironiza a fé não-raciocinada e tem momentos bem engraçados. O Coroné é um político corrupto tentando ser prefeito ao ligar sua imagem à santa da cidade, Maria do Caritó. O sem-vergonha chega a dizer que a primeira coisa que vai extinguir é a Secretaria de Cultura da cidade.

Lília Cabral em ótima forma

Lília Cabral é, de fato, quem carrega a exibição, sendo a protagonista e estrela do filme, em ótima atuação. A atriz de 62 anos consegue inserir ingenuidade e soar relativamente crível. Na realidade é tudo uma grande alegoria para provocar reflexão sobre coronelismo, bem como manipulação da fé, repressão sexual, fanatismo religioso e machismo estrutural. O longa-metragem é propositadamente exagerado. Temos ainda o “russo” Anatoli (Gustavo Vaz) falando essa complicada língua em diversas pérolas com “Dostoiévski”, “balalaika” ou “Chechênia”.

No segundo ato, o longa-metragem perde um pouco o ritmo, contudo, sem incomodar muito. O plot twist no final traz algumas revelações. Em suma, uma comédia romântica engraçada, lírica, com saborosos toques teatrais, que planta diversas sementes de reflexão no subtexto. Ave Maria… do Caritó.

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Título original: Maria do Caritó
Direção: João Paulo Jabur
Elenco: Lília Cabral, Leopoldo Pacheco, Juliana Carneiro da Cunha
Distribuição: Imagem
Data de estreia: qui, 31/10/19
País: Brasil
Gênero: comédia
Ano de produção: 2017
Duração: 90 minutos
Classificação: 12 anos

Alvaro Tallarico

Jornalista vivente andante (não necessariamente nessa ordem), cidadão do mundo, pacifista, divulgador da arte como expressão da busca pela reflexão e transcendência humana. @viventeandante
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