REVIEW | ‘Beat the Game’ é um jogo estranho e interessante

Alex Rodrigues

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11 de janeiro de 2018

Quando jogamos e tivemos as primeiras impressões de Beat the Game, jogo produzido pela Worm Animation, logo pensamos que seria um título no estilo ame-o ou odeie. Exageros à parte, as críticas que vimos seguiram exatamente esta máxima: ou eram muito positivas ou bastante negativas.

Ao longo deste review, vamos tentar entender o porquê destas opiniões tão opostas e também explicar um pouco deste adventure musical com uma proposta totalmente diferente de outros títulos com esta temática. Na verdade, a palavra “diferente” será muito lida algumas vezes por aqui.

Vamos começar pelo assunto, na minha humilde opinião, o mais polêmico: história. Prometo não revelar muitos spoilers, até mesmo porque não há muito para dizer. O jogo se passa em um futuro ou algum mundo com tecnologia avançada. O personagem começa em uma moto flutuante com o design que nos faz lembrar de imediato o mítico jogo Full Throttle.

Após um acidente, nosso personagem se vê preso em um deserto psicodélico repleto de personagens muito loucos, que, de várias maneiras, nos fornecem tons musicais. Isso será nossa matéria-prima durante todo o jogo. Peço desculpas à galera que entende de música, e posso me expressar erradamente sobre algum possível termo técnico. Por isso perdoem este velho gamer que adora música, mas não entende quase nada sobre ela.

Então, voltando à história do jogo… É que ela praticamente não existe! Nada é revelado sobre o seu personagem, muito pouco se fala sobre o cenário que você está inserido ou os habitantes deste universo. Parece que é até uma escolha dos produtores da Worm em não ter história, para o jogador focar totalmente na experiência do game.

Eu sou fanático por um enredo bem contado nos games, um quesito que me cativa bastante. Senti muita falta disso neste título, só que respeito esta forma de leitura do game. O gênero “indie” tem essa liberdade de desconstruir alguns aspectos tradicionais dos jogos, algumas vezes nos trás estranheza. Mas ser estranho está longe de ser algo ruim.

O gráfico é bonito e com cores vivas. No começo do jogo, por exemplo, o colorido monótono, característico dos desertos, não deixa tudo chato. Os objetos e personagens que compõem os locais parecem que foram pintados à mão. Por falar em pintura, a composição de todo o cenário com formatos surrealistas podem ser comparados com telas do pintor Salvador Dalí.

Apesar do surrealismo, podemos sentir que o nosso personagem e tudo o que o cerca tem um ar gótico com uma bota no punk. Um clima sombrio com irreverência, do tipo que não assusta, feito no melhor estilo Tim Burton. Você pode – e deve – interagir com algumas coisas nas cenas. Essa é outra maneira de procurar novas “batidas” para suas músicas. O cenário consegue ser bem “clean” e sem muita informação, facilitando a busca de objetos e pistas para solucionar os puzzles.

Tudo é muito diferente, um adjetivo que você ouvirá muitas vezes sobre Beat the Game, como disse no começo deste texto. Nada está fora do lugar ou confuso, o cenário é bem construído, apesar da proposta de mostrar um ambiente muito louco, que seria mais uma alucinação do que um mundo real. Alguns pequenos bugs foram detectados, como o nosso herói conseguir passar por dentro de uma pedra feito um fantasma. Mão esses erros não são muito recorrentes ao longo do jogo.

Joguei com o teclado e mouse, simultaneamente, sendo que o último ficava “esquecido” em alguns momentos. Você resolve quase tudo pelo teclado e o sistema de jogo é muito fluído. Apesar de se locomover com facilidade, senti falta da visão em 360 graus, muito característica de jogos em que se pode usar o mouse. Se você quiser olhar para trás, será necessário andar com o personagem, assim como o cachorro corre atrás da cauda.

Outra coisa bem diferente, e que deve causar estranheza, é a ausência de comandos simples como pular e agachar.  Não precisaremos deste tipo de esforço e nosso personagem está longe de ser um atleta. Ao mesmo tempo em que simplifica muita coisa, em alguns momentos falta uma coerência com a própria natureza do cenário, onde seria possível pular um obstáculo muito baixo, nosso personagem é obrigado a dar a volta ou encontrar outro caminho. Também poderiam ter criado a opção de correr. Mesmo não sendo lento, o deslocamento do boneco no cenário seria bem mais fluído se existisse essa opção como escolha.

Achar objetos para desvendar quebra-cabeças e descobrir novos ritmos para a sua coleção é a principal ação do jogo. E vou dizer que isso é bem fácil graças ao cenário pouco povoado e uma jogabilidade muito intuitiva. Em certas partes parece que é preciso apenas chegar perto do objeto para coloca-lo em seu inventário, sem precisar de nenhum clique.

Sua principal arma é um sintetizador musical que está sempre com o seu personagem. Essa espécie de mixador de músicas portátil é bem fácil de usar e guarda todos os sons captados pelo scanner de tons. Colecionar e mixar esses sons é sua missão e podem ser detectados em personagens ou produzidos por você interagindo com o cenário e os itens encontrados pelo caminho.

A jogabilidade é bem fácil e pode fazer a alegria de crianças e usuários que não gostam ou não estão familiarizados a jogar utilizando vários comandos. Essa “moleza” pode deixar os gamers mais experientes um pouco frustrados, mas deixa tudo mais democrático e aproveita o gancho para ajudar a ganhar mais adeptos para o universo de jogos eletrônicos.

Outro ponto crucial que é totalmente diferente dos games convencionais. Mesmo com uma temática musical, Beat the Game não utiliza músicas oficiais. Na verdade, o título não utiliza músicas, mas um conjunto de sons que você colecionou em sua jornada e mixou, transformando em sua própria melodia. Ou seja, você pode usar suas próprias criações como música de fundo.

Novamente, Beat the Game inova em trazer um jogo onde o desafio não está em solucionar puzzles, mas em viver uma experiência musical enquanto joga. Logo no começo, na apresentação onde sua moto enguiça após o acidente, os sons que lembram uma máquina quebrada podem ser facilmente distinguidos, sem que haja qualquer música ou sonoplastia do que ocorreu. A sonoplastia sugere os acontecimentos como se o que você ouvisse fosse uma forma lúdica das situações em forma de tons sonoros.

VEREDITO

Como foi dito antes, os usuários terão motivos para amar ou odiar Beat the Game. Esse antagonismo, por si só, merece ser conferido. Além da ausência de história e de uns poucos comandos básicos, o que realmente me deixou frustrado foi a duração e o desafio do game. Consegui chegar ao final em aproximadamente 90 minutos, porém, fiquei com um gosto de quero mais, e isso é um sentimento bom em se tratando de qualquer jogo.

Depois entendi que novamente a graça de Beat the Game não está em zerar o game, mas em construir minhas músicas e viver uma experiência sonora muito bem proposta pelo jogo. Pelo conjunto da obra, vale à pena curtir este título. É barato, rápido e divertido. Muitas qualidades que eu procuro quando quero me distrair.

Beat the Game foi analisado pela equipe do Blah Cultural no PC. O game foi gentilmente cedido pela Worm Animation.

Alex Rodrigues

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