Tiago Sá

Tiago Sá | Canções para encarar de frente o Brasil atual

Cadu Costa

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8 de agosto de 2021

Antes de mais nada, o brasiliense Tiago Sá tem muito para falar. Em um momento tão delicado (pra dizer o mínimo) quanto o que a gente vive, só podemos celebrar quando um artista tem coragem de se posicionar. Entretanto, o cantor, compositor e produtor musical que começou na música inspirado pelas bandas dos anos 80 vai além. Ele compõe para buscar a cura, o que o artista classifica como “uma espécie de terapia”.

Tiago Sá lançou no final de julho o EP Querelas de Brasília. Com músicas exalando um feroz teor político, ele nos concedeu uma entrevista exclusiva onde conta detalhes da gravação e suas inspirações.

Vem com a gente!

Primeiramente, receba os parabéns em nome do ULTRAVERSO pela coragem de lançar um disco tão direto e musicalmente tão abrangente. Como foi o processo de criação de ‘Querelas de Brasília’?

Tiago Sá: Obrigado, grato pela audição cuidadosa e pelas palavras sobre o trabalho. A ideia toda veio como uma resposta ao momento político atual e ao mesmo tempo como uma espécie de terapia. As três faixas têm letras contundentes, sendo “Querelas de Brasília” a que dá nome ao EP em memória de Aldir Blanc e em referência ao protesto do disco. Na criação eu canto e uso o violão de nylon para definir as notas, os acordes e também ideias iniciais de ritmo e de arranjos de guitarra e linhas de baixo. Daí, as ideias vão para o computador do home studio possibilitando uma infinidade de timbres e de influências. O processo final de mixagem e masterização foi feito no estúdio do Ricardo Ponte.

Cada música tem algo simplesmente genial, produzido por cada uma das participações especiais. Como foram esses convites?

A música “Querelas de Brasília” pedia um solo de guitarra com fúria e o convite feito e aceito pelo Marcelo Barbosa foi certeiro. O Marcelo, além de ser guitarrista virtuose na banda Angra, é um cara muito gente fina e acessível. A gente se conheceu pessoalmente na ocasião da participação dele, que foi à distância, ele mandou o solo por e-mail e ainda falou que qualquer “recall” era só falar. Claro que nem precisou (risos).

O convite para o Japão Viela 17 surgiu do trecho rap (falado) que eu tinha feito para a música “Quase tudo bem”. Além de ícone do rap nacional ele também é uma pessoa super acessível e gente boa. Nos conhecemos pessoalmente na sua participação no trabalho. Sendo um excelente letrista de rap, foi muito bacana e humilde da parte dele interpretar os versos escritos por mim. Interessante que ele mudou o ritmo de um dos versos e ficou muito melhor, sem falar no timbre e na interpretação marcante dele. São versos muito rápidos e muito importantes na composição. A participação dele junto com a história que ele tem e representa foi fundamental para o resultado da música.

Quando eu terminei “Anticorpos Antifascistas” e vi que a música era um rock, pensei em convidar a Andressa Munizo para produzir junto comigo. Eu tinha curtido o som da banda dela (Binarious) e então nos conhecemos pessoalmente também na ocasião da nossa colaboração. Enviei pra ela uma versão voz e violão num canal só e sugeri que ela gravasse uma voz guia no home studio pra dar o start. Quando ouvi a voz guia dela me emocionei e propus que ela fizesse a parte melódica em português. Não tinha como ser diferente!

E como vai Brasília? Cheia de ratos?

Sou brasiliense e tenho uma visão crítica sobre a cidade que sofre por abrigar a política do país. Apesar da grana que circula na cidade, parece que a cultura não pode se fortalecer completamente. Inacreditavelmente na capital do país são poucos os espaços para música autoral e o público em geral só conhece o nacionalmente consagrado. Ao mesmo tempo acho que a cena local também não tem sido feita de forma orgânica, mas de uma forma artificial que busca privilegiar poucos e acaba prejudicando todos, ao meu ver. Se a cidade está cheia de ratos? Acho que tem mais gente boa do que bicho escroto, o problema é que os ratos é que mandam.

Sem sombras de dúvidas, ‘Querelas de Brasília’ é seu trabalho mais político. Eu diria que é visceral até. Você aponta de forma bem direta o culpado pelas mortes de Covid-19 no Brasil e “resume” o país de forma bem ácida. Como você se sente por expor tanto suas veias latino-americanas?

Sinceramente é impossível não me sentir dilacerado diante de tantas atrocidades, mas me sinto forte e aliviado como se tivesse colocado tudo pra fora e dado o recado. Mas também me sinto privilegiado e grato por tocar pessoas como você com a minha música, portanto, obrigado.

Como você vê o futuro da música num mundo pós-Covid? As lives ainda existirão? Você enxerga novos caminhos?

Acredito que os shows irão voltar na medida em que o vírus e suas variantes sejam controladas. Sobre as lives e novos caminhos acho que tudo está muito incerto ainda, não sei dizer.

Por fim, quando e onde poderemos ver Tiago Sá e quais são seus planos agora com o lançamento de ‘Querelas de Brasília’?

Não estou fazendo shows ainda, então por enquanto podemos nos ver virtualmente no Instagram, que é a rede que tenho usado para divulgação. Pretendo continuar a divulgação do EP pela internet e a produção de novas músicas do próximo trabalho. Assim que os shows puderem acontecer livremente, pretendo fazer shows em Brasília. E uma turnê pelo nordeste, seria ótimo né?

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Então você é artista e acha que não tem muito espaço? Fique à vontade para divulgar seu trabalho na coluna Contra Maré do ULTRAVERSO! Não fazemos qualquer distinção de gênero, apenas que a música seja boa e feita com paixão!

Além disso, claro, o (a) cantor(a) ou a banda precisa ter algo gravado com uma qualidade razoável. Afinal, só assim conseguiremos divulgar o seu trabalho. Enfim, sem mais delongas, entre em contato pelo e-mail guilherme@ultraverso.com.br! Aquele abraço!

Cadu Costa

Cadu Costa era um camisa 10 campeão do Vasco da Gama nos anos 80 até ser picado por uma aranha radioativa e assumir o manto do Homem-Aranha. Pra manter sua identidade secreta, resolveu ser um astro do rock e rodar o mundo. Hoje prefere ser somente um jornalista bêbado amante de animais que ouve Paulinho da Viola e chora pelos amores vividos. Até porque está ficando velho e esse mundo nem merece mais ser salvo.
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