Crítica de Filme | A Terra e A Sombra

Bruno Giacobbo

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8 de dezembro de 2015

Não é todo dia que alguém conquista um grande prêmio com seu primeiro filme. O reconhecimento imediato é coisa para poucos. O colombiano César Acevedo conseguiu. Logo de cara e num festival do porte de Cannes. Seu longa-metragem, A Terra e A Sombra, derrotou o húngaro “O Filho de Saul”, obra considerada, por dez entre cada dez críticos, favorita absoluta ao Oscar de melhor filme estrangeiro no próximo ano e levou a “Caméra D’Or”, premiação dada a cineastas que tenham realizado, no máximo, dois trabalhos. Assim, para muitas pessoas, a decisão foi surpreendente, mas, se analisarmos com calma, foi merecida e longe de se configurar uma injustiça, já que a película vencedora é uma daquelas pequenas pérolas que sua beleza transcende à exibição; e permanece grudada na retina por muitíssimo tempo.

Jornalista de formação, sem nunca ter frequentado uma escola de cinema, o que torna seu prêmio ainda mais admirável, o diretor foi buscar em suas origens a inspiração para contar a história de uma família de agricultores que vive do corte da cana-de-açúcar. Com Geraldo (Edison Raigosa) muito doente, sua esposa, Esperanza (Marleyda Soto), e sua mãe, Alicia (Hilda Ruiz), são obrigadas a trabalhar na roça para garantir o sustento do clã. Deste jeito, não há ninguém para ficar com o filho do casal, Manuel (Felipe Cárdenas), controlar suas lições, levá-lo à escola e outras atividades que, normalmente, as mulheres fariam. Sem alternativa, eles decidem procurar Alfonso (Haimer Leal), o avô que 17 anos atrás foi embora e constituiu outra família. Com muitos ressentimentos à flor da pele, o convívio entre estas pessoas, inicialmente, será delicado, mas eles precisarão encontrar uma forma de superarem antigas mágoas para seguir em frente.

A Terra e A Sombra MEIO

Passada no interior da Colômbia, a história, com sua temática e todas as suas camadas, poderia perfeitamente ser ambientada no sertão nordestino ou em qualquer outro lugar esquecido por Deus. A princípio, versa sobre um conflito familiar, no entanto, outros temas são abordados, quase, com a mesma profundidade. Fala-se também da relação entre patrão e empregado no campo, de como os trabalhadores são explorados em uma situação que, muitas vezes, beira o trabalho escravo. Mostra o desamparo do Poder Público em relação a estas pessoas. O único posto médico local não pode receber Geraldo, mesmo este estando muito mal da saúde, por total falta de infraestrutura. E por aí vai. Desta forma, ao se inspirar na realidade, Acevedo denuncia, veladamente (já que em momento algum há um tom odioso na mensagem do filme), situações inadmissíveis para a nossa época.

A beleza, dita lá no início deste texto, está nos belos planos, fotografados pelo cineasta e sua trupe, que mais parecem saídos de um programa do National Geographic sobre as condições do homem do campo. Algumas cenas impressionam pelo esmero com que foram feitas. A tomada de uma queimada, onde o fogo consome rapidamente a plantação, chama a atenção não só pelas cores vivas das labaredas, como pelo grau de dificuldade que deve ter sido realizá-la, uma vez que não foi usado qualquer tipo de efeito especial. O tempo transcorre com languidão na vida retratada por Acevedo e os momentos que denotam este ritmo desacelerado foram ilustrados com cores escuras. Devido a este aspecto, A Terra e A Sombra corre o risco de ser taxado como lento. Um problema para alguns, esta é uma qualidade intrínseca ao filme, já que ele foi feito para ser visto como quem admira um quadro de Edward Hopper, só que com cenas rurais.

Desliguem seus celulares e excelente diversão.

FICHA TÉCNICA:
Direção e roteiro: César Augusto Acevedo.
Produção: Jorge Forero, Paola Pérez Nieto e Diana Bustamante.
Elenco: Haimer Leal, Hilda Ruiz, Edison Raigosa, Marleyda Soto e Felipe Cárdenas.
Som: Felipe Rayo.
Direção de Fotografia: Mateo Guzmán.
Montagem: Miguel Schverdfinger.
Duração: 97 minutos.
País: Colômbia.
Ano: 2015.

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
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