Cézanne e Eu (1)

CRÍTICA | ‘Cézanne e Eu’

Alvaro Tallarico

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4 de julho de 2019

O que dizer de uma amizade tão especial entre dois artistas talentosos? Cézanne e Eu (Cézanne et Moi) é um filme que conta a história do pintor Paul Cézanne e do escritor Émile Zola.

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A trama

O longa-metragem francês começa já intercalando belas imagens de coisas diversas com materiais de pintura. É como a vida, oscilando entre a rotina e a arte. Afinal, viver o cotidiano também pode ser considerado uma forma de arte, certo? Porém, o dia a dia desses dois não é lá muito comum.

Ainda garoto, o novo aluno Émile Zola começa a sofrer bullying dos colegas e quem vai ajudar é nada mais, nada menos, do que o garoto Paul Cezanne. Neste momento começa uma “amizade eterna”, permeada por mulheres, bebidas, brigas… e arte, claro.

Cézanne – feito com coração por Guillaume Gallienne – é rico, vive bem em uma mansão, sempre com boa comida e entrando em conflito com o pai devido à sua vontade de ser artista, enquanto Zola – vivido por Guillaume Canet, que consegue fornecer as nuances pedidas pelo personagem – é pobre e mora com a mãe, tem que catar pintinhos perdidos na rua, em dias de chuva, para que tenha algo para comer. “Consegui três hoje, mãe”. A discrepância entre suas criações é bem explorada e parte extremamente relevante em suas escolhas. Paul é um boêmio rebelde e Zola ambiciona ascensão social.

Cézanne e Eu (2)

Belas imagens

Os atores, aliás, conseguem trazer verossimilhança para essa amizade cheia de intimidade. Há, sobretudo, uma abundância de belíssimas tomadas ao ar livre, muitas delas em Aix-en-Provence, onde Cézanne busca inspiração em meio à exuberante natureza. Temos muitas alusões a algumas pinturas famosas daquele período, tanto nos diálogos quanto em várias cenas. Em especial, a obra-prima de Manet, “Le Déjeuner sur l’Herbe” (O almoço sobre a relva ou O piquenique no bosque, em português).

Ao longo de Cézanne e Eu, o espectador é convidado a vivenciar uma outra época, o fim do século 19, e o mundo artístico, seguindo o crescimento desses dois em busca de reconhecimento para suas respectivas artes, sempre se ajudando de alguma forma. Ademais, o que seria das pinturas de Cézanne sem o apoio de Zola? E como seriam os livros de Zola sem a convivência com Cézanne? É como se um precisasse do outro, uma simbiose. Nesse meio tempo temos Gabrielle (a charmosa Alice Pol), admirada de longe pelo tímido Emile, mas que cai nos braços do atirado Paul. Um triângulo amoroso clássico.

Engraçado dar de cara com reflexões importantes sobre amizade. Por exemplo: muitas vezes as pessoas tendem a julgar os amigos por suas falhas e acabam “preferindo” estranhos que não conhecem. O que é amizade? Talvez seja não ser juiz do outro, mero ser humano como você, crescer junto, em uma troca constante de aprendizado. Fica uma lição pairando. A de que no amor a traição até pode ser perdoável, mas na amizade não. Há controvérsias. Quem pode te ferir mais do que um amigo? Conhece suas tristezas e fraquezas e pode te machucar como nenhuma outra pessoa.

Cézanne e Eu (4)

Sensibilidade e genialidade

A amizade… nem mesmo a força do tempo pode destruir? Só que tem que ser de verdade. Entramos assim em outra reflexão, o que é verdade? Entre amigos, muitas vezes, é onde mais existe inveja e despeito, o que acaba conduzindo a caminhos tortuosos. Em outras tantas, seu único apoio, a mão que te tira do precipício. Como toda relação humana, é complicado.

Paul Cézanne segue lutando até o fim de sua vida pelo reconhecimento de suas pinturas, sofre, é grosseiro com todos ao seu redor, onde jorra suas frustrações. A amizade de Paul e Emile é chacoalhada com força com a publicação do romance A Obra, de Zola, o qual pinta Cézanne como um “perdedor patético”. O pintor segue vendo Zola como um ingênuo bobo romântico tímido, adjetivos que contrariam sua persona literária brutal e crítica à realidade social.

Seria Cézanne um gênio abortado? Não. Sua visão vai além do que poderiam entender, ele quer mais do que desenhos, deseja “pintar a fluidez do ar, o calor do sol, a violência das rochas”.

Danièle Thompson, escritora e diretora de Cézanne e Eu, conta a história com sensibilidade. Com o mérito de não cair na armadilha de se ater a reverenciar os dois gênios. Além disso, nos presenteia com pinceladas sublimes sobre as diferenças entre os seres humanos, a arte e dois amigos tão diferentes.

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Título original: Cézanne et Moi
Direção: Danièle Thompson
Roteiro: Danièle Thompson
Elenco: Guillaume Canet, Guillaume Gallienne, Alice Pol
Distribuição: Bretz Filmes
Data de estreia: qui, 04/07/19
País: França
Gênero: biografia
Ano de produção: 2016
Duração: 114 minutos
Classificação: 14 anos

Alvaro Tallarico

Jornalista vivente andante (não necessariamente nessa ordem), cidadão do mundo, pacifista, divulgador da arte como expressão da busca pela reflexão e transcendência humana. @viventeandante
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