CRÍTICA | 4ª temporada de ‘Rita’: o eterno retorno

Giselle Costa Rosa

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22 de janeiro de 2018

A quarta temporada da série dinamarquesa Rita pode ser vista como uma fábula do eterno retorno de Nietzsche, ou seja, tudo que você já viveu, viverás inúmeras vezes o prazer e o desprazer, a dor e o deleite, a alegria e o sofrimento em um loop. Pesadelo? Talvez.  Dizem que isso só termina quando quebramos um ciclo. E cá entre nós: como é (quase) impossível quebrá-lo, ou seria aceitá-lo?

Um novo emprego leva Rita, vivida pela atriz Mille Dinesen, de volta para a cidade onde ela cresceu para lecionar. Flashbacks vão revelando aos poucos sua conturbada vida pessoal e acadêmica, dando conta de alinhavar os fatos que foram constituindo a personalidade de Rita. Os dois primeiros episódios são meio cansativos e não prendem tanto. É quando a relação da protagonista com a amiga de infância Lea começa a ser delineada que a série fica mais interessante. A partir desse momento, começamos a entender as origens do modo de ser da professora. A adolescência – e suas vivências – deveras deixa marcas (boas e ruins) que acabam definindo nosso modo de estar e interagir no mundo.

A escolha de ir permeando a história com flashbacks elucida, mas deixa meio cansativo. Mille Dinesen dá o ar de cansaço necessário à personagem. Consegue transparecer toda a falta de perspectiva e ânimo diante da vida. Menos sedutora que nas temporadas anteriores, o jeito de ser de Rita segue mexendo com homens e mulheres em seu caminho.

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Rita e sua amiga de infância Lea

Na nova etapa profissional de Rita, a fiel escudeira Hjørdis, também professora, segue os passos de sua amiga. Dando aula no mesmo lugar, ela acaba sendo meio que rechaçada por Rita que faz a linha loba solitária, durona e sedutora. E, como de costume, visto nas outras três temporadas, Rita, faz a diferença em termos de ensino e acolhimento dos alunos. Mas não é perfeita e um ato mal calculado acarreta em problemas com Lea que, além de sua antiga amiga de infância, é mãe de um de seus alunos. Esses fatos acabam servindo de base para mostrar mais adiante a virada da personagem, o novo Eu de Rita.

Problemas abatem a escola que periga de ser fechada e, concomitantemente, os fantasmas do passado de Rita voltam para atormentá-la. O evento ocorrido em 1985, que causou o rompimento entre Lea e Rita, finalmente é revelado. Ela se vê posta diante da destruição de uma vida estável e mais feliz. Agora é a hora em que a protagonista tem que fazer sua escolha: seguir murmurando ou fazer algo realmente relevante pra si e pros outros?

O eterno retorno no final das contas pode ser visto como uma saída que consiste em buscar a criação na destruição; acolher o que te ocorre, aceitando o que não pode ser mudado e mudando aquilo que se pode. Resignar-se diante dos fatos recorrentes e seguir em frente. Muitos chamam de amadurecimento. Finalmente vemos Rita florescer.

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Giselle Costa Rosa

Integrante da comunidade queer e adepta da prática da tolerância e respeito a todos. Adoro ler livros e textos sobre psicologia. Aventuro-me, vez em quando, a codar. Mas meu trampo é ser analista de mídias. Filmes e séries fazem parte do meu cotidiano que fica mais bacana quando toco violão.
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