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Foto: Cadu Costa / ULTRAVERSO

A importância de um show de Djonga no Circo Voador

Cadu Costa

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20 de dezembro de 2022

Em um domingo, você está voltando calmamente da casa de sua mãe após um almoço com seus filhos, quando sofre racismo escancarado dentro de um coletivo. No outro, você está gritando “fogo nos racistas” de forma desesperada no show do Djonga, o rapper mais controverso dos últimos tempos no meio de uma noite chuvosa de sábado (17) no Circo Voador, no Rio de Janeiro.

No último final de ano, foi essa a sensação que tive ao estar mais uma vez assistindo o show do mineiro criador de pérolas recentes como os discos “Histórias da Minha Área”, de 2020, e “Nu”, de 2021.

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Foto: Cadu Costa / ULTRAVERSO

Ambiente diferente

Após um período aproximado de um ano, Djonga voltou ao Circo Voador para lançar seu sexto álbum de estúdio “O Dono do Lugar” e o ambiente estava um tanto mudado.

Se em novembro de 2021, o público carioca voltava a frequentar shows após uma trágica pandemia, era notório que as pessoas também estavam ávidas por gritar e cantar sobre uma política nefasta que matava a todos nós.

Por isso, naquele fatídico dia, tínhamos uma plateia predominantemente preta com palavras entaladas na garganta que somente músicas como “O Cara de Óculos”, “Nós” ou “Hat-Trick” poderiam dar a noção do que queríamos.

Público diversificado

Contudo, agora, neste final de dezembro de 2022, havia um público mais diversificado. A fúria de canções como “Fúria de 94” chegou ao ouvido branco como se fossem “Leal” e “Procuro Alguém”.

Porém, se você é preto, sabe do que estou falando. Mesmo que agora uma parcela mais privilegiada da população queira se misturar e cantar versos como “Eu tô tirando o pé pra ver se os otário me alcança” ou “Sou anti-bala, estilo gângster…Nós somos zica / Deixa eu devolver o orgulho do gueto / E dar outro sentido pra frase: Tinha que ser preto…”, é importante estarmos num show de Djonga.

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Foto: Cadu Costa / ULTRAVERSO

A senzala reage

Se há quase 30 anos, Mano Brown e os Racionais cantavam que “seu filho quer ser preto, que ironia”, talvez seja a hora de aumentarmos o nosso alcance e permitir que Djonga, BK, Rincon Sapiência, Emicida, Coruja BC1, Baco Exu do Blues, entrem novamente nessas casas grandes e mostrem que a senzala voltou a reagir e vai tacar fogo em tudo.

Porque foi numa noite chuvosa no Circo Voador que este escriba, vítima de mais um racismo estrutural de cada dia, pôde cantar e gritar para todos que os racistas não terão vez. Ao final do show com a clássica, a genial, a poderosa, a sublime canção “Olho de Tigre” – seu maior hit -, uma roda de pessoas cantando a plenos pulmões em quem eles querem ver queimar.

Djonga tinha ainda esse sentimento e declarou isso para nós em uma rápida frase “‘fogo nos racistas’ era no sentido figurado, mas se eles entenderam ao pé da letra tá valendo também”. Sim, eles entenderam, nós também e isso não acaba aqui.

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Fotos do show do Djonga no Circo Voador

*Fotos: Cadu Costa / ULTRAVERSO

Cadu Costa

Cadu Costa era um camisa 10 campeão do Vasco da Gama nos anos 80 até ser picado por uma aranha radioativa e assumir o manto do Homem-Aranha. Pra manter sua identidade secreta, resolveu ser um astro do rock e rodar o mundo. Hoje prefere ser somente um jornalista bêbado amante de animais que ouve Paulinho da Viola e chora pelos amores vividos. Até porque está ficando velho e esse mundo nem merece mais ser salvo.
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