REVIEW | ‘Kingdom Come: Deliverance’ instigará o jogador a imergir mais e mais na narrativa

Stenlånd Leandro

Pouca gente sabe, mas sempre fui fã de séries épicas. Muitas delas, em sua maioria retrata acontecimentos do passado, coisas que realmente aconteceram na vida real; exemplo dessas séries que muito cultuei pela sua interessante narrativa foram: Marco Polo, Vikings, Merlin, Atlantis e The White Queen. 

O início do jogo introduz uma curta história sobre Charles IV, que se tornou rei da Itália em 1355. Segundo relatos, após reinar de forma plena, ele acabou falecendo em 1378. Assim, por lógica, seu filho  Wenceslaus IV deveria de suceder o trono, mas como também acontece nas fábulas, há sempre um filho que não quer reinar. Vimos isso nos últimos episódios que saíram de Vikings, em sua quinta temporada. Aethelred, por ser uma espécie de braço de ferro, deveria de reinar sob a Inglaterra, após a morte de seu pai, mas conforme sua mãe acabou dizendo no seriado, há tempos em que a necessidade por um governante diferente acaba chegando. Assim Alfred, que se assemelha a Wenceslays IV, acabou se tornando rei. No passado, diversos filhos de reis não queriam a coroa para si, mas não havia muito o que ser feito.

Temos então Kingdom Come: Deliverance, game já disponível para Xbox One, PS4 e PC que trará um pouco desse lado épico para sua vida. Neste título, incorporamos o papel de Henry, filho de um ferreiro. Estamos envoltos a uma guerra civil, onde, como de costume, diversos exércitos invasores atacam a cidade e, infelizmente, acabam matando a família do protagonista, e sem que possamos fazer nada. Como não somos um guerreiro, e sim um filho de ferreiro, o pouco que nos resta é escapulir desse embate, esquecer as agruras do momento, ir treinar as artes da guerra e contra-atacar, vingando a morte de nossos parentes e, por fim, expulsar as forças que invadiram nosso povoado. O problema é que Henry (Henrique), que tem nome de Rei, aliás, que lembra muito Jonathan Rhys Myers como Henrique VIII, não sabe ler, é bronco e não tem nenhuma habilidade de batalha. Uma premissa um tanto quanto clichê, mas que precisamos frisar que as intrigas que o jogo lhe apresentará mostram um tempo que precede diversos acontecimentos históricos. Então, precisamos fazer de tudo para que nosso ‘herói’ faça as coisas certinhas. Temos que aprender de quase tudo durante a experiência, desde aprender a ler e escrever a até mesmo manejar um simples arco e flecha. O caminho para sua vingança é longo, ou melhor, é tempestuoso. Quando vivenciamos essa trama, nos tornamos mais do que um personagem: somos parte da sua revolta. Tudo aqui muda de acordo com suas ações, exatamente como Skyrim. Se você chegar em um local ensanguentado, as pessoas ao seu redor o verão como uma ameaça e correrão com a sua presença. Caso adote uma personalidade mais comunicativa, terá como barganhar melhores itens nas ofertas de mercado. Há também a possibilidade de arrumarmos uma briga em um vilarejo próximo. Ao sentarmos para beber algo em uma tenda, há como sair batendo em alguém, ou seja, arrumando confusão inesperada, afinal essa briguinha de criança não está no script do jogo, sendo você o criador do roteiro. É aí onde está o X da questão. Algumas de nossas decisões, muitas delas estapafúrdias, levam nosso personagem a consequências imprevistas até para o jogador. Certamente você vai ficar frustrado ao saber que tamanha atitude pode nos levar para o xilindró. Então, há muita coisa aqui que lida com seu comportamento.

Logo na tela de opções, o título já abre sua caixa de ferramentas. Com opções interessantes de crafting e personalização de nosso protagonista, Kingdom Come: Deliverance possui uma beleza visual ímpar, que ganha ainda mais força e, apesar de soar contraditório e ter que dizer que o game não é esse fenômeno todo graficamente,  há um refinamento visual que norteia toda a aventura apresentada ao jogador, com cenas de computação gráfica singelas, mas de grande valor histórico. Nessa parte que o jogo ganhará sua atenção. Aqui, aos bocados, temos muito mel adoçando a boca, em um belíssimo cenário onde a fotografia também é um fator interessantíssimo. Esteticamente, estamos mesmo em uma era medieval. Não são gráficos da última geração, mas é que precisam estar entre transições de gerações passadas e a atual, mostrando assim uma exuberante montagem de cenários que vão aparecendo conforme caminhamos.

Nos primeiros combates, seja até mesmo para treinar o protagonista, o jogador poderá perceber o que o aguarda em inúmeras horas de entretenimento. As batalhas, de certa forma, são grandiosas e as cenas de luta, bem desenvolvidas. O mapa em formato sandbox alivia a tensão e não o forçará a missões pré-determinadas. A visão do jogo usa o tradicional sistema de primeira pessoa sem aparecer sua mão ou arma de início, com câmera localizada em pontos estratégicos com o objetivo de obter o ângulo mais apropriado dentro do cenário. O game não esconde a vontade escrachada de atender ao público maduro, visto o nível de violência e situações sexuais que encontramos tanto na narrativa que introduz todos os fatos até mesmo na busca por vingança. Quem assistiu Vikings e até outras séries como The White Queen e Marco Polo, sabe bem que, por se tratar de temáticas épicas, sexo era só mais um plus aos adultos de plantão, e Kingdom Come: Deliverance não é muito diferente disso. Não deixa de ser uma série, sendo que está apenas em um formato diferente.

O título equilibra elementos de ação e raciocínio. Temos diversos tipos de ataque, seja com punho, um machado ou até mesmo arco e flecha. Os golpes, em boa parte, são fáceis de realizar, mas difíceis de acertar. Parece que os personagens à nossa frente são tão esquivos quanto quiabo. Acredito que a apuração de taxa de resposta dos controles não foi feliz. Os joysticks não perdoam os deslizes de sincronia. As batalhas são intercaladas com a exploração do cenário, que esconde colecionáveis, em localidade difícil de enxergar em algumas situações enquanto em outras está bem à sua frente. Combater pode ser um tormento, mas o cansaço do protagonista é a pior parte do jogo. Duas coisas que me vieram à mente de imediato foram o Tamagochi e o Pou. E por mais esdrúxulo que isso soe, é verdade, pois , quando está cansado ou com fome, o cara se torna chato demais a todo momento repetindo que está com seu estomago vazio. Henry fará questão de mencionar isso e fará o mesmo para o cansaço, fazendo com que o personagem fique tonto, sem taxas de respostas (reflexo) para suas ações, vista embaçando e tudo que tem direito.

Após cada combate, mesmo cansados, temos que ter em mente que haverá necessidade de reparar nosso equipamento. Espadas, por exemplo, enfraquecem seu corte após matar um bicho ali, um soldado aqui. É como uma faca, que, após muito uso, perde seu afio. Então, nossa função no decorrer do jogo é manter alguns kits de reparo. Ao longo da experiência, terá contato com kits de ferreiro e kits de alfaiate. Esses kits são compráveis em quase todas as partes dos vilarejos. São até baratos e será muito melhor pagar por um kit do que depois ter de consertar algo incomensuravelmente danificado e de certo modo, impossível de reparo.

Os saves incomodaram um pouco. Aqui somos forçados a comprar praticamente tudo e isso inclui algo para que consiga salvar o jogo. Como os saves automáticos acontecem raramente, temos que comprar ou criar uma poção para que eles aconteçam, mas não pense que é só ir na “Casas Bahia” mais próxima, comprar e parcelar em 10x, pois antes disso temos de vender no mínimo o rim, visto que lhe custará o olho da cara essa poção para usar o save do jogo.

A sonoplastia, em sua maioria, está bem distribuída e as dublagens são consideravelmente boas. A ambientação com grunhidos, sorrisos, gritos, choros, cavalos relinchando e o som da flecha acertando o alvo estão inseridos de forma que tanto a tensão do jogo quanto sua calmaria fiquem evidentes.

Sem um gameplay marcante, após finalizar, dificilmente alguém voltará a repetir a dose de Kingdom Come: Deliverance, o que deixa o fator replay do game quase inexistente. Não por não existir, mas é que após algum tempo, temos um ritmo lento, além de sonolento.

O VEREDITO

Kingdom Come: Deliverance é certamente uma boa aquisição para quem ama horas e mais horas de conflitos e imersão. Além de ser um RPG medieval sandbox, a forma como a história é introduzida ao jogador é muito interessante. Há alguns problemas aqui e ali, mas que não são tão relevantes assim para matar o jogo. Tenha em mente que este game é uma espécie genérica de Skyrim e que suas decisões ao longo da trama podem ou não mudar o seu destino.

Kingdom Come: Deliverance foi analisado pela equipe do Blah Cultural no console Xbox One One. Jogo cedido gentilmente pela Deep Silver.


 

Stenlånd Leandro

Leandro não é jornalista, não é formado em nada disso, aliás em nada! Seu conhecimento é breve e de forma autodidata. Sim, é complicado entender essa forma abismal e nada formal de se viver. Talvez seja esse estilo BYRON de ser, sem ter medo de ser feliz da forma mais romântica possível! Ser libriano com ascendente em peixes não é nada fácil meus amigos! Nunca foi...nunca será!
NAN