Com referências a ficções clássicas, ‘Mulher com Brânquias’ é uma obra de autoaceitação que mistura fantasia e realidade

Wilson Spiler

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6 de agosto de 2018

Rita, um simples professora universitária, de repente, começa a ter visões de uma realidade paralela, como se estivesse o tempo todo mergulhada num aquário. Em casa, no trabalho ou na rua, ela se vê rodeada por seres aquáticos e especialmente pelo “grande peixe”, uma criatura fantasmagórica que a persegue, mas que ninguém mais enxerga. Como se não bastasse, sua pele é tomada por escamas aos poucos, de forma dolorida e fantástica. Quando brânquias surgem em seu corpo, isso pode significar o início (ou o fim) de uma jornada.

Não, não estamos falando de um filme de terror ou uma obra de ficção-científica. A ideia central de Mulher com Brânquias está baseada em duas frentes: a criação de uma mulher-monstro (fantasia) e o enfrentamento com um passado familiar com grande influência no presente da protagonista (realidade). Essas duas premissas misturam o real com o imaginário, criando cenas em que esses elementos se confundem e se conectam.

A protagonista, Rita, passa por processos de autodescoberta que a forçam a mudar suas crenças. Por essa razão, a figura do peixe foi a escolhida para representá-la, considerando que, em muitas sociedades, o peixe significa renovação e acesso às zonas profundas do nosso inconsciente. Esse simbolismo permeia toda a história. A transformação da Rita em um monstro é principalmente uma metáfora às transformações pelas quais todos passam, físicas e psíquicas. E essas transformações ocorrem, geralmente, quando os medos mais profundos são enfrentados. As escamas e as brânquias representam a necessidade de adaptação aos novos ambientes e situações inesperadas. Além disso, simbolizam um questionamento sobre a aceitação do próprio corpo. Às vezes, as pessoas se sentem feias e fora do padrão por serem diferentes da maioria, mas aquilo que as torna bonitas é exatamente o que as faz diferentes.

Mulher com Brânquias explora as heranças comportamentais entre gerações, as relações familiares, o medo da morte, o poder dos nossos pensamentos, a dificuldade de autoaceitação. Certamente você vai se deliciar com esse livro muito bem escrito por Patrícia Baikal. Ao que gostam de uma ótima literatura, podemos usar como referências obras clássicas, como “Frankenstein” (Mary Shelley), “Metamorfose” (Franz Kafka), “A Casa dos Espíritos” (Isabel Allende) e “Moby Dick” (Herman Melville). O livro já está disponível em e-book.

Sobre a autora:

Patrícia Baikal foi criada em Uberlândia/MG e mora em Brasília/DF. É autora dos livros “Mariposa” (2015) e “Mulher com brânquias” (2017), ambos lançados de forma independente. Tem contos publicados na internet, como “Onde se morre todos os dias” e “O computador-escritor”. Foi finalista dos prêmios literários Darcy Ribeiro (2014) e Campos do Jordão de Literatura (2015).

Patrícia Baikal (Foto: Divulgação)

Wilson Spiler

Will, para os íntimos, é jornalista, fotógrafo (ou ao menos pensa que é) e brinca na seara do marketing. Diz que toca guitarra, mas sabe mesmo é levar um Legião Urbana no violão. Gosta de filmes “cult”, mas não dispensa um bom blockbuster de super-heróis. Finge que não é nerd.. só finge… Resumindo: um charlatão.
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