RESENHA | ‘Os homens que salvavam livros’ foca na resistência de judeus durante a Segunda Guerra Mundial

Aline Khouri

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2 de janeiro de 2019

Qualquer palavra dita a respeito de Shmerke Kaczerginski, Zelig Kalmanovitch, Rachela Krinsky, Herman Kruk e Abraham Sutzkever parece ordinária e incapaz de descrever a dimensão de suas existências e, principalmente, de fazer jus a elas. Foram vidas dedicadas ao combate da destruição cultural promovida pelo Holocausto e que compreenderam o quão devastador era não apenas o extermínio dos corpos, mas também as ruínas de preciosidades culturais. Existe uma quantidade gigantesca de relatos sobre campos de concentração, mas David E. Fishman sublinha que poucos parecem compreender o Holocausto como um ato de pilhagem cultural. E é isto que ele destaca em Os homens que salvavam livros ao contar detalhadamente como os nazistas assassinavam os judeus e empenhavam-se em destruir sua cultura.

Nesse contexto, o autor conta as histórias de habitantes do gueto de Vilna, na Lituânia, que arriscaram suas vidas para defender preciosidades históricas. Milhares de livros, manuscritos e obras de arte foram roubados pelos nazistas e enviados a incineradores e a depósitos de lixo, considerados completamente descartáveis, assim como as vítimas aprisionadas, perseguidas e mortas durante o período. Os nomes das pessoas citadas no início deste texto foram alguns que decidiram fazer algo considerado completamente insensato para outras pessoas: contrabandear livros e documentos para escondê-los e protegê-los dos alemães.

Aquela era sua resistência; enquanto muitas pessoas só viam sentido no contrabando de comida, o grupo (chamado de “brigada de papel”) sabia possuir um dever crucial nas mãos, uma missão incompreendida, mas extremamente valiosa. A coragem e o esforço desses poetas e eruditos conseguiram resgatar obras, manuscritos e documentos raros da cultura judaica.

“Este livro conta a história de homens e mulheres que mostraram uma devoção inabalável à literatura e à arte, dispostos a arriscar a própria vida por isso. Coloca homens e mulheres de letras em confronto com dois dos mais mortíferos regimes da história”, ressalta Fishman, referindo-se também às dificuldades enfrentadas pela brigada de papel após o fim do domínio dos alemães e sob as autoridades soviéticas. Embora eles acreditassem que a saída dos alemães significaria a preservação de sua cultura, logo ficou claro que os soviéticos também eram hostis a ela e era preciso, mais uma vez, planejar o esconderijo dos tesouros judeus.

Fishman apresenta informações detalhadas de histórias incríveis. Há fatos que soam tão inacreditáveis que parecem inventados, mas mostram o quão transformador é o amor pelo conhecimento, pelos livros e pela arte. Este livro – que venceu o National Jewish Book Award – merece ser amplamente conhecido somente por abordar uma perspectiva do Holocausto que não é tão popular como as que tratam diretamente dos assassinatos. Na realidade, ele deveria ser lido e relido para que as histórias desses homens e mulheres que salvavam livros jamais sejam esquecidas.

Ficha técnica

Título: Os homens que salvavam livros – a luta para proteger os tesouros judeus das mãos dos nazistas
Autor: David E. Fishman
Editora: Vestígio
Tradutor: Luis Reyes Gil
Ano: 2018

Aline Khouri

Jornalista, com especialização em Cultura. Adora ler e escrever sobre pessoas e assuntos culturais, especialmente Literatura, Cinema e Teatro.
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