REVIEW | ‘WE HAPPY FEW’

Alex Rodrigues

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21 de janeiro de 2019

We Happy Few é um daqueles games que ‘merecem ser jogados’, possui uma trama misteriosa e bem desenvolvida, gráficos detalhados e uma jogabilidade bem intuitiva. O título produzido pela Compulsion Games mescla traços de RPG e sobrevivência com aquele toque indie que estamos cada vez mais acostumados a ver nos novos jogos eletrônicos.

A história acontece em uma Inglaterra alternativa situada na década de 1960. Após a Segunda Guerra, o mundo parece ter entrado em colapso, mas uma cidade inglesa chamada Wellington Wells insiste em manter os seus habitantes felizes, nem que a força. Este conto apresentado pela Compulsion Games buscou referências em livros como 1984, uma obra-prima de George Orwell para compor toda a atmosfera e perfil dos personagens em We Happy Few.

Assim como no livro, o game trata de uma sociedade distópica controlada por um regime totalitário. No caso de WHF, a vigilância acontece por todos os membros da sociedade que se “dopam” com uma droga chamada “JOY”. O principal efeito do medicamento é deixar o usuário feliz, as contra-indicações variam em deixar o indivíduo desprovido de moral e extremamente dominável. Sem contar que todos utilizam uma máscara parecida com um misto de Guy Fawkes (referência V de Vingança) com o Coringa.

No filme 1984, homônimo do livro e rodado também em 84, dirigido por Michael Radford, em um mundo pós-apocalíptico, o funcionário Winston Smith, responsável pela censura das notícias de um jornal, começa a questionar o controle extremo e sufocante do governo. Após se apaixonar por uma operária, passa a ser perseguido pelos membros do partido e sua principal figura: “O Grande Irmão” (Big Brother).

O sistema de combate é fácil, mas correr pode ser a melhor ação na maioria dos casos.

Essa espécie de líder pode ser personificada no game pela figura do Tio Jack, uma espécie de William Bonner que vive noticiando os benefícios desta sociedade perfeita. O Tio Jack protagoniza as cenas em live-action, tendo o ator Julian Casey (Assassin’s Creed III, Far Cry III) por baixo da máscara.

Em We Happy Few, o personagem Arthur Hastings (existem mais dois personagens na versão final) trabalha em um jornal no departamento de censura de notícias. Sua vida tranquila passa a mudar quando ele descobre uma notícia misteriosa, envolvendo o seu irmão. A partir deste momento, o protagonista passa a desconfiar de todo o sistema e para de tomar a Joy, despertando a ira de todos os habitantes “normais” da cidade.

Gastei todo esse espaço falando da história deste game, porque realmente é o ponto que vai grudar os olhos dos jogadores na tela. Muitas reviravoltas acontecem e não vale a pena contar os spoilers da trama. O gráfico remonta uma espécie de cenário retrofuturista dos anos 1960. Esse mundo alternativo é dividido pelos habitantes consumidores de Joy e os “downers” (depressivos), livre da alegria e do controle, mas vivem à margem da sociedade.

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Os cenários das duas classes são muito bem detalhados e são peças importantes para definir uma estratégia de ação ou esconder uma pista para a solução de um quebra-cabeça. A presença de avanços tecnológicos e de espaços arrasados pela guerra lembra o ambiente da premiada série The Handmaid’s Tale. O traço beira uma caricatura em formato novel, mas pouco alivia o ar tenso de sobrevivência e suspense que envolve todo o jogo.

O game funciona em estilo roguelike, com as ações definidas por turnos e as atenções do jogador sendo divididas entre soluções de puzzles e fugas de qualquer um que desconfie da sua abstinência pelo Joy. As funções básicas do jogo são fáceis de manejar, o jogador não terá problemas com movimentos ou angulação das câmeras, muito importante já que a ação é na perspectiva da primeira pessoa.

Cenário retrofuturista da década de 60 foi muito bem idealizado.

A movimentação do personagem no cenário funciona bem, mas existem alguns bugs na interação dos protagonistas com o cenário. É interessante que a intensidade do jogo aumenta de acordo com as descobertas realizadas pelo jogador, mas logo vai embora quando temos que nos relacionar com os NPCs de Wellington Wells. Alegres ou “deprês”, os personagens não conseguem segurar o ritmo da história, são repetitivos e, de certo modo, confusos. Como se eles tivessem feito um curso com o Mestre dos Magos para ensinar os caminhos certos.

Os inimigos, contando agentes e cidadãos, são facilmente despistados, e o “calcanhar de Aquiles” deste game está na Inteligência Artificial desta galera, assim como suas personalidades nada cativantes. Evitamos contato com os outros personagens mais por serem chatos do que perigosos. A trilha sonora não surpreende, porém, desempenha bem o papel em toda a trama. Os temas contextualizam a história dando um toque de mistério nas cenas mais tensas e melancolia quando o clima está mais calmo. A produção parece ter se empenhado para não incluir ritmos mais atuais, tendo em vista que o período do enredo se passa nos anos 60.

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A imersão proporcionada por WHF é relativamente boa devido ao conteúdo da história, mas peca na interação com os NPCs. O clima de conspiração e suspense instaurado com uma forte base de clássicos como o livro 1984, escrito por George Orwell, é um convite para jogar e depois fazer uma reflexão de como a manipulação presente nesta história pode se aplicar aos dias que estamos vivendo.

VEREDITO

We Happy Few tem todos os elementos para entreter o jogador, mas poderiam ter trabalhado melhor a personalidade dos demais personagens para compor um clima mais envolvente para os usuários. Com jogabilidade fácil e desafio equilibrado, a Compulsion Games assina uma trama interessante que certamente serve de enredo para um filme de Hollywood.

Alex Rodrigues

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