Blah Entrevista: Emílio Dantas, o Cazuza do musical ‘Pro Dia Nascer Feliz’

Thiago Gomes

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11 de fevereiro de 2014

O ator e cantor Emílio Dantas encarna o cantor e compositor Cazuza no musical Pro Dia Nascer Feliz, em cartaz no Theatro NET Rio. Depois de alguns trabalhos como ator em novelas, filmes e uma participação no musical do Rock in Rio, o artista tem a responsabilidade de representar nos palcos um ídolo de várias gerações. Ele nos recebeu no camarim do Teatro pouco antes de entrar em cena.

BLAH CULTURAL: É a primeira vez que você atua como um protagonista?

EMÍLIO DANTAS: Num musical sim. Já tinha feito dois filmes como protagonista: o “Léo e Bia”, do Oswaldo Montenegro, e o “Teus olhos meus”, do Caio Só e esse é o 3° trabalho como protagonista. Mas no teatro musical essa é a minha primeira vez como protagonista.

BC: Você já fez música, teatro, TV, cinema… como lida com todo esse tipo de arte? Tem preferência por alguma?

ED: Tenho: cinema. Cinema é muito bom, o ambiente mais legal de trabalho. Porque como o cinema é feito com muita grana e você tem a possibilidade de fazer sem muita grana, coisa que não acontece com todos os outros meios. Por que o teatro, invariavelmente, você tem que pagar uma diária, gasta-se muito. TV só funciona com grana e ela é feita pela grana. TV é uma máquina. A música não dá grana, então você não tem saída. O cinema, de certa forma, tem como fazer sim. Se tiver a câmera na mão, a ideia na cabeça e muitos amigos, você tem como fazer. Então o cinema acaba forçando as pessoas que estão no projeto a estarem todos inseridos realmente com satisfação e entrega para fazer aquilo acontecer. Então o ambiente do cinema é muito mais bacana por isso. Você tem desde o eletricista até o montador de cena, todos eles muito envolvidos com tudo, todos trabalhando ali. No teatro, às vezes, você tem que contratar uma pessoa e ela nem sabe a história da peça. TV, então, nem se fala, a galera muitas vezes não está tão inserida assim, é uma coisa mais burocrática. Um maquiador, um eletricista, no caso, não acompanha, não está sabendo.

Emílio Dantas "fora do personagem" (Foto: Divulgação)

Emílio Dantas “fora do personagem” (Foto: Divulgação)

BC: O Cinema tem um ambiente mais artístico?

ED: Acho que todos são muito artísticos, mas o cinema é mais prazeroso. Fica gravado para sempre. Você batalha pra acertar uma cena e quando você acerta aquilo está feito pra história.

BC: Como é a união de atuar e cantar no musical?

ED: É um sonho. Eu sou músico desde os 15 anos e a música sempre foi a minha paixão. Quando eu comecei a atuar, percebi que essa era a vertente que ia me dar uma boa remuneração, que eu poderia chamar de profissão. E então, infelizmente, eu teria que dar uma afastada da música, que virou um hobby. A maioria dos papeis que eu peguei estavam envolvidos com música. Então, de certa forma, eu me sinto um sortudo. Indiretamente a música vem abrindo muitas portas em atuações para mim, se mantendo presente a todo momento.

BC: Seu início foi pela música, ai você tocou em bandas, fez teatro… como foi essa transição?

ED: Essa transição foi acidental. Fui fazer um teste como músico pro Oswaldo Montenegro e uma peça dele. Aí, ele me aprovou como ator. Ele falou pra ler o texto, pra ver como fica. Nós gostamos, então comecei a atuar. A peça se chamava “Aldeia dos Ventos”.

BC: Como foi pegar o papel no musical do próprio Cazuza?

ED: Foi um teste em que eu me preparei vendo muitos vídeos do Cazuza. Fui meio desanimado pois não tenho nada a ver com o Cazuza. Quando cheguei lá havia vários Cazuzas, pessoas realmente parecidas, com a voz do cantor. Com bandanas, óculos, cabelo enrolado, com roupas no estilo dele. Aí eu pensei em entrar com o espírito dele. Deu certo. Fiz duas cenas e acabou dando certo.

Emílio Dantas encarnando Cazuza (Foto: Divulgação)

Emílio Dantas encarnando Cazuza (Foto: Divulgação)

BC: Você já ouvia Cazuza antes?

ED: Não, eu não ouvia. Eu escutava pelo acaso.

BC: O Cazuza viveu numa época do final do regime militar, quando o sexo ainda era pouco comentado na mídia. Com a questão da AIDS, ele revelou que estava com o vírus. Ele foi um personagem importante para quebrar alguns tabus com relação a sexualidade numa época em que as letras tinham um certo grau de subjetividade e hoje a gente vive um mundo mais tecnológico. Como você vê essas duas eras antagônicas em termos artísticos? Tem gente que acha que as músicas de hoje em dia deveriam ter mais conteúdo. Você concorda?

ED: Eu acho que podemos abordar várias questões. A informação de quando ele viveu é uma. Eu acho que as pessoas vivem a sua época. Eu acho que ele foi genial em relação a época em que viveu e o que conseguiu produzir através disso, seja pela questão da doença. Acho que, na verdade, a doença só deixou Cazuza um pouco mais consciente de que existiam coisas mais sérias para se falar. Até foi uma coisa que nós colocamos na peça que ele disse: “ Eu não quero mais falar só sobre amores românticos, eu quero falar da minha geração”. Ou seja, a AIDS foi um marco da geração, foi tipo a praga daquele momento. E poderia ter sido outra coisa, mas foi só algo que trouxe uma visão mais realística, mais concreta para o artista. Então, ao invés de falar dos amores e tudo mais, ele resolveu focar no que era sério e o fez brilhantemente. Agora, acho que as pessoas que falaram que viveram na época errada, o saudosismo, isso vai acontecer sempre, até porque estamos vivendo num momento em que ‘matematicamente’ a música está indo para um lugar sem mérito. Se eu não me engano, vi até uma pesquisa que dizia na época que, matematicamente, a partir de 2010, as estruturas quanto as combinações de notas, tons e semitons não seriam mais inédiitas. Não existiria mais nada inédito. Fora que a música mudou de figura há muito tempo. Hoje a música é trilha, você tem a trilha pra correr, tem a trilha para um churrasco, existe uma gama de sites e downloads, tudo gratuito. A partir do momento em que tudo fica gratuito, a nossa emoção passa a ser também gratuita, tirando um pouco do valor que tinha antigamente. Hoje em dia eu vejo uns amigos meus que baixam 500 álbuns e escutam 5, porque não tem emoção. Essa onda de viver uma época errada é só uma falta de referência de identificação que o público tem hoje em dia. A gente não tem mais com quem se identificar a mais nada de original . Antigamente existia uma gama maior de caminhos para se produzir algo brilhante. Hoje em dia a gente pena para fazer algo brilhante. Estamos indo para um lugar onde toda alta tecnologia e todo o avanço e a grandiosidade das coisas não nos toca mais. Estamos buscando os velhos arquétipos, sentimentos mínimos… as músicas que emocionam são as que tem menos notas, menos instrumentos etc. Estamos buscando sempre o cru, o simples.

O Barão Vermelho em sua formação original na peça (Foto: Divulgação)

O Barão Vermelho em sua formação original na peça (Foto: Divulgação)

BC: O que você acha dos Musicais? Qual a importância deles para a música e para o teatro?

ED: A importância é toda. Eu acho muito importante a gente usar a história brasileira pra se falar dos nossos ícones. Acho que com essa busca de se contar a história dos nossos ídolos conseguimos também uma nova linguagem um pouco diferente, um jeito brasileiro de se fazer musical. Você tem muitos adolescentes consumindo as músicas do Cazuza, da Elis Regina, do Tim Maia mas não conhecem as história deles e o musical traz isso para eles. Não que não se interessem, mas a quantidade de informações disponíveis na internet faz com que não foquemos na história desses artistas. Então como as pessoas tem poucos artistas para se identificar hoje em dia então, acho interessante que se conheça a história deles.

BC: Já acompanhei alguns depoimentos de pessoas que viveram com o Cazuza e que assistiram à sua performance. O Ney Matogrosso e a Lucinha Araújo, por exemplo. Como você encara isso, já que de certa forma está no início da sua carreira e já está sendo elogiado por ícones na MPB e pela própria mãe do Cazuza?

ED: Para mim é uma honra ouvir isso tudo, muito mais por serem pessoas próximas ao Cazuza, que é uma pessoa que eu estou representando. Ter o aval deles como amigo do Cazuza é mais importante do que como grandes ícones da MPB. Eles são grandes ícones pelo que fizeram e ainda fazem, mas não pelos elogios que eles me dão. Então esse reconhecimento para mim serve como uma afirmação de que eu estou no caminho certo no meu trabalho. Pela vivência que eles tiveram do que propriamente pela obra deles. Tanto que, por exemplo, a Lucinha é uma figura pública, não é um ícone da MPB, mas é uma mulher que faz muito pelas crianças, para a sociedade Viva Cazuza, faz muito pelo bem estar público. Por exemplo, o Serginho que foi um dos namorados do Cazuza, que não é conhecido, mas que acrescentou muito para a gente. O Seu Campos, que serviu o Cazuza no Guanabara. Ontem, a Tereza, que era a empregada do cantor, nos contou altas histórias. Então assim, todas essas opiniões contam muito. Essa é a grande parada dos elogios, das criticas e das opiniões, de quão próximas essas pessoas foram do Cazuza.

BC: Você tem algum projeto fora o musical? Algum projeto futuro ou paralelo?

ED: Nada, não dá tempo para nada, só para dormir. Meu projeto é ter cada vez mais tempo para poder pensar em alguma coisa.

BC: Algum projeto solo, alguma banda?

ED: Não, não. Eu tenho projetos para voltar a fazer shows, mas como uma coisa realmente comercial, aproveitar esse momento pra fazer shows, para atender essa demanda, para botar músicas do Cazuza que eu gostaria de cantar e que não estão no espetáculo . Gostaria de fazer com músicas que eu gosto, que tem a ver comigo, de voltar pra música. Talvez agora seja uma chance de fazer isso com prazer e ganhando.

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Cazuza – Pro Dia Nascer Feliz, O Musical, está em cartaz no Theatro NET Rio, até o dia 23 de fevereiro. O musical, em seguida, fará temporada em São Paulo. Confira abaixo o serviço e a ficha técnica do espetáculo e não deixe de conferi-lo.

SERVIÇO:

Cazuza – Pro Dia Nascer Feliz, O Musical

Quando: Quintas e sextas, às 21h; sábados, às 18h e 21h30; Domingos, às 20h
Onde: Theatro NET Rio (sala Tereza Rachel) – Rua Siqueira Campos, 143 – Copacabana/RJ
Quanto: Plateia e frisas – R$ 150 | Balcão – R$ 100*
Classificação: 14 anos
Duração: 150 min (incluindo intervalo de 15 min)

* Direito à meia entrada: Menor ou igual à 21 anos; Idosos com 60 anos ou mais; Aposentados; Professor da rede pública municipal; Estudantes; Cliente Net (até 4 ingressos por sessão); Cliente O Globo (até 2 ingressos por sessão); Portador de Necessidades Especiais; Classe artística com DRT (até 1 ingresso por sessão).

FICHA TÉCNICA:

Texto: Aloísio de Abreu
Direção Geral: João Fonseca
Produção Geral: Sandro Chaim
Direção Musical: Daniel Rocha
Supervisão Musical: Carlos Bauzys
Preparador Vocal: Felipe Habib
Coreografias: Alex Neoral
Cenário: Nello Marrese
Figurino: Carol Lobato
Visagismo: Juliana Mendes
Design de luz: Daniela Sanches e Paulo Nenem
Design de som: Gabriel D´Angelo
Elenco: Emílio Dantas, Osmar Silveira ou Bruno Narchi (Cazuza)
Atores convidados: Susana Ribeiro (Lucinha Araújo), Marcelo Várzea (João Araújo), André Dias (Ezequiel Neves)
Com: Fabiano Medeiros (Ney Matogrosso), Yasmin Gomlevsky (Bebel Gilberto), Thiago Machado (Frejat), Bruno Fraga (Maurício Barros), Bruno Narch (Serginho), Bruno Sigrist (Guto Goffi), Saulo Segreto, (Dé Palmeira), Dezo Mota (Caetano Veloso), , Juliane Bodini (Swing feminino), Oscar Fabião (Swing masculino), Osmar Silveira (sub Cazuza e Swing masculino) e Sheila Matos (sub Lucinha e Swing feminino)

Apresentado pelo Ministério da Cultura
Realização: Miniatura 9, Chaim XYZ Produções
Patrocínio: Sulamérica, Sem Parar e Mills

Thiago Gomes

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