CRÍTICA | ‘Ave, César!’ mostra os bastidores de um estúdio cinematográfico a partir da ótica de seu chefe de produção

Bruno Giacobbo

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14 de abril de 2016

Definitivamente, filmes sobre Hollywood estão na moda. De 2014 para cá, várias foram as obras que abordaram diversos aspectos da indústria que embala os sonhos de milhares de pessoas mundo afora. O vencedor do Oscar 2015, “Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância”, o chocante “Mapa Para as Estrelas” e o sublime “Acima das Nuvens”, por exemplo, retratam este universo através do prisma dos atores. Lançado este ano, aqui no Brasil, o revelador “Trumbo: Lista Negra” tem como protagonista um talentosíssimo roteirista acusado de professar crenças comunistas nos anos de chumbo, para as minorias, da década de 50. Em comum, todas estas películas são pautadas pelo drama. Algumas risadas ecoam aqui e acolá, afinal rir da vida é necessário, mas é a verve dramática que conduz tais histórias. Na contramão desta tendência, Ave, César!, novo trabalho dos Irmãos Coen, mostra, de forma muito bem-humorada, os bastidores de um grande estúdio cinematográfico a partir da ótica de seu chefe de produção.

Eddie Mannix (Josh Brolin), o chefe de produção em questão, aqui executivo da Capitol Pictures, existiu. Na vida real, ele despenhou a mesma função na MGM. Faleceu em 1963, vítima de um ataque cardíaco. No entanto, esta não é uma cinebiografia tradicional, que procura ser fiel a acontecimentos verídicos. As histórias de um apenas inspiram o longa-metragem do outro. O Mannix de Brolin vive momento delicado. Todas as produções sob sua supervisão estão tendo algum tipo de problema. O renomado cineasta europeu Laurence Laurentz (Ralph Finnes) precisa de um galã. O estúdio indicou Hobie Doyle (Alden Ehrenreich), um astro de westerns que atua feito uma porta. A beldade DeeAnna Moran (Scarlett Johansson), estrela de musicais aquáticos, vive da imagem de mocinha ingênua. Todavia, ela está prestes a ser mãe solteira. Apenas o grandioso épico sobre um oficial romano e Jesus Cristo parece livre de qualquer confusão. Isto, até o protagonista Baird Whitlock (George Clooney) desaparecer. Problemas à parte, a indústria de sonhos não pode parar e Mannix sabe disto.

ave césar crítica

O filme dos Coen é uma sátira das mais deliciosas. E como tal, funciona de maneira bastante competente enquanto leva o público às gargalhadas. A melhor maneira de falar sobre um assunto sério sem ferir suscetibilidades é fazendo humor. Se rir da vida é necessário, rir de si mesmo é salutar. Quase todos os personagens do longa-metragem são inspirados em pessoas reais, logo, as situações retratadas também  bebem da mesma fonte. Galãs que não sabem atuar, atrizes que não se parecem nada com a imagem que vendem sempre existiram e continuam por aí ganhando milhões de dólares. Portanto, corajoso mesmo é brincar com uma das situações mais traumáticas de Hollywood: a perseguição aos comunistas (aqui, há espaço para mais uma figura real, o filósofo e sociólogo Herbert Marcuse). A película brinca, ainda, com estereótipos do cinemão norte-americano. O herói e o vilão são caricatos e ultrapassados, mas não são para serem levamos a sério. Tudo não passa de divertida crítica.

Ave, César! investiu em muita coisa boa. Em um elenco de primeira que, além dos nomes já citados, conta com Channing Tatum, Tilda Swinton, Frances McDormand e Jonah Hill, todos muito bem em cena; e também em um magnífico trabalho de direção de arte, que guia os espectadores por uma bela viagem aos diversos sets de filmagens da Capitol Pictures. Outros aspectos elogiáveis são a fotografia do mestre Roger Deakins e a música de Carter Buwell. Contudo, o maior investimento foi mesmo no humor desta sátira. O problema é que o filme não consegue levar o público às gargalhadas o tempo todo. O resultado, consequentemente, é uma considerável barriga, lá pelo meio da projeção, que atrapalha o ritmo e certamente provocará algumas remexidas nas poltronas.

Desliguem os celulares e boa diversão.

TRAILER:

FICHA TÉCNICA:

Título original: Hail, Caesar!
Gênero: Comédia
Direção: Ethan Coen, Joel Coen
Roteiro: Ethan Coen, Joel Coen
Elenco: Alden Ehrenreich, Alex Karpovsky, Channing Tatum, Christopher Lambert, Clancy Brown, David Krumholtz, Dolph Lundgren, Emily Beecham, Fisher Stevens, Frances McDormand, George Clooney, Jillian Armenante, Jonah Hill, Josh Brolin, Kyle Bornheimer, Ming Zhao, Patrick Fischler, Peter Jason, Ralph Fiennes, Robert Picardo, Scarlett Johansson, Tilda Swinton
Produção: Eric Fellner, Ethan Coen, Joel Coen, Tim Bevan
Fotografia: Roger Deakins
Montador: Ethan Coen, Joel Coen
Trilha Sonora: Carter Burwell
Duração: 106 min.
Ano: 2016
País: Estados Unidos
Cor: Colorido
Estreia: 14/04/2016 (Brasil)
Distribuidora: Universal Pictures Brasil
>Estúdio: Mike Zoss Productions / Working Title Films

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
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