Crítica de Filme | Trinta
Antonio de Medeiros
O filme começa mostrando a transição de Joãosinho Trinta, de funcionário de uma repartição pública cheia de colegas preconceituosos para sua entrada no corpo de balé do Theatro Municipal. No entanto, a realização desse sonho se revela uma frustração, já que Trinta, por sua pequena estatura, não conseguia o destaque que queria.
Mais do que uma simples cinebiografia, o que interessa ao filme é contar a experiência e transformação de um artista, cuja história de vida e superação de dificuldades se assemelha com a de muitos brasileiros.
Paulo Machline, diretor do filme, realizou uma extensa pesquisa sobre a vida de Trinta. Seu contato com o carnavalesco foi muito próximo e intenso, o que gerou o documentário “A raça síntese de Joãosinho Trinta” e, posteriormente, o longa Trinta. Paulo apresenta as diversas facetas de Trinta, seu lado mais erudito e educado e o jeitão histérico e bravo quando se fazia necessário.
>>> SAIBA COMO FOI A COLETIVA DE IMPRENSA DO FILME
O que se nota na produção é a preponderante solidão desse personagem, algo muito comum quando falamos de personalidades geniais. Essa solidão também é muito comum nos cargos de liderança como o de carnavalesco, por exemplo. Essa pressão leva Joãosinho a ter um ataque histérico numa das cenas mais divertidas do filme, quando ele perde a paciência, xinga a Deus e o mundo e coloca ordem no barracão. Essa cena é crucial por mostrar que Trinta precisou se adequar e se firmar dentro do barracão para que fosse respeitado por todos os componentes.
Um dos destaques de Trinta é a interpretação de Matheus Nachtergaele para o carnavalesco. O ator conseguiu transformar-se em Joãosinho sem recorrer a imitações ou maquiagem. A figura do personagem está perfeitamente representada, os gestos de braço, a postura, o olhar e os conflitos internos desse personagem estão todos ali bem representados.
O filme nos permite adentrar num barracão de uma grande escola de samba e acompanhar progressivamente todas as etapas anteriores ao desfile, como a escolha do enredo, o desenho das fantasias e o surgimento dos carros alegóricos.
A contagem regressiva dos dias para o desfile entre as cenas funciona como um artifício interessante para que o público sinta um pouco dessa pressão por mostrar resultados e terminar de aprontar tudo até a data do desfile.
>>> CONFIRA TUDO SOBRE O FESTIVAL DO RIO
Trinta conta com personagens reais e fictícios e a transposição de fatos ocorridos em anos diferentes do mostrado no corte temporal escolhido pelo diretor, no entanto, essas escolhas se justificam por permitirem atender a uma construção dramatúrgica escolhida pelo diretor e pelo restante da equipe de roteiristas.
O longa cumpre com o que promete, que é por meio de um corte de um período crucial da vida de Joãosinho Trinta mostrar como se deu a transformação de um bailarino do Theatro Municipal sem destaque a um dos principais carnavalescos do Brasil. Quem tiver interesse em saber mais detalhes e curiosidades sobre a produção, pode dar uma conferida na matéria sobre a coletiva de imprensa realizada durante o Festival do Rio clicando AQUI.
BEM NA FITA: Magistral interpretação de Joãosinho Trinta por Matheus Nachtergaele.
QUEIMOU O FILME: A história prescinde do personagem do pai de Joãosinho Trinta, que teve uma construção mais caricatural em relação aos outros personagens.
FICHA TÉCNICA:
Gênero: Drama
Direção: Paulo Machline
Roteiro: Cláudio Galperin, Felipe Sholl, Maurício Zacharias, Paulo Machline
Elenco: Augusto Madeira, Ernani Moraes, Fabrício Boliveira, Léa Garcia, Marco Ricca, Mariana Nunes, Matheus Nachtergaele, Milhem Cortaz, Paolla Oliveira, Paulo Tiefenthaler, Tato Gabus
Produção: Joana Mariani, Matias Mariani, Paulo Machline
Fotografia: Lito Mendes da Rocha, Oswaldo Santana
Montador: Fernando Honesko
Ano: 2014
País: Brasil
Cor: Colorido
Estreia: 13/11/2014 (Brasil)
Distribuidora: Fox Film
Estúdio: PRIMO Filmes