CRÍTICA | ‘Black & White’ já vale a pena por trazer à tona temas que o brasileiro evita

Giovanna Landucci

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15 de agosto de 2018

Black & White é uma história fictícia e criada a partir de pesquisas realizadas pelo diretor Tristan Aronovich. O filme se passa em São Paulo, no bairro do Brás. Segundo o diretor, o projeto é pautado na discussão do tema preconceito. Para chegar neste objetivo, escolheu focar no crescente número de adeptos ao neonazismo no Brasil. E é a partir daí que se dá o encontro da história real de Johan Mengel, que se torna um personagem da ficção proposta pelo diretor com o restante do elenco que dá vida ao longa.

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Por trás de um assassino pode haver intenções grandiosamente malignas como, por exemplo, os serial killers, que se alimentam do pavor de suas vítimas e da não saciedade que encontram em sua ausência de sentimentos. Porém, há outros assassinos que não agem por essa lógica, e estes são os chamados crimes passionais. Os crimes passionais, muitas vezes, são movidos por uma ideologia, seja ela qual for. No caso deste filme, que retrata o neonazismo presente no Brasil, e mais precisamente em São Paulo, os crimes são de ódio racial ou ideológico, pautados na religião e em uma supremacia branca.

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O filme é baseado na história de um grupo de neonazistas investigado por uma espécie de célula do FBI, interpol e similares. Alguns dados sobre nazismo e neonazismo presentes no filme são surpreendentes. Seja por desconhecimento dessa realidade ou até mesmo por não querer acreditar que haja tanto preconceito, homicídio e ódio pautados em diferenças sociais, religiosas e raciais no mundo. Os discursos contidos no filme que beiram o absurdo e a ignorância foram desenhados a partir das visitações que Tristan fez com a equipe técnica por estes núcleos em São Paulo, buscas de discursos da Arians Brothers e outras pesquisas acadêmicas de livros e documentários sobre o tema.

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Black & White é rodado inteiramente em preto e branco para trazer as nuances de escalas de cinza e colocar todos os personagens no mesmo patamar. A coloração traz o conceito de que não há por que ter preconceitos se todos somos iguais perante a Deus, perante as leis. Os olhos dos atores traduzem uma ausência de emoção, mas ao mesmo tempo um ódio que reverbera até na projeção da voz. Falo dos crimes que chocam a maioria das pessoas, mas que para eles são exercícios da soberania da raça branca, da religião de Cristo, e isso é demonstrado a todo o momento. Paralelamente a isso, temos planos estáticos, captados com esmero de artesão e uma monocórdia narração em off que dita os interrogatórios que reforçam esta sensação.

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Essa vontade de recriar o cinema em sua mais pura essência compensa até uma série de defeitos da produção, como o roteiro meio bagunçado e atuações abaixo da média. As falas são um pouco forçadas e, às vezes, demarcadas. Há também motivações não muito inspiradas, diálogos mal trabalhados e algumas elipses que não se encaixam perfeitamente, mas isso fica de lado diante da sensação de dever cumprido.

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Os sentimentos provocados por Black & White são de uma inquietação crescente que não se desfaz nas horas seguintes após assistir ao filme. O mal, conforme mostrado por Aronovich, mora ao nosso lado e frequenta os mesmos lugares. Não tem rosto ou forma própria. De qualquer jeito, ainda que seja simples chegar nisso, o longa vale a pena por estender a discussão sobre o tema que as pessoas costumam se esquivar. Depois que as luzes se acendem, conseguir fazer com que uma obra seja responsável por trazer à tona temas que o brasileiro evita já é uma vitória completa.

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::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Direção: Tristan Aronovich
Roteiro: Tristan Aronovich
Produção: Luciana Stipp
Elenco: Tristan Aronovich, Chad Christopher, Marjo-Riikka Makela, Amanda Maya, Eric Sherman
Duração: 92 minutos
Ano: 2015

Giovanna Landucci

Publicitaria de formação, sempre gostei de escrever. Apaixonada por filmes e séries, sim, posso ser considerada seriemaníaca, pois o que eu mais gosto de fazer é maratonar! Sou geek principalmente quando falamos de Marvel e DC. Ariana incontestável, acho que essa citação de Clarice Lispector me define "Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa, ou forte como uma ventania. Depende de quando e como você me vê passar." Ah, como é de se notar pela citação, gosto de livros e poesia também.
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