CRÍTICA | ‘Fitzcarraldo’ deve ser apreciado e consumido lenta e respeitosamente

Italo Goulart

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24 de maio de 2016

Uma linha ferroviária que sai de algum lugar para lugar nenhum, uma fábrica de gelo no meio de uma floresta tropical e um navio que passa por cima de uma montanha. Tudo isso para construir o maior Teatro de Opera da região amazônica.

O diretor Werner Herzog, conhecido pela ambição e improbabilidade, mostra, nesse filme, que de fato os sonhos podem se tornar possíveis, mesmo que seja preciso mover montanhas, literalmente. Em mais uma parceria com o ator Klaus Kinski (Aguirre, a cólera dos deuses,1972), Herzog nos entregou em 1982 um clássico atemporal, não só pela grandiosidade da produção, mas também pela qualidade técnica dessa obra prima do Novo Cinema Alemão, da qual Herzog era simpatizante, mas não se considerava um membro convicto.

Brian Sweeney Fitzgerald (Klaus Kinski), conhecido pelos nativos como Fitzcarraldo por não conseguirem pronunciar o nome corretamente, grande fã da opera europeia em especial do tenor Enrico Caruso. Tem o sonho de construir o maior teatro de opera de Iquitos (cidade peruana onde se passa o longa), no meio da floresta amazônica, junto de sua musa e amada amante Molly, dona do bordel da cidade, financiadora de seus sonhos e companheira inseparável.

Conhecido como o “Conquistador do Inútil” por seus recentes fracassos ao tentar construir uma linha férrea que falhou miseravelmente, a Transandina, e por atualmente investir numa fábrica de gelo, artigo nada prático em meio à selva, tenta agora explorar uma área a qual ganhou autorização do governo e entrar no ramo dos grandes empresários da região, a extração de borracha.

Para realizar seu objetivo de exploração e ficar rico o suficiente para construir o teatro, Fitzcarraldo planeja encurtar a rota usada por todos, mas, para isso, deve que passar um navio sobre uma montanha, para evitar mortais corredeiras que impedem o trajeto e cruzar com uma tribo de índios mortais.  E esse é o ponto máximo, tanto do filme, como do sonho de nosso protagonista. fitz2

Klaus Kinski nos entrega um protagonista superestimado, mas que acaba conquistando por sua luta para realizar o sonho, mesmo que, com isso vá aos poucos sendo consumido por sua ambição e desejo, quase beirando a loucura.

No elenco, também temos a ilustre presença dos brasileiros Milton Nascimento, como porteiro do teatro, Grande Otelo, um dos guardiões do fracassado projeto da Transandina e José Lewgoy, um dos barões da borracha. Milton Nascimento faz um papel bem rápido, nada marcante, já Grande Otelo representando o seu próprio personagem por si só caricato, rouba a cena quando aparece. José Lewgoy tem um dos papéis de destaque do filme, sendo um dos amigos de Fitzcarraldo.

Um filme simples, franco, grandioso em sua fórmula e aplicação de sua mensagem. Herzog foi contra tudo e contra todos para a produção de seu filme mais ambicioso e desacreditado para sua época. Por negar o uso de efeitos especiais, Herzog usou da mesma formula de seu sucesso anterior Aguirre, levando toda a equipe técnica, atores e mais centenas de nativos para o meio da floresta por meses a fio, enfrentando vários contratempos, inclusive acidentes que mataram membros de sua equipe. O filme tem em todo seu progresso, o ar documental que não só é típico dos longas do diretor, como é justo, levando em consideração que todo, ou quase todo o esforço mostrado no filme é real, desde o corte de parte da relva até a passagem do navio sobre a montanha.

Fitzcarraldo fala, antes de tudo, de seguir seus sonhos e de fazer o impossível para conquistá-los, mesmo que, às vezes, sendo sua sanidade posta à prova, não desiste do que mais lhe anseia.

Em época de filmes feitos em estúdios com o máximo de efeitos especiais possíveis, a remasterização desse clássico é um deleite para os amantes da sétima arte.

Fitzcarraldo não é um filme para ser entendido, mas um filme para ser apreciado e consumido lenta e respeitosamente, assim como é o desenrolar da história.

FICHA TÉCNICA
Título original: Fitzcarraldo
Distribuição: Zeta Filmes/ FJ Cines
Data de estreia: qui, 19/05/16
País: Alemanha, Peru
Gênero: aventura
Ano de produção: 1982
Duração: 155 minutos
Direção: Werner Herzog,
Elenco: Klaus Kinski, Claudia Cardinale, José Lewgoy

Italo Goulart

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