BBBLAH! NO AR! #6 – BIG BROTHER BRASIL 2019

Lohan Lage Pignone

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22 de fevereiro de 2019

Vocês querem ser os nossos vizinhos?”, desafiam os participantes da atual edição do BBB.

BBBlah! no ar! Por hora, vamos no batuque da reforma da previdência, das tragédias nossas de cada dia… o resto são outros carnavais. Em um universo paralelo, vulgo Projac, há onze indivíduos em confraternização, numa harmonia de dar inveja a Woodstock. Daqui de fora, essa convivência soa absurda, digna de fiasco de audiência. Como assim esses seres humanos não estão se devorando pelo prêmio de um milhão e meio de reais? Capitalismo selvagem na veia, mermão! Vil metal! A vida não é para os fracos! Losers! E Blah, Blah, Blah…Zinga! Taí! Por que não admitimos o pacifismo em realities shows?

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Tentando ser o mais imparcial possível, vem comigo nessa reflexão: esse é o BBB com os piores índices de audiência até agora. Ok, natural que seja assim, como já diria o Lulu Santos, afinal, assim caminha a humanidade: como uma onda do mar (ok, chega de Lulu, parei). A internet, o streaming, os games, aplicativos, enfim, há tantas coisas gritando pela nossa atenção ao mesmo tempo que a TV aberta acaba se tornando uma das principais vítimas dessa globalização comunicativa. No entanto, um detalhe tem se observado claro como a luz da lua (sai de mim, Lulu!): a audiência em queda livre devido a pura e simples falta de tretas. É, é isso mesmo. O povo brasileiro é treteiro e isso se confirma cada vez mais. Mas por que, Senhor? Custa viver em paz com seu vizinho? Custa bater palmas para os bons samaritanos do horário nobre?

Lulu Santos / The Voice / Globo / Reprodução

Talvez as pessoas do lado de cá, nós, reles mortais, estejam tão indignadas com as mazelas sociais, com os crimes, os acidentes, as tragédias anunciadas que não são evitadas, com a falta de civilidade, de um modo geral, que poxa… como assim esses caras praticando o deboísmo em rede nacional? Além de estarem privilegiados, férias em tempo indeterminado, longe de todas as notícias bizarras, fora do radar do mundo vasto mundo; ainda concorrem a uma bolada milionária. E sou eu, do lado de cá, que não só engulo como também engasgo com os pães da fornada do diabo, que ainda voto e premio esses caras. A troco de que?

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Eis a questão: o Brasil está sedento por entretenimento. E o entretenimento foi contaminado pelo viés negativista; ficou intrinsecamente ligados ao que se diz polêmico. Se não der polêmica, não entrete. Não existe mais entretenimento positivo nas maiores emissoras de TV aberta do Brasil, salvo exceções. Notem que diversos programas de cunho educacional, com uma pegada mais instrutiva e positiva, foram parar na geladeira das emissoras (pra não dizer lata de lixo). Investe-se pesado em realities como A Fazenda, BBB, Masterchef. As novelas precisam “causar”. Os programas de variedades, em sua maioria, contém alguma competição, sobre algum tema (como exemplo, o programa da Ana Maria Braga, em que sempre rola um concurso de cozinheiros). Competições musicais dominam as audiências. Tudo é competição, uma busca desenfreada por algum prêmio. O público se entrete com as derrotas alheias. E com vitórias ilusórias; afinal de contas, é de se contar nos dedos das mãos as pessoas que se tornaram bem sucedidas graças a terem vencido programas desse cunho. A produção só visa o entretenimento, que visa a audiência, que gera o lucro. Em tempo: um lindo documentário que levanta essa reflexão é o “Won’t you be my neighbor?”, de Morgan Neville, cuja tradução literal é “Você quer ser meu vizinho?”. Vale muito à pena conferir.

Globo / Reprodução

E quando o tiro sai pela culatra, produção? E quando o entretenimento começa a se desconstruir? Recentemente, a participante Paula do BBB soltou uma dessas lá na casa : “a produção deve tá puta com a gente. Desculpa, produção, não estamos fazendo o que vocês queriam”. Ela estava se referindo às correntes que aprisionaram os brothers e que não – até agora – não gerou treta nenhuma. Pelo contrário: parece que tem reforçado o clima fraterno entre eles.

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Paula pode ser o que for: racista, preconceituosa, escrota, whatever. E tudo isso é extremamente recriminável. Mas uma coisa podemos destacar dela: sua visão de além jogo. De burra (como ela própria tenta se pintar) ela não tem nada. Paula soube enxergar essa desconstrução primeiro que todo mundo e tem jogado com isso a seu favor. Ela escracha na cara lavada, debocha da produção, e ao mesmo tempo instiga a produção a correr atrás de novos desafios para movimentar esse game de gatos escaldados. E isso a torna, automaticamente, o entretenimento! É o jogo perfeito para um tabuleiro de xadrez cujas peças não desempacam: apontar o dedo para esse fato sem perder o rebolado da harmonia na casa.

 Pode ser que essa edição do BBB seja um ponto de virada no olhar e na perspectiva do público brasileiro? Pode, por que não? Pode ser que se torne o maior dos fracassos da franquia e dê cabo do programa 4ever no Brasil? É também uma possibilidade, embora remota, afinal, apesar da audiência baixa, ainda rende rios de dinheiro (vide os anunciantes).

E você? Quer continuar espiando? Quer ser vizinho dos moradores da casa mais vigiada do Brasil? Não sei se você se importa com som alto, mas no momento eles, os vizinhos, estão cantando a plenos pulmões:

“Tudo azul
Todo mundo nu
No Brasil
Sol de norte a sul
Tudo bem
Tudo zen meu bem”

Salve, Lulu!

Até a próxima 🙂

Lohan Lage Pignone

Lohan Lage Pignone, 31, é nascido no Rio de Janeiro (RJ) e atualmente reside em Nova Friburgo (RJ). Graduado em Letras (Port./Lit.) pela Universidade Estácio de Sá e pós-graduado em Roteiro para Cinema e TV, pela UVA. Publicou, em 2011, o livro “Poesia é Isso” (Ed. Multifoco). Assinou o roteiro e dirigiu o documentário em curta-metragem “Terra Nova, Friburgo”. Formou-se em Direção (Cinema) pela AIC.
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