CRÍTICA | ‘A Madeline de Madeline Madeline’ é psicossomático e sensorial

Giovanna Landucci

|

2 de novembro de 2018

A Madeline de Madeline (Madeline’s Madeline) agradará a poucos, não por sua história ou porque seja ruim, pelo contrário, é ótimo filme, mas a maneira como foi construído, como a câmera passeia pelas cenas, como foi contada a história pode gerar estranhamento e diversas sensações que serão quase que sinestésicos.

42ª Mostra de SP: CRÍTICA | Segredos deixam nervos à flor da pele no intrigante ‘La Quietud’

O espectador será convidado a participar sensorialmente desse longa-metragem nada convencional. Com roteiro e direção feitos por Josephine Decker, A Madeline de Madeline é psicossomático e lida com diversos sentimentos, sensações e pensamentos da personagem.

42ª Mostra de SP: CRÍTICA | ‘Sofia’ retrata a consequência de polêmica lei no Marrocos

Com boas atuações, o elenco formado por Helena Howard, Molly Parker e Miranda July surpreende positivamente principalmente nas cenas de coreografias de balé, que misturam imitações de animais e sincronia de movimentos entre todos. Planos fechados de câmera na mão acompanham os movimentos e o olhar da filmagem acaba muitas vezes se tornando um personagem-observador, que é detalhista e minucioso nas captações de sensações através de sons externos muito bem mixados e amplificados, que passa a sensação de se estar dentro da tela. O longa traz sensações claustrofóbicas e uma certa labirintite pela quantidade de movimentações no espaço que faz e o tipo de enquadramento dado, que também amplia as imagens.

42ª Mostra de SP divulga vencedores: ‘Todas as Canções de Amor’ ganha prêmio de melhor filme

Foto: Divulgação

Sobre a peça teatral e grupo de balé, às vezes, Madeline é um gato, por vezes, uma tartaruga. Quando é ela própria, é muito difícil distinguir se interpreta um papel de si mesma e se aquilo tudo é real ou um sonho. A mãe de Madeline é uma mulher ansiosa que enxerga na sua filha uma adolescente fragilizada e vulnerável  que possui um distúrbio mental do qual sua mãe tem medo que fuja do controle. Madeline toma medicações e requer vigilância constante e acompanhamento médico. O palco é sua válvula de escape, de onde se vê livre de sua mãe e pode colocar para fora suas frustrações no personagem que encarnou. O espetáculo cênico é dirigido por uma exigente professora chamada Evangeline, que muitas vezes é imprudente em suas escolhas de interpretações para a jovem e, com certeza, abusa de poder que exerce sobre ela e de suas sensações para se utilizar na peça.

42ª Mostra de SP: CRÍTICA | ‘Todas As Canções de Amor’ resgata sentimentos através da música

Podemos dizer que a conturbada adolescente é a força da natureza. Uma mistura de epifania com sonho. Uma junção entre a personagem e a personificação dela em sua vida que acabam se misturando e sendo uma só. A Madeline de Madeline constantemente deixa o espectador em uma nuvem confusa sobre separar o real do imaginário. Onde está a mente de Madeline? O que realmente está acontecendo com ela? Porque Madeline age assim, muitas vezes como um animal? A cabeça dela funciona de um jeito diferente das demais pessoas. Um filme com um final onde a experiência se integra ao experimento para vir a se tornar executador.

*Filme visto na 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Título original: Madeline’s Madeline
Direção: Josephine Decker
Elenco: Helena Howard, Miranda July, Molly Parker
Distribuição: Mostra de SP
Data de estreia: em breve
País: Estados Unidos
Gênero: drama
Duração: 90 minutos
Ano de produção: 2018
Classificação: 16 anos

Giovanna Landucci

Publicitaria de formação, sempre gostei de escrever. Apaixonada por filmes e séries, sim, posso ser considerada seriemaníaca, pois o que eu mais gosto de fazer é maratonar! Sou geek principalmente quando falamos de Marvel e DC. Ariana incontestável, acho que essa citação de Clarice Lispector me define "Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa, ou forte como uma ventania. Depende de quando e como você me vê passar." Ah, como é de se notar pela citação, gosto de livros e poesia também.
O que sabemos sobre Wicked Boa noite Punpun Ao Seu Lado Minha Culpa Lift: Roubo nas Alturas Patos Onde Assistir o filme Lamborghini Morgan Freeman