Conversas com Meu Pai | Montagem consagrada em São Paulo estreia em curta temporada no Rio

Wilson Spiler

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9 de outubro de 2014

Reconhecida por montagens como “Hysteria”, “Hygiene” e “Arrufos” – todas com o Grupo XIX de Teatro, do qual é co-fundadora com Luiz Fernando Marques – a atriz paulista Janaína Leite completa 20 anos de trabalho trazendo ao Rio novo capítulo de sua pesquisa sobre documentário cênico. Depois da bem-sucedida montagem “Festa de Separação” (narrativa inspirada no próprio divórcio e encenada junto com o ex-marido em cena), agora Janaína Leite encena o solo Conversas com Meu Pai, texto e direção de Alexandre Dal Farra, que estreia nesta quinta-feira (9/10), às 21h, no Mezanino do Espaço Sesc, em Copacabana. A montagem foi consagrada por crítica e público em São Paulo e teve ótima acolhida no Festival de Londrina (Filo). Depois da temporada no Rio, a peça segue para o Centro Cultural São Paulo, onde fica em cartaz de 24 de outubro a 14 de dezembro.

Conversas com Meu Pai começou a surgir em 2004, ano em que ‘Seu’ Alair, pai de Janaína, fez uma traqueostomia e perdeu a fala. Iniciaram-se as conversas por bilhetes, frases soltas, diários, que perfazem mais de 500 folhas de anotações, além de 60 horas de áudios e vídeos captados por ela e pelo cineasta Bruno Jorge. ‘Seu’ Alair veio a falecer em 2011. O acervo começou a ser trabalhado por Alexandre Dal Farra, ganhando nova perspectiva e a forma do solo que estreou no início deste ano em São Paulo.

Além do espetáculo teatral, contemplado em 2012 com o Proac para pesquisas em artes cênicas, Janaína Leite conquistou o mesmo prêmio para realizar um livro-documentário, em andamento, e ainda o edital de audiovisual da secretaria de Cultura de São Paulo para desenvolvimento do roteiro de um longa-metragem. A experiência do espetáculo gerou um campo de pesquisa ao qual Janaina Leite vem se dedicando, tanto na vertente acadêmica através de sua pesquisa na pós-graduação na ECA-USP – desenvolvendo estudo sobre o autobiográfico no teatro – quanto nos domínios da pesquisa prática em suas criações e na orientação de diversos cursos e oficinas.

No Mezanino do Espaço Sesc, o público é recebido num círculo pela atriz, que reúne a todos para contar um segredo. Num segundo momento, a atriz faz uma autocrítica e desconstrói a narrativa da cena anterior para, ao final, resgatar as memórias. É então que o segredo anunciado na primeira parte pode ser desvendado.

O cenário-instalação contém o público e é contido por uma espécie de floresta aonde ficam todos os resquícios de pesquisa do espetáculo e da vida real. Duas dúzias de plantas, que variam de um metro a dois metros e meio de altura, formam a moldura do lugar. Vez por outra, Janaína entra numa piscina plástica cheia d’água, mudando focos da história e também trocando de figurino. Num telão ao fundo, as projeções captadas entre 2004 e 2011 embalam as idas e vindas entre realidade e ficção. São apenas 55 espectadores por sessão.

O pai de Janaina saiu de casa quando ela tinha 15 anos. Alguns anos depois, ele foi diagnosticado com um câncer na laringe, e só então, eles se reaproximaram. Em março de 2005 ele teve de ser submetido a uma traqueostomia e nunca mais voltou a falar. Alair Pereira Leite faleceu em outubro de 2011. “A reaproximação entre meu pai e eu só se deu quando ele já não podia mais falar. Finalmente conversamos as conversas que nunca tínhamos tido antes. Passei a recolher, ainda sem saber para que fim, esses fragmentos, resíduos das tardes que passávamos juntos, sentados numa mesa de bar, pescando, ouvindo um disco na vitrola. Tinham as conversas e tinham os silêncios”, lembra a atriz.

SERVIÇO:

“Conversas com Meu Pai”

Estreia: Dia 9 de outubro, às 21h,
Temporada: De quinta-feira a sábado às 21 horas e domingo às 20h – Até 19/10
Onde: Mezanino do Espaço Sesc (Rua Domingos Ferreira, 160. Copacabana – RJ)
Quanto: R$ 20 e R$ 10 (R$ 5 para associados do Sesc)
Capacidade: 55 lugares
Duração: 65 minutos
Classificação etária: 14 anos
Bilheteria do Espaço Sesc: Terça a domingo das 15h às 21h | Vendas antecipadas no local Pagamento só em dinheiro
Mais informações: (21) 2547-0156

Wilson Spiler

Will, para os íntimos, é jornalista, fotógrafo (ou ao menos pensa que é) e brinca na seara do marketing. Diz que toca guitarra, mas sabe mesmo é levar um Legião Urbana no violão. Gosta de filmes “cult”, mas não dispensa um bom blockbuster de super-heróis. Finge que não é nerd.. só finge… Resumindo: um charlatão.
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