Blah Entrevista: Daniel Guimarães [lançando seu primeiro CD autoral]

Thiago Gomes

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20 de março de 2014

O violonista, guitarrista, bandolinista e compositor Daniel Guimarães lança seu primeiro CD autoral “Ensimesmado” onde passeia por composições e parcerias instrumentais dialogando sempre com a música popular Brasileira. São influências fortes no seu trabalho, o choro, a Bossa Nova, a MPB e som característico dos compositores mineiros muito presente na única canção do CD intitulada “Ao que virá”. Daniel utiliza de sua formação acadêmica em MPB na UNI-RIO para direcionar um trabalho de grande qualidade artística. Confira a entrevista com o músico:

Capa do CD "Ensimesmado" (Foto: Divulgação)

Capa do CD “Ensimesmado” (Foto: Divulgação)

BLAH CULTURAL: Quando e como começou o seu interesse pela música?

Daniel Guimarães: Eu nasci em Petrópolis, mas fui criado em Angra dos Reis. Na infância comecei a ter aulas de música e parei várias vezes, aquela coisa de não ser muitos especializado no meu gosto musical, eu queria aprender mais rock, aí entrava num conservatório… ficava um pouco parado… Fui começar mesmo com 14 anos. Um primo meu de Belo Horizonte foi passar férias em Angra dos Reis e ele tocava Beatles, Guns and Roses, começou a me ensinar ai de lá engrenei, em Angra mesmo eu tive aula com um professor amigo do meu pai, eram aulas informais, não sabia a teoria, mas tocava lendo aquelas revistinhas da época e ai ainda cheguei a ter aula com um guitarrista que era muito bom de lá de Angra, o Rodrigo Porto. Comecei a transição do violão para a guitarra. Fui morar em Belo Horizonte em 1994, lá que comecei a estudar mais, tive outro professor de guitarra, fiz um curso de musicalização, foi muito legal lá no conservatório mineiro, enfim, fui me envolvendo. Cursava psicologia, minha pretensão era de ser músico profissional mas ai fui me envolvendo até que depois de 4 anos, decidi ir para o Rio de Janeiro, tentar fazer faculdade de música, estava com muita saudade de casa, de Angra dos Reis, mas ir para Belo Horizonte foi algo muito importante, era uma referência muito forte na minha música também e ai aqui no Rio comecei, fiz faculdade de MPB na UNI-RIO.

BC: Como foi a sua formação musical? Qual a importância da faculdade de música no seu trabalho?

Daniel Guimarães: Conheci muitas pessoas, a minha formação foi sempre tendo professores particulares e na faculdade foi uma base mais ampla, uma coisa mais musical, do que focada no instrumento, acho que foi legal também, apesar de eu sentir uma carência de estar estudando mais, mas eu achei a faculdade muito interessante, então resumindo foi isso: Angra, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, são as minhas 3 cidades, assim, musicais de formações . Na verdade fazia faculdade de psicologia, mas comecei a me envolver tanto com música que acabou virando a coisa principal e comecei a escutar Lô Borges, Milton Nascimento, Toninho Horta, foi uma grande descoberta, e o Rio foi muito legal conviver com os músicos. Quando vim para o Rio pude conhecer muita gente que também estava compondo, uma época muito legal, chegada ao Rio em 1998. Eu entrei para licenciatura, mas acabei mudando para MPB, eu até sinto não ter concluído a licenciatura porque acho que é um curso muito bom, muito completo, só que eu era muito preguiçoso , eu tinha muito aquela cabeça de querer um curso de música que fosse nos modelos americanos, gostava muito de guitarra, então um curso muito voltado para a prática. Mas eu acho bom o curso não ter sido muito prático justamente porque eu acho que ele me trouxe coisas que pelo meu interesse não procuraria que foram importantíssimos e estruturais. Que é essa coisa de estudar Harmonia, estudar percepção, eu acho que se talvez se fosse seguir a minha cabeça ia ser um guitarrista desse padrão de estudar tudo na guitarra e no mundo ser super limitado e lá a gente estuda um pouco de tudo.

daniel guimarães entrevista 3

Foto: Divulgação

BC: Como foi a escolha do repertório e o processo de gravação?

Daniel Guimarães: 1° CD e eu falo que foi um álbum de dar várias cabeçadas, errei em várias coisas, o processo de gravação, de entendeu, talvez num próximo disco eu tenha maturidade maior, porque eu já tinha gravado antes, mas nunca tinha participado de um processo de mixagem, masterização. Hoje em dia talvez eu procurasse fazer um registro, uma gravação num lugar legal com, equipamento legal e me preocuparia menos com mixar e masterizar, e eu fiz um registro, gravei meio descompromissado e depois eu quis corrigir muita coisa na mixagem e masterização . Eu acho que não é muito o caminho para a musica ficar orgânica e bonita, foi muito legal e foi tudo sozinho. Eu gravei no Saci Estúdio, era o estúdio do Fernando Silva. Troquei um baixo por 120h de estúdio, foi legal para podermos fazer o disco todo. Não tenho uma vivência muito grande com gravação, monto uma coisa em casa, mas gravo mal, então assim nunca me aprofundei, então é uma coisa que fico sempre me cobrando, mas ai eu fiz na casa de amigos umas guias mas tive que regravar no Fernando e ai algumas músicas fui desenvolvendo de última hora, algumas músicas eu já tinha prontas e ai foi isso, a partir das guias eu fui gravando e muitas coisas fui tendo ideia la na hora mesmo. O Interessante foi que logo depois que gravei o disco eu fui participar de uma gravação de um disco de um amigo que foi la em Belo horizonte, eles chamaram os músicos excelentes, um estúdio muito grande com equipamentos ótimos e eu percebi que todos os músicos já estavam prontos e vi que deu muito certo, o som ficou lindo e a salas tinham um ambiente muito bom.

Foto: Divulgação

Foto: Divulgação

BC: Por que o nome “Ensimesmado”?

Daniel Guimarães: Esse nome tem muito haver com a época em que eu fazia faculdade, quando eu fiz essa música e era um momento, uma época da minha vida muito introspectivo, inclusive a capa eu queria uma coisa meio difusa, meio abstrata que lembrava esse período, inclusive na época de faculdade eu era uma pessoa muito reservada. Sempre uma pessoa comunicativa, conhecendo muita gente, tinha esse universo muito é meu, assim , de ficar no quarto, curtindo esse momento, então, eu acho, eu gosto do nome, acho um nome bonito, essa coisa de que você ta voltado pra você, mas ai eu achei um nome legal, até tem um amigo meu que fala que esse nome não dá certo de jeito nenhum, ele falou que o nome é meio down, podia dar uma ideia de um disco meio depressivo, mas eu penso por um outro lado, eu penso nessa coisa da profundidade, é uma música que eu gravei só no violão, então tem essa coisa de só eu participando. È um disco que eu acho musicalmente, eu tenho uma coisa assim, muito para dentro, tenho uns amigos que são guitarristas de Rock, eu vejo o Rock, ele demanda uma atitude para fora, a pessoa se mostra, se expõe, eu acho que eu tenho uma relação muito que a minha música não tem essa coisa, ela é uma música mais ying, tem muito a ver com a música que eu ouvi também. Nessa época do disco eu ouvia muito, esse disco já tem uns 4 ou 5 anos, assim que eu gravei, ouvia muito Guinga, Toninho Horta, e muito esses músicos da gravadora ECM que eu adoro, aquela gravadora alemã, é um tipo de música que assim, não tem essa característica tão para fora e assim, é uma coisa mais intimista, gosto muito de pouca nota, pausas, não é uma musica assim muito visceral, eu acho que isso também tem um paralelo legal essa influencia que eu tenho muito de Minas, Minas tem essa música mais etérea, assim, o Rio por exemplo tem uma música pro chão, uma música que tem muito a ver com a personalidade do carioca também. Eu penso muito na música mineira assim, é uma música que tem uma melodia pura e ingênua na frente, com uma harmonia meio maliciosa, uma coisa mais complexa por trás, mas o que chega antes que a melodia é algo que a gente processa bem, parece que tem essa malandragem de você trabalhar a harmonia por trás ali de sofisticar, mas as melodias em si são muito simples, eu gosto as vezes de dá um clima com harmonia, mas a coisa é muito ingênua, pura.

BC: O CD tem participação do Leo Amoedo… você já tocou com Jam Dummé. Qual a sua relação com esses musicos? Eles são de alguma forma uma influência pra você?

Daniel Guimarães: O Leo, na verdade, O Leo Amoedo, ele, a esposa dele é de Angra, então quando o Leo morava ainda na Europa ele veio a Angra 2 vezes e eu tocava num grupo muito legal de musica brasileira que foi uma grande escola para mim, de aprender sobre musica brasileira. Uma vez o Leo tocou e agente gravou la onde a gente ensaiava como uma coisa de curtição, como uma coisa muito forte, que ele era um músico que tocava sempre para valer, tudo que você ouvia dele parecia que estava pra ser gravado num disco, eu lembro que foi uma coisa muito marcante que eu quis começar , eu toco de uma maneira as vezes muito experimental , assim, se erra errei, eu acho interessante você mentalizar que você quer ao tocar, falar, vou tentar tocar até o final ou vou tentar tocar como se eu tivesse gravando, isso ficou muito dele, ai a gente se encontrava , eu peço muitos conselhos a ele. Numa dessas ocasiões pedi pra ele ouvir o disco e dizer o que achava e ele como sempre foi super atencioso, ele é uma pessoa muito bacana. O Jam, também tem esse coração, maravilhoso, uma pessoa super bacana, conheci ele em Angra também através de uns amigos, e em Angra teve uma coisa muito legal, até que eu agradeço a ele no disco, porque ele é uma pessoa que sempre me incentivou muito, falava : sua música tem uma coisa legal, você tem que registrar. Ai eu tive uma oportunidade de ir a Europa para tocar com ele e foi uma experiência que nessa ida foi uma coisa muito importante porque eu vi que fiz uma apresentação lá e as pessoas queriam adquirir o meu trabalho, mas eu não tinha nada, então foi aquela coisa de quando você se tocar e pensar que precisa ter algo para divulgar, preciso fazer meu trabalho, já é o momento. Então eu penso no Jam muito em me incentivar. Então a grande gravação que eu fui a Belo Horizonte com grandes músicos foi com o Jam e assim, foi uma experiência muito legal, porque também me deu uma referência de como se funciona uma gravação, trabalhei ao vivo num estúdio, nunca tinha feito, então são pessoas muito legais, pessoas muito generosas, são fontes de inspiração, o Jam ficou amigo mesmo, a gente está sempre trocando figurinhas, ele adora o Brasil, fala que tem uma paixão pela música brasileira, as pessoas, o samba, ele é como um brasileiro de lá.

Foto: Fernando Silva / Divulgação

Foto: Fernando Silva / Divulgação

BC: Você já gravou com outros artistas?

Daniel Guimarães: Com o Jam eu gravei um bandolim, primeira vez que gravei com músicos desse nível. Tinha o Marcio Bahia, o Paulo Russo, então foi uma coisa muito legal. Geralmente eu tenho gravado e trabalho de amigos da minha geração mesmo, então, o Gustavo Melo, que tocava num grupo que eu gostava muito, que era o Trava Língua que era um grupo que eu acompanhava muito, enfim, o Felipe Machado que é meu parceiro de composição, gravei no disco dele, eu gravei. Eu adoro isso, mas com artistas renomados eu não tive oportunidade.

BC: Qual a diferença entre participar de um trabalho de um outro músico, você como um colaborador, e esse trabalho “Ensimesmado” e a sua composição?

Daniel Guimarães: Eu acho que eu me ponho realmente no lugar assim de entender o que a música daquele compositor está pedindo. Eu toco de uma maneira mais funcional. No meu trabalho eu já dou uma liberdade de experimentar, fazer certas brincadeiras, ousar mais. Porque é uma coisa de exercitar sempre muito, porque eu nunca fui muito assim, ontem eu tava conversando com um amigo sobre fazer trabalho pros amigos porque eu tenho uma tendência a pensar muito em composição e arranjos, mas muito da minha cabeça, e eu acho muito legal quando você consegue ter os dois e também conseguir emprestar o seu lado de instrumentista para um trabalho específico, que algo muito focado, muito mais pontual e é um lado que eu tenho começado a desenvolver mais. Eu queria ser os dois, tanto compositor, mas também, poder trabalhar por questões de trabalho e eu acho que eu não trabalho tanto como eu deveria, pros outros, assim, acompanhando, porque é engraçado que eu passei tantos anos mergulhado no meu mundo para poder compor que quando eu vou trabalhar para os outros eu sempre acho que não estou preparado para a maneira certa, eu sei tocar as minhas coisas, mas é algo que estou quebrando, que eu vejo que é muito legal e sempre importante.

BC: Quais os seus planos para o futuro? O que as pessoas podem esperar pra 2014?

Daniel Guimarães: Faremos o lançamento do CD no SESC de Belo Horizonte no próximo dia 22 de março no SESC Paladium. Estão todos convidados! Maiores informações no meu site ou no link sobre o evento.

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