sair do armário

Sair do armário e suas consequências

Giselle Costa Rosa

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30 de outubro de 2020

Como sair do armário? Assumir-se um indivíduo com a orientação sexual alinhada à comunidade LGBTQIA+, ainda hoje, é um ato de coragem; quiçá perigoso. Aliás, talvez seja um fardo pesado demais para ser carregado pelo resto da vida. Ou seja, sair do armário continua ser uma das maiores dificuldades e dores que uma pessoa pode ter.
Saber ou não se é mesmo homossexual, bi, ou qualquer coisa que fuja da heteronormatividade é um processo que pode ser complexo. Veja bem, quando se está na transição da infância para adolescência muitas são as questões internas e externas corroborando para uma definição (ou não) da sexualidade. Além disso, também podemos ter a questão de gênero permeando todo o processo.

Como foi me assumir lésbica

Por conseguinte, irei falar sobre o que vivenciei. Contar como é sair do armário para uma mulher – não binária – que tem atração por outras mulheres. Imagino que na maior parte das vezes para todas que se assumiram não foi lá muito tranquilo. Na minha vez, foi através de um cerco realizado em família: minha mãe e meu irmão mais velho.
Adianto que não foi nada agradável. Ser sabatinada sobre ações sobre minha vida sexual não competia a ninguém, nem mesmo a eles. Porém, isso foi o levantamento pra cortada da pergunta derradeira. Sem rodeios, respondi o que eu era: lésbica. Oras, oras, bastava apenas um olhar mais apurado pra perceber que eu não curtia me envolver afetivamente com homens.
Não obstante, logo após a derradeira revelação – explícita porque só não via quem não queria – vieram as lágrimas de minha mãe. Confesso que aquilo me deixou fula da vida. Não só por ter passado por uma sabatina, mas também porque era uma situação em que eu estava sendo culpabilizada pelo sofrimento dela. O choro era um misto de decepção com a mágoa de eu nunca ter dito nada. Bem, eu achava que minhas ações falavam por si só. 

Definição da sexualidade

Realmente não sei se toda mãe sabe quando seu filho é gay, genericamente falando. Muitas vezes a visão fica turva, pois a própria pessoa pode estar confusa acerca de sua sexualidade. Dessa forma, camufla com ações pra si e para os outros o que se é. Nem sempre a definição, devido a inúmeros fatores, vem de pronto. Mas a centelha da desconfiança, ah meu bem, existe e está desde muito cedo lá. Mesmo que em um cantinho escuro e mal-ajambrado.
Na época, eu tinha 21 pra 22 anos. Já sabia do que eu gostava, sexualmente falando, desde sempre. Mas por via das dúvidas, experimentei diversos sabores pra ter a confirmação. E talvez só o tenha o feito por sentir pressão em ser a menininha da mamãe.
Acredito que atração possa acontecer independente da sua orientação sexual, afinal somos seres desejantes e o sexo é protagonista em nossas vidas. No entanto, apesar de ter sentido atração por alguns homens quando mais nova, nunca foi afetivo. Soube que eu era lésbica quando tive afeição por outra mulher. Não era só sexual, era um sentimento de cuidar, proteger, estar junto o máximo de tempo possível. Com homem nunca houve tais sentimentos.
Mas não estou aqui para ditar regras. Essa foi a minha experiência de sair do armário e de como eu soube que era lésbica. E não há nada de errado em não se assumir também. Porém, com isso existe o risco de ir se afogando aos poucos. Nesse caso, talvez uma ajuda terapêutica, realizada por um profissional qualificado e não adepto à “terapia da conversão”, seja o mais indicado. Ele é a pessoa certa pra te ajudar a passar por esse momento conturbado, cheio de nuances conflitantes. 

Ainda não é fácil se assumir gay

Assim, sei que fatores como religião, família, emprego influenciam diretamente na decisão de sair do armário. Muitas mulheres só se assumem na idade adulta, depois de já terem vivido muita coisa. Temos casos como atriz canadense Ellen Page que só se assumiu em 2014, aos 27 anos, após fazer o filme lésbico “Amor Por Direito”.“Amor Por Direito”. No Brasil, um caso recente foi o da Patricia Marx, cantora de sucesso dos anos 80. Ela se declarou lésbica em suas redes sociais em 28 de junho desse ano, no Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+.
Portanto, se a sua felicidade, bem-estar e saúde – física e mental – não estão à contento, priorize-se! Não se culpabilize pelas expectativas frustradas dos outros. As pessoas que nos amam não se afastarão. Sua família até pode ficar atônita no início, mas se há amor, ficarão ao teu lado. Comigo foi um processo. Minha mãe foi digerindo pouco a pouco o fato de eu ser lésbica. Em nenhum momento me renegou. Sei que ela não entendia de todo, mas respeitava a mim e as minhas escolhas. E me amou incondicionalmente até o seu último dia de vida.

Dicas de filmes e séries sobre sair do armário

Para fechar esse texto, indico alguns filmes que abordam esse tema:

E as séries:

Giselle Costa Rosa

Integrante da comunidade queer e adepta da prática da tolerância e respeito a todos. Adoro ler livros e textos sobre psicologia. Aventuro-me, vez em quando, a codar. Mas meu trampo é ser analista de mídias. Filmes e séries fazem parte do meu cotidiano que fica mais bacana quando toco violão.
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