Cowboys 2021 crítica do filme

‘Cowboys’, uma aventura entre pai e filho sobre tolerância

Ana Rita

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8 de outubro de 2021

A intolerância com pessoas trans ainda é algo muito forte e presente em nossa sociedade, temos o Brasil como exemplo de país que mais mata pessoas trans e travestis no mundo. Sabemos que o cinema é um dos meios de mostrar outras realidades, rompendo com estereótipos e até preconceitos.

Escrito e dirigido por Anna Kerrigan, o filme Cowboys conta a história de Joe (Sasha Knight), uma criança que se assume transexual, e tem dificuldades no relacionamento com a mãe, Sally (Jillian Bell), na aceitação da sua identidade de gênero, ao contrário do pai, Troy (Steve Zahn), que dá suporte, apoio e compreende  o filho. Nesse conflito com a mãe, Joe e Troy acabam entrando numa aventura em busca de liberdade.

Antes de qualquer coisa, é importante que entendamos que devemos sempre respeitar as diferenças. Não é mais do que obrigação que usemos os pronomes de forma corretamente ao se dirigir às pessoas, correspondendo à identidade de gênero que ela se identifique, seja trans ou não-binária. No filme, Joe é um menino, sendo assim, seus pronomes são ele/dele. E é deste modo que irei me referir a Joe, mesmo nos momentos antes de se ‘assumir’ para o pai.

Pai e Filho

Um dos pontos mais belos do filme, certamente, é a relação entre Troy e Joe, entre pai e filho. O processo de aceitação é um conflito forte em famílias de LGBTQIA+ e o modo como Troy trata e cuida do filho aquece o coração. É mais do que  o desenvolvimento de convivência entre pai e filho. São amigos e vemos o quanto o personagem de Steve se preocupa com Joe, mesmo com seus problemas com álcool.

Ao contrário da mãe, que se mostra intolerante, não entende e nem aceita a identidade de gênero com a qual Joe se identifica, Troy é o ponto que tenta resolver e proteger o filho.

Aceitação

A cena na qual Joe conversa com o pai e assume ser um menino é emocionante. Mesmo com frases e diálogos que podem soar ‘clichês’ para alguns quando se fala de se assumir, nesse caso, um menino trans, como “não estou confuso”, ou no momento em Joe diz ao pai: “eu estou no corpo errado, entende? Eu sou um menino!”, contribuem para um diálogo didático, compreensível, e consegue ter a carga dramática necessária para a cena.

Essa conversa se inicia simples, com Joe pedindo a ajuda do pai para que fale com Sally  sobre não usar mais vestidos. Troy chega a dizer que Joe é tomboy, mas a criança afirma que tomboy é outro tipo de menina, e Joe é uma.

Dentro da narrativa, caubóis e aliens se fazem presente na conexão entre Troy e Joe. São as histórias e os temas que unem pai e filho. E é um modo bem interessante de expressar o que Joe sente em relação a sua identidade de gênero. Diz que, às vezes, acha que alienígenas o colocaram em um corpo de menina para caçoar dele.

A partir daí, a ligação de pai e filho se torna mais forte e o companheirismo é mais presente. Troy busca ajudar Joe a se sentir bem, usar roupas e elementos que quer, que são justamente objetos rotulados em nossa sociedade como de um homem.

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Conservadorismo

O conflito que permite o ponto de partida para a construção  da narrativa acontece após a não aceitação da mãe em relação a Joe se identificar como um menino. Então, depois da separação dos pais, durante uma briga  por ser Sally não aceitar o  filho, Joe corta os seus cabelos compridos e a mãe dá um tapa em seu rosto. Por isso, o garoto ameaça fugir com Troy.

Pai e filho entram na caminhonete e ensaiam fugir, mas como Troy já tinha sido preso, Sally ameaça chamar a polícia e dizer que foi um sequestro. Nesse momento, o pai promete voltar para pegar o menino, e temos a fuga dos dois que resultará nessa aventura com muitos conflitos.

O filme Cowboys é ambientado em um interior bem conservador dos Estados Unidos. Em uma das festas em família, quando Joe ainda usava vestido rosa, usava um cabelo comprido, vestimenta identificada como do gênero feminino, notamos o desconforto e a tristeza da criança. Joe se sente sufocado. Aquela não é ele.

Troy nota a tristeza da criança, tenta alegrar, reverter a situação. Mesmo não imaginando do que se tratava, percebemos a intolerância e a imposição de Sally sobre Joe, resultando muitas vezes em atos egocêntricos.

Ser menino

O longa é bem perspicaz em captar de forma natural o que seria “ser  homem” na sociedade em que Joe e sua família estão inseridos. Como durante uma ida ao  boliche da família, na qual a câmera foca em elementos que são simbólicos do gênero masculino. Bigode e a fivela do cinto, por exemplo. Objetos que nossa sociedade rotulou como “coisa de homem”. É nesse universo que Joe está inserido, e é aquilo com o que se identifica.

Em uma ida à escola, a primeira coisa que Joe faz é trocar de roupa. Esse simples elemento que padroniza gêneros nessa sociedade conservadora, o liberta de certo modo. É quando ele pode usar aquilo com o qual o seu gênero se identifica, é quando se sente bem, quando se sente o próprio Joe.

Muitos filmes já retrataram ou vem retratando pessoas trans. Seja no seu processo de transição, como A Garota Dinamarquesa, por exemplo; ou então uma mudança de cidade de uma adolescente trans, como Alice Junior. Mas poucos se atentam a necessidade e obrigação de não praticar o transfake. O filme brasileiro citado  Alice Junior e o que falo em questão, Cowboys, compreendem a importância de usar atores trans para interpretar personagens trans.

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Caubóis e Western

Como eu já citei, caubói é um tema que conecta pai e filho no longa. E é também mais um elemento definido como de homens e meninos. Além do cenário de uma cidade do interior dos Estados Unidos com essa cultura forte, a direção faz uso de uma trilha sonora típica de produções de faroeste, os western, o que cria uma ambientação de aventura, como nos filmes do gênero, e também aumentam o clima de tensão.

Quando Joe e Troy fogem, Sally aciona a polícia e denuncia o sequestro ‘da filha’. Então, detetives partem para investigar e expõem fotos dos dois para que possam ser identificados pela população. Enquanto ainda estão foragidos, o jovem vê no jornal a sua foto e a de seu pai. Ambos estão de chapéu e roupa de caubói, e o pai diz para o filho não se preocupar, pois agora são os “bandidos”, tal qual acontece nos filmes de caubóis.

Enfim, com várias reviravoltas, conflitos, o filme Cowboys se encerra com um heroísmo de Troy perante o filho, e o início da aceitação de Sally com a identidade de gênero de Joe, trazendo uma emocionante história sobre respeito, tolerância e caubóis.

Onde assistir ao filme Cowboys?

A saber, o filme Cowboys está disponível para compra e aluguel nas plataformas digitais Claro Now, Amazon, Vivo Play, iTunes/Apple TV, Google Play e YouTube Filmes a partir desta sexta-feira, 8 de outubro de 2021.

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Trailer

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Cowboys: elenco do filme

Steve Zahn
Jillian Bell
Sasha Knight
Ann Dowd

Ficha Técnica do filme Cowboys

Título original do filme: Cowboys
Direção: Anna Kerrigan
Roteiro:
Anna Kerrigan
Data de estreia do filme Cowboys: sex, 08/10/21
País: Estados Unidos
Gênero: drama
Duração: 86 minutos
Ano de produção: 2020
Classificação: a definir

Ana Rita

Piauiense, nordestina e estudante de Arquitetura, querendo ser cinéfila, metida a crítica e apaixonada por cinema, séries, arte e música. Siga @trucagem no Instagram!
8
Créditos Galáticos

Créditos Galáticos: 8

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