Trabalhar Cansa

BAÚ DO BLAH! | Trabalhar Cansa (2011)

Bruno Giacobbo

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31 de maio de 2019

Tive a chance de rever, recentemente, o filme brasileiro Trabalhar Cansa, dirigido pela dupla de cineastas paulistanos Juliana Rojas e Marco Dutra. Lançado em 2011, sinceramente, não sei dizer agora em quantos cinemas ou quanto tempo ele ficou em cartaz. Para falar a verdade, só ouvir falar dele quando assisti ao segundo longa do diretor, Quando Eu Era Vivo (2014), em uma cabine de imprensa com a presença do próprio, que lá estava para um bate-papo com os críticos. Dito isto, é uma pena que poucas pessoas tenham tido a chance de vê-lo em tela grande, pois trata-se de uma excelente obra de terror psicológico com um contexto exatamente atual, mesmo oito anos após o seu debut.

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Sobre ‘Trabalhar Cansa’

Helena (Helena Albergaria) está prestes a realizar o sonho de ter o seu pequeno negócio. Um mercadinho de bairro. Daqueles que possuem todos os produtos que necessitamos no nosso dia a dia. No entanto, ao chegar em casa após visitar a loja do tão sonhado empreendimento e deixar o contrato de aluguel apalavrado com a corretora, ela descobre que o marido, Otávio (Marat Descartes), acabou de ser despedido da empresa onde trabalhava há mais de dez anos. Pois bem. Entre a prudência que os novos tempos exigirão, sem uma fonte de renda certa, e o sonho ao alcance da mão, o casal opta pelo segundo.

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Com o desenrolar da história, a protagonista percebe que a crise que demitiu seu esposo afeta também o poder de compra de potenciais clientes. São poucas as pessoas que se dirigem ao mercado e realizam uma ou outra compra. Uma senhora reclama do preço do azeite, diz que está pela hora da morte. Além disso, se desgraça pouca é bobagem, Helena começa a se deparar com assustadores acontecimentos no interior do seu estabelecimento. Um portão que abre e fecha, sozinho, tarde da noite, é só uma destas coisas que funcionam catalizadoras e amplificadoras da tensão que ronda a atmosfera do filme.

Trabalhar Cansa

Foto: Divulgação

Obra vai além dos eventuais clichês

Classificado como suspense e terror, comparado ao clássico O Iluminado, de Stanley Kubrick, durante sua campanha de divulgação nos Estados Unidos, a película de Rojas e Dutra vai além dos eventuais clichês que obras do gênero inconscientemente acabam fadadas a repetir e faz terror com fatos do cotidiano. Afinal, existe, para um pai, algo mais assustador do que o medo de não conseguir sustentar sua família? Duvido. Otávio está desempregado. No início, ele diz para Helena que logo estará trabalhando de novo. Enfim, quando percebemos, os meses voaram, as festas de fim de ano já deram lugar ao Carnaval e nada mudou. Só bicos, comissões e nenhuma renda fixa. Por exemplo, imaginem o que deve ter sido para muitos brasileiros assistir a este filme?

Com um baixo orçamento, Trabalhar Cansa se destaca pela inteligência da direção de arte que mexe com objetos cotidianos para criar um cenário digno do clima da trama, bem como por uma fotografia soturna que cumpre o mesmo propósito. Por fim, a interpretação de seus atores, principalmente, Descartes e a menina Marina Flores, que vive a filha do casal de protagonistas. Contudo, há um aspecto que é imbatível: o roteiro, de autoria da própria dupla de realizadores. Sua trama, que equilibra com sabedoria elementos sobrenaturais e as agruras diárias, suscita – pelo menos foi assim entre as pessoas que comigo viram o filme – uma ampla discussão sobre os significados ‘ocultos’ da obra. E esta, para mim, é uma das melhores coisas que o cinema pode proporcionar, ou seja, a transcendência da história para além daquelas meras duas horas que ficamos imersos nela.

Desliguem os celulares e excelente diversão.

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Título original: Trabalhar Cansa
Direção: Juliana Rojas e Marco Dutra
Roteiro: Juliana Rojas e Marco Dutra
Elenco: Helena Albergaria, Marat Descartes, Naloana Lima, Gilda Nomacce, Marina Flores, Lilian Blanc, Thiago Carreira, Hugo Villavicenzio
País: Brasil
Gênero: drama, terror
Ano de produção: 2011
Duração: 100 minutos


Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
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