CRÍTICA | ‘Maria Madalena’ aposta nos diálogos e vale o ingresso, mas não é uma obra obrigatória
Pedro Marco
A história mais recontada do mundo volta a dar as caras em Maria Madalena (Mary Magdalene). No entanto, agora vemos o protagonismo de Jesus Cristo sendo passado para sua mais fiel seguidora, em uma história inédita. Ou ao menos, é assim que o filme tem sido vendido.
É de grande senso comum o perigo de se pôr em discussão as temática de: Política, Esportes, e principalmente religião. Porém, é bastante segura a afirmação de que em algum momento existiu em Nazaré um cara chamado Jesus, que era tido como profeta e que interagiu com as pessoas daquele lugar. Dentre estas, teria existido uma mulher chamada Maria Madalena (Rooney Mara), que seguiu o Cristo (Joaquin Phoenix) em seu último ano de vida.
O segundo filme do diretor Garth Davis (Lion), chega aos cinemas como uma grande retratação de personagens históricos. Em primeira parte, a história expõe a desmistificação de que Maria de Magdala era uma prostituta que teria sido apedrejada no meio da cidade. Este boato, criado pelo papa Gregorio em 1540 (como o próprio filme cita), cai por terras em sua falta de indícios nos escritor sagrados do cristianismo. No longa, Maria Madalena é tida como uma mulher à frente de seu tempo, não aceitando certas condições de submissão feminina e sendo acusada de estar possuída, por conta de seus pensamentos diferentes.
Em sua segunda parte, a obra apresenta uma excelente construção de personagem para Judas Escariotes (Tahar Rahim), desconstruindo sua imagem de puro traidor movido por riquezas. O roteiro traz o apóstolo como o mais crente dos discípulos, possuidor de uma fé cega e inigualável. Uma traição feita com boas intenções e um arrependimento envolto por consequências, coroam o personagem como um agrado positivo no filme. Em contraponto, Simão Pedro (Chiwetel Ejiofor) é mostrado como um homem de personalidade instável, indo de total devoto das palavras de Cristo à um cético quase vilanesco sem qualquer motivação aparente.
Apesar da instabilidade do roteiro e da atuação de Phoenix nos momentos de pregação, Davis entrega uma ambientação impecável. Uma Jerusalém grandiosa e crível, paisagens rústicas e bem definidas, com figurinos bem estudados e mesmo as várias línguas usadas nas orações, transportam o espectador para as primeiras décadas do tempo comum.
Infelizmente, Maria Madalena traz uma completa falta de protagonismo da personagem com o nome estampado no pôster, deixando-a completamente sem falas no segundo ato quase inteiro. Além disto, um posicionamento religioso acima do propriamente histórico e algumas discrepâncias com os escritos ao qual o filme se baseia podem acabar distanciando o espectador da experiência proposta. Discursos de emponderamento feminino se perdem com a velocidade com que surgem, dando espaço para a repetição exaustiva da ceia e da via sacra. Ao mesmo tempo, momentos de discussão entre os apóstolos e o medo de Jesus ao enxergar seu destino trazem o amargo gosto de coisas boas em uma trama que poderia ter sido melhor trabalhada.
Maria Madalena estreia no dia 15 de março com a história que todo mundo conhece, recheada com passagens mais frias e cruas de como tudo pode ter se desenrolado dois mil anos atrás. Superior a obra comparável de Mel Gibson, o filme aposta mais nos diálogos em uma exibição que vale o ingresso, mas não se faz obrigatória.
::: TRAILER
::: FOTOS
::: FICHA TÉCNICA
Título original: Mary Magdalene
Diretor: Garth Davis
Roteirista: Helen Edmundson, Philippa Goslett
Elenco: Rooney Mara, Joaquin Phoenix, Chiwetel Ejiofor, Tahar Rahim, Sarah Sofie Boussnina
Distribuição: Universal
Data de estreia: qui, 15/03/18
País: Reino Unido
Ano de produção: 2018
Gênero: Drama, Religioso, Histórico, Biografia
Classificação: a definir