Resenha | ‘Coração de Aço’ tem brilhante história, recheada de ação, aventura e plot twists incríveis

Com um prólogo avassalador, só posso descrever que, ao ler Coração de Aço, me peguei sem ar, atônito e, ao mesmo tempo, feliz, quando terminei a leitura dele.

Já de cara, a obra nos apresenta uma história épica e cinematográfica. A Fox já detém os direitos de adaptação do livro, mas, felizmente, com a aquisição da empresa pela Marvel, poderemos ter uma bela adaptação nos cinemas . Digo isso pelo histórico da Fox em fiascos ao tentar adaptar histórias em quadrinhos, vide “Quarteto Fantástico”, “Assassin’s Creed” e “X-Men: Apocalipse”, embora tenhamos tido alguns bons filmes dos X-Men. De fato, as decisões visando o lucro da empresa e sua insistência em boicotar os diretores em todos os seus longas são itens que têm atrapalhado a qualidade dos filmes do estúdio. Já com a Disney, a esperança ressurge. Mas vou deixar esse assunto de lado, e por enquanto, vou me concentrar em contar a incrível experiência que tive com a leitura de Coração de Aço.

Estamos diante de uma história que é pouco convencional. Acostumados com pessoas com super poderes que trabalham em benefício da sociedade, aqui, uma legião de vilões super poderosos domina o nosso planeta. Nós, meros mortais, estamos redimidos à nossa incapacidade de nos rebelar, nos vendo obrigados a conviver como simples espectadores de nossas vidas a bel prazer de toda a vilania desses malfeitores. Mas, assim como toda e qualquer ditadura, a centelha da liberdade nunca cessa. E é disso que se trata essa obra.

O protagonista em questão é David Charleston, que presencia um momento traumático que mudará sua vida para sempre: a morte de seu pai. Além de uma experiência extremamente dolorosa, ela se agrava pelo teor traumático em que se desenrola ao ver seu pai sendo assassinado pelo maior vilão de todos os tempos: o Coração de Aço, um ser temido por todos, um Deus, um Épico. Épicos, assim se denominam esses seres com super poderes, sendo que cada um deles possui um poder peculiar e uma fraqueza também. No caso de Coração de Aço, ditador de Nova Chicago, trata-se do Épico mais poderoso entre todos e sua fraqueza é um mistério. David, a partir desse fatídico momento, ficou órfão. Para uma criança de 8 anos, passar por um trauma como esse pode ser algo irreversível e os estragos psicológicos irreparáveis.

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Passam-se então 10 anos e os efeitos da morte de seu pai geram um único sentimento possível em David: a vingança. O garoto leva a sua vida de forma cartesiana, visando um único objetivo que é claro em sua mente: a morte do Coração de Aço. Obter sucesso nessa missão que, aparentemente se demonstra suicida, não é algo que David compartilha apenas consigo. Numa ditadura à base da opressão, sirva ou morra, a rebeldia é algo intrínseca aos oprimidos. Assim surgem os coprotagonistas dessa obra. Denominados de Executores, o grupo busca disseminar a mensagem de que os humanos normais jamais se inclinarão, mesmo que a quantidade de pessoas que aderem a causa seja mínima. E a partir desse ponto que, pressupostamente, David buscará auxílio para realizar ou não a sua vingança.

O fator mais interessante em ler essa história é a sua total inversão nos que se diz respeito a seres com super poderes, um tema que já fora explorado outrora, no mundo dos games e quadrinhos, com o título de “Injustice: Gods Among Us”. A história do game narra o lado sombrio de Kal-El, o nosso amado Super-Homem, que  se descontrola com o falecimento de sua amada Lois Lane e instaura uma ditadura à base da violência sobre toda a humanidade. Existe similaridade em ambas as histórias, mas o livro ainda ganha bastante destaque, pois se trata de uma obra literária e que busca o aprofundamento de seus personagens. E diferente dos heróis do eixo DC/Marvel, os protagonistas de Coração de Aço são personagens desconhecidos aos leitores.

Fan Art meramente ilustrativa.

Trabalhar com super poderes, super vilões e super heróis, aos olhos de muitas pessoas, pode ser difícil de acreditar que já não se tenha lido ou assistido de tudo, que a maioria das histórias são apenas releituras ou não passam de um clichê de entretenimento, sem a busca de uma reflexão para assuntos que realmente importam. Concordo, em certo ponto. Obras infanto-juvenis buscam uma narrativa mais simples, uma forma de se comunicar de fácil compreensão, e que, por algumas vezes, abrem mão de um aprofundamento intrínseco. No cinema principalmente. Os famosos blockbusters, que são máquinas de dinheiro hollywoodiana, costumam ter esse direcionamento que, às vezes, ignoram a inteligência do espectador. Vide “Transformers: O Último Cavaleiro”.

Felizmente, esse não é o caso de Coração de Aço. Brandon Sanderson é o escritor dessa brilhante história recheada de ação, aventura e plot twists incríveis. O enredo prende a sua atenção e desperta a sua curiosidade por quase toda a leitura. Eu fiquei a todo instante com questões, ali guardadinhas, na espera de um desfecho e que, felizmente, tomavam um rumo surpreendente. Houve empatia durante a leitura, em que torcia para que tudo funcionasse bem e que David conseguisse superar o seu desejo de vingança.

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Lembra que comentei acima sobre a falta de aprofundamento em obras infanto-juvenis? Não ocorre em Coração de Aço. Todas as mensagens inseridas estão escancaradas. Não se trata apenas de uma história de heróis. Mas sim de criação de laços, perseverança, na luta diária de seres humanos comuns enfrentando dilemas que lhes parece maior do que a sua compreensão, e que, no fim das contas, basta acreditar em si mesmo. Obviamente, nem tudo é um mar de rosas. Existem poucos pontos em que a história precisa ser compreendida com bastante cuidado. Principalmente no que se diz respeito a vingança, pois esse sentimento geralmente vem anexado à raiva, ódio e pensamentos negativos, e que, na minha opinião, são motivadores que prejudicam muito mais do que fazem bem.

A história passa de forma muito interessante por vários aspectos. A construção detalhada dos personagens é um deles. De fato é importante narrar com clareza as suas motivações, ponto que tem sido falho nas telas do cinema, mas que fora desenvolvido na medida certa neste livro. David, Abraham, Cody, Megan e Professor (este não rouba a casa da moeda, eu acho), descobrem entre suas diferenças uma maneira de se entrosar em busca de seus objetivos. Todos os atos em que o grupo trabalha e se desenvolvem são fantásticos. Eu seria muito injusto se apontasse algo que esteve fora do lugar ou contexto. O enredo é muito bem amarrado e se os atos que precedem o desfecho já são bons, o ápice está no último e incrível capítulo.

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Por fim, posso concluir que vale muito a pena a leitura dessa obra. Me mantenho esperançoso, apesar do histórico, que seja produzida uma ótima adaptação para as telas do cinema. Assim como Spielberg fez em “Jogador Nº 1”. Coração de Aço é o primeiro volume da trilogia Executores, publicada no Brasil pela editora Aleph. O segundo livro da trilogia, Tormenta de Fogo, já está disponível para venda no site da editora e espero ansioso pode contar a minha opinião sobre ele.

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