RESENHA | “Primeiro mataram meu pai”, livro que inspirou filme de Angelina Jolie

Aline Khouri

Loung Ung era uma criança de classe média que vivia feliz com sua família no Camboja. Porém, tudo mudou dramaticamente em abril de 1975, quando o regime comunista do Khemer Vermelho, do ditador Pol Pot, tomou conta do país. Juntamente com inúmeras pessoas, a família teve que abandonar sua casa às pressas e ainda havia outro agravante: o pai da menina era um agente do governo e todos eles precisavam esconder suas identidades para evitar a execução.
Esta história é retratada de maneira tocante por Loung Ung no livro Primeiro mataram meu pai, publicado no Brasil pela Harper Collins e que inspirou o filme dirigido por Angelina Jolie. O livro foi lançado originalmente em 2000, anos depois da tragédia que assolou o país e é um relato sobre as experiências terríveis que Ung precisou enfrentar durante a infância enquanto testemunhava a violência perpetrada pelo Khemer Vermelho.
O livro é narrado em primeira pessoa e parece um diário. É claro que, como ele foi escrito mais de duas décadas depois do ocorrido, a linguagem não é a de uma criança de oito anos e muitas reflexões ali só poderiam ser escritos por uma adulta. É estarrecedor acompanhar as dificuldades que a família de Loung Ung e tantas outras pessoas enfrentaram enquanto eram forçados a trabalhar para o regime em condições emocionalmente e fisicamente extenuantes. Além da tortura e dos assassinatos, o Khemer Vermelho mal lhes dava o que comer e muitas pessoas morriam de desnutrição. Exploradas durante horas, adultos e crianças não sabiam se iriam sobreviver.
Como o próprio título do livro diz, o pai de Loung Ung foi assassinado, mas a família nunca descobriu o que exatamente aconteceu. Eles apenas sabem que soldados apareceram em sua barraca e exigiram que Ung , Seng Im fosse com eles. Disseram que logo ele voltaria, assim como fizeram o mesmo inúmeras outras vezes. Loung conta como viu a mãe ficar sentada tristemente à espera do retorno do pai enquanto negava a possibilidade de sua morte. Outros acontecimentos trágicos ocorreram com a família e a mãe, em uma tentativa desesperada de salvar a vida dos filhos, mandou Loung e dois de seus irmãos (eram sete no total) saírem em busca de um campo de órfãos.  Ela disse que essa seria a única chance deles de sobreviver.  Ung, Ay Choung permaneceu sozinha com sua filha mais nova Geak, que definhava de fome a cada dia que passava.
Loung encontrou um campo de órfãos que treinava crianças-soldado para se tornarem membros do exército comunista. Já seus irmãos foram mandados para campos de trabalhos forçados. Primeiro mataram meu pai é, sobretudo, uma história imperdível de sobrevivência que poderia ser a de qualquer outra família que vivia no Camboja na década de 70. O livro é também uma reelaboração da perda. Depois do horror que viveu e testemunhou, Loung  tornou-se escritora e ativista. Ela vive em Ohio, nos Estados Unidos, e faz campanhas com a ONG Campaign for a Landmine-Free World, que protesta contra o uso de minas terrestres.
Ficha técnica
Título: Primeiro mataram meu pai
Autora: Loung Ung
Tradução: Victor Heringer
Editora: Harper Collins

Aline Khouri

Jornalista, com especialização em Cultura. Adora ler e escrever sobre pessoas e assuntos culturais, especialmente Literatura, Cinema e Teatro.
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