RESENHA | ‘O Gato Preto’ de Edgar Allan Poe é uma leitura profunda com críticas ácidas e implícitas

Natalia Gulias

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29 de março de 2017

O Gato Preto de Edgar Allan Poe é um conto clássico lido e relido em diversas línguas diferentes pelo mundo inteiro. O que há de tão especial então na edição em quadrinhos lançada recentemente pela editora Martin Claret? Apesar de ser um conto rápido, sabe-se que o toque especial que toda história escrita por Allan Poe é o elemento sombrio, o terror que aproxima-se devagar e que promete – há pelo menos dois séculos – alimentar uma ansiedade intensa nos corações dos leitores que embarcarem em suas tramas. A nova edição do aclamado conto O gato preto promete estender o que torna esta obra tão especial por meio das imagens de tirar o fôlego dos amantes do estilo de escrita do autor, tão sombrias quanto a própria história.

Presente nas listas de leitura da maioria das escolas norte-americanas, o autor que modificou completamente os gêneros terror e suspense traz em O gato preto uma crítica singela sobre a natureza humana e sobre a escuridão presente nos homens, a qual manifesta-se, principalmente, no desejo pela violência – física ou emocional.

O conto é escrito em primeira pessoa, sob a perspectiva do próprio Edgar Allan Poe como personagem principal. Inicia-se com uma carta direcionada ao próprio leitor explicando a necessidade que se havia de escrever tais desabafos e pedindo ao mesmo que o lesse, apesar dos misticismos, da paranóia e dos abusos muitas vezes expressos neles.

O enredo principal está na vida de um homem, entende-se que este é o próprio autor, que durante sua vida recebeu críticas diretas pela forma como sentia tudo muito intensamente e por seu coração bom, foi assim que o homem apegou-se mais aos animais do que aos humanos.

“Há algo generoso e sem egoísmo amor de um animal que vai diretamente acocorarão de quem tem tido a ocasião de testar a amizade desprezível e a tênue fidelidade de um mero homem.”

Com o envelhecimento do homem, o temperamento do mesmo endureceu-se e ele deixou-se tornar indiferente aos sentimentos, assim como os colegas que o criticavam na infância. Apesar da irritabilidade, percebe-se que um dos seus animais de estimação, seu gato preto, permanece amável ao dono. A raiva crescente do homem alimentou nele o gosto pela violência e pelos maus tratos, assemelhando-se a uma situação de barbárie.

A esposa do homem apontou-lhe acerca das superstições que tem rodeado os gatos pretos há séculos, porém o mesmo a ignora, prosseguindo com sua forma suja e abusiva de conviver tanto com a esposa quanto com seus animais. As ilustrações são intensas que embarcam o leitor numa história cheia de reviravoltas e que deixam com “o coração na boca”. As sensações de escutar o próprio narrador falando e imaginar trilhas sonoras próprias de um filme de terror são constante para o leitor que se entrega totalmente aos desenhos com expressões e traçados muito característicos da natureza do gênero suspense.

“Eu mesmo não me conhecia mais. Minha alma original parecia de pronto ter abandonado meu corpo; e uma malevolência mais que diabólica, alimentada pelo fim, dominou todas as fibras do meu corpo.”

As críticas sociais presentes ao longo do pequeno conto são interessantes de serem apontadas, porém requerem uma leitura profunda, pois não são muito explícitas, como a questão das relações abusivas, na qual apenas o dono do animal beneficia-se durante a história, além do oportunismo dos seres humanos e o desejo por violência, existentes muitas vezes, no entanto escondidos em camadas profundas da sociedade.

O conjunto do livro traz, também, o conto na íntegra e completo, com uma tradução atualizada e uma interpretação de profissionais da literatura, o que permite ao leitor aumentar a visão em relação ao conto e dá ao mesmo a chance de atravessar a barreira do denominação de apenas uma “narrativa fantástica”.

“Sei que a perversidade é um dos instintos primitivos do coração humano – uma das faculdades ou sentimentos primários indivisíveis que orientam o caráter do Homem.”

A obra é recomendada não só aos amantes dos gêneros terror ou suspense, mas também aos apaixonados por leituras profundas, com críticas ácidas e implícitas e muito a se subentender a partir de um conto rápido de ser livro, mas que transmite uma mensagem muito ampla que cabe apenas ao leitor desvendar, uma vez que o mistério é a chave de quase toda história escrita por Edgar Allan Poe.

FICHA TÉCNICA

  • Capa comum: 72 páginas
  • Editora: Martin Claret; Edição: 1ª (6 de março de 2017)
  • Idioma: Português
  • ISBN-10: 8572329870
  • ISBN-13: 978-8572329873
  • Dimensões do produto: 27 x 19 x 0,6 cm
  • Peso do produto: 118 g
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Natalia Gulias

Uma vestibulanda de medicina de 17 anos usa seu curto tempo livre para ler bastante e descansar da pesada rotina de estudante.
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