Precisamos conversar sobre o que significa o Dia Internacional da Mulher

Ana Carolina Garcia

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8 de março de 2016

O dia 8 de março foi oficializado pela ONU em 1975, mas sua origem vem de muito antes. Em 1857, as operárias de uma fábrica de tecidos fizeram uma greve reivindicando melhores condições de trabalho, diminuição na carga horária de trabalho e a equiparação dos salários com os homens. Foram trancadas dentro da fábrica que foi incendiada e estima-se que 130 mulheres morreram carbonizadas.
O objetivo desse dia é refletir, discutir o papel da mulher na sociedade atual. Gerar conscientização através de debates e reuniões.
Obviamente, houve conquistas, mas há muito para ser mudado. Temos que conversar sem tabu, crenças políticas ou religiosas sobre a descriminalização do aborto. A questão não é se é a favor ou contra o aborto. Mas se é justo uma mulher ser criminalizada por fazer um aborto, processada, condenada, presa.
É preciso tratar esse assunto como um caso de saúde pública e não através de dogmas religiosos ou políticos. Pois milhares de mulheres jovens, pobres e sem acesso a métodos contraceptivos morrem diariamente fazendo abortos em clínicas clandestinas ou tomando remédios abortivos, algo que poderia ser facilmente evitado se o mesmo procedimento fosse realizado em um hospital, por um médico e com condições adequadas para evitar casos de infecção hospitalar.
Precisamos falar sobre a lei 13.104/15, que tipifica o feminicídio como homicídio qualificado e o inclui no rol de crimes hediondos. Ou seja, o crime contra a mulher motivado por razões de gênero, quando o crime envolver violência doméstica e familiar, ou menosprezo e discriminação contra a mulher, é enquadrado como os tipos de homicídio qualificado. A lei 13.104/15 foi sancionada pela Presidenta em 09/03/2015 e é considerada um avanço na luta dos direitos das mulheres. A finalidade da criação dessa lei é coibir assassinatos contra as mulheres, tem caráter preventivo e deixa claro que a sociedade e a justiça não vai mais tolerar qualquer tipo de violência contra a mulher.
Apesar de inegável avanço, a lei que completa um ano nessa quarta-feira (09/03/2016), ainda não tem como ser mensurada sobre a sua aplicabilidade, pois faltam estatísticas nacionais sobre processos e sobre denúncias em todo o país, o que deixa claro que o Brasil precisa avançar mais nas políticas de combate aos homicídios femininos.
Precisamos falar mais sobre a saúde da mulher, o respeito à mulher na hora do parto, sobre a inserção das mulheres no mercado de trabalho em lugares predominantemente masculinos, como a política, forças armadas, por exemplo.
Devemos falar mais sobre a equiparação salarial entre homens e mulheres quando desempenharem as mesmas funções ou ocuparem os mesmos cargos, deve continuar sendo discutido para poder ser mudado.
Precisamos falar sobre a preferência dos empregadores em contratar jovens do sexo masculino, em detrimento as jovens do sexo feminino por estarem em seu período fértil e terem que lidar com uma possível gravidez e uma licença maternidade. O mundo corporativo é tão competitivo que por vezes a própria mulher se sente culpada por ter engravidado e teme ser demitida ao retornar ao trabalho após a sua licença maternidade.
Precisamos falar sobre o assédio moral, constrangimento e desvalorização de gênero que a mulher sofre diariamente em todas as esferas. Como o machismo de cada dia que está tão arraigado, normatizado, que é visto com banalidade e não é mais percebido. É aquela piadinha quando se toma uma fechada no trânsito e se diz: – “Tinha que ser mulher”. Quando uma mulher usa uma roupa muito curta ou provocante é rotulada como ‘fácil’, ‘prostituta’ e o clássico: – “Depois reclama quando mexem na rua”, “Tá pedindo pra ser estuprada”.
Precisamos falar do assédio sexual, humilhação e o estupro que acontece nos vagões de trem, do metrô, nos ônibus, nas ruas escuras, porque o corpo da mulher é considerado como propriedade pública.
Precisamos falar sobre a ditadura da beleza que impõe padrões de perfeição inatingíveis para as mulheres, que fazem jovens sofrerem com bulimia e anorexia em busca de um corpo ideal. Com a opressão que as mulheres devem estar sempre lindas e bem cuidadas ou para seus homens ou para consegui-los, devem se maquiar, fazer a sobrancelha, cabelo, depilação, fazer as unhas e ser magra, claro.
Precisamos falar sobre a autonomia e a emancipação do corpo feminino em todos os aspectos. O corpo da mulher não pertence ao Estado, não pertence à Igreja, não pertence ao homem e não é território público. A mulher tem que ter o direito assegurado pela Constituição de escolher se quer ou não interromper a sua gestação, a mulher tem que respeitada ao vestir o que ela quer vestir e não ser tratada como uma coisa, objetificada ou sofrer qualquer tipo de violência pelo homem, seja desde o machismo que passa pela cantada (que não é um elogio, é uma violência, um constrangimento) até o estupro.
Toda mulher merece ser respeitada independentemente de sua religião, crença, orientação sexual ou estado civil.
Toda mulher merece ter o direito de ir e vir respeitado sem ser vítima de violência seja verbal, física ou emocional.
É inegável que houve avanços, mas é um fato que temos um longo caminho pela frente, que temos muitas coisas a serem mudadas e esse é o objetivo do dia de hoje. Promover o diálogo, o debate, a reflexão do papel que a mulher ocupa na sociedade atual e o lugar que queremos ocupar no futuro. Hoje, não é uma data comemorativa, é um dia para refletir aonde chegamos e de luta para aonde queremos chegar.
Que nesse dia seja possível fazer um balanço, essa análise, para que seja possível avançar como sociedade e que um dia não seja mais necessário “Dia Internacional da Mulher”, “Dia da Consciência Negra” e “Dia do Orgulho Gay”, pois o direito de todas as minorias serão preservados, respeitados e assegurados pela Constituição e não haverá nenhum tipo de violência ou preconceito acerca de gênero, raça ou orientação sexual.
Esse texto é para todas as mulheres que lutam diariamente a favor das causas femininas e entendem que todas nós estamos conectadas, se uma mulher não está segura, nenhuma de nós está.
Para melhor mulher que eu já conheci, sem dúvida, minha mãe que fez da doçura e delicadeza sua força para combater diariamente o que ela acreditava ser certo.
E a todos os homens com alma feminina que tiveram a empatia de entender as mazelas que as mulheres enfrentam desde sempre e o que realmente queremos é igualdade e não um antagonismo com o sexo masculino ou um revanchismo.
“Nós ensinamos as meninas a se retraírem para diminuí-las. Nós dizemos para as garotas: você pode ter ambição, mas não muita. Você deve ser bem sucedida, mas não muito. Caso contrário, ameaçará o homem. Porque eu sou uma fêmea, esperam que eu deseje me casar, esperam que eu faça as minhas próprias escolhas na vida sempre tendo em mente que o casamento é o mais importante. O casamento pode ser uma fonte de alegria, amor e apoio mútuo, mas por que ensinamos às garotas a aspirar o casamento e não ensinamos a mesma coisa aos meninos? Educamos as garotas a se verem como concorrentes, não por emprego ou por realizações – o que eu penso que pode ser uma coisa boa -, mas sim pela atenção dos homens. Nós ensinamos as garotas que não podem ser seres sexuais da mesma forma que os garotos são. Feminista: a pessoa que acredita na igualdade social, política e econômica entre os sexos.” (Chimamanda Ngozi Adichie)
 
“Não se nasce mulher, torna-se mulher”. (Simone de Beauvoir)
 

Ana Carolina Garcia

Penso melhor com a caneta em punhos cintilando no papel ou com meus dedos tocando nos teclados a espera da escrita que desabrocha. Adoro os livros da Martha Medeiros acompanhados de um bom café e uma boa música para começar os domingos. Cinéfila por opção tenho Almodóvar, Tarantino e Woody Allen no meu altar particular. Escrevo no blog A Razão de Toda a Pressa e o site Engramas.

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